O Bodhisattva Kashyapa disse ao Buda: “Oh Honrado pelo Mundo! Quando o Bodhisattva ainda não reside no plano imóvel (da loganimidade), mas mantém a pureza, ele poderia, caso surja a ocasião, quebrar os preceitos ou não?”
(O Buda disse:) “Oh bom homem! Quando o Bodhisattva ainda não atingiu o estado do plano imóvel, ele bem pode quebrar os preceitos quando surgir a ocasião.”
Kashyapa disse: “Assim é, de fato! Oh Honrado pelo Mundo! Quem pode ser essa pessoa?”
O Buda disse a Kashyapa: “O Bodhisattva pode ter a oportunidade de transgredir os preceitos se ele sabe que pode realmente fazer outros possuírem os sutras Mahayana, fazê-los gostarem deles, compreenderem, copiarem e exporem-nos amplamente aos outros, e fazerem-nos atingir a Iluminação Insuperável e não retroagirem dela. Em tal ocasião, ele pode transgredir os preceitos. Naquela ocasião, o Bodhisattva pensará: ‘Mesmo embora eu possa cair no Inferno Avichi por um kalpa ou menos, e possa ter que expiar os meus pecados lá, certamente eu farei essa pessoa atingir a Iluminação Insuperável e não retroagir dela’. Oh Kashyapa! Em tais circunstâncias, o Bodhisattva-Mahasattva pode transgredir os preceitos de pureza.”
Então o Bodhisattva Manjushri disse ao Buda: “Qualquer Bodhisattva que encontre essas pessoas, lhes proteja, lhes faça aspirar à Iluminação, lhes faça não retroagir dela e que, para essa finalidade, transgrida os preceitos, não pode cair no Inferno Avichi.”
Nisto, o Buda elogiou Manjushri, dizendo: “Bem falado, bem falado! Eu recordo que em tempos passados eu nasci no Jambudvipa como um grande rei chamado Senyo. Ele amava os sutras Mahayana e os respeitava. Ele era puro e bom, e não havia grosseria nele; nem a inveja, nem a mesquinhez poderiam encontrar qualquer lugar dentro dele. O que provinha dele eram palavras amáveis, palavras que falavam de bondade. Ele sempre protegeu os pobres e os solitários; com ele não havia fim para as doações e para o empreendimento de esforços. Naquela ocasião, não havia um Buda, nem Sravakas e nem Pratyekabudas. Eu, naquela ocasião, amava os sutras Mahayana Vaipulya. Por 12 anos eu servi os Brâhmanes, cuidando de atender plenamente as suas necessidades. Após aquilo, quando a caridade e a paz tinham sido obtidas, eu disse: ‘Oh vocês mestres! Agora vocês deveriam aspirar à Iluminação Insuperável’. Os Brâhmanes disseram: ‘Oh grande Rei! Não existem coisas como a natureza da Iluminação; o mesmo é o caso com os sutras Mahayana. Oh grande Rei! Como é que você deseja nos tornar iguais ao Vazio’? Oh bom homem! Eu, naquela ocasião, respeitava grandemente o Mahayana. Eu ouvi os Brâhmanes caluniando o Vaipulya. Tendo ouvido isto, eu acabei com a minha vida. Oh bom homem! Eu nunca mais caí no inferno em razão disto [isto é, a despeito disto]. Oh bom homem! Quando aceitamos e protegemos os sutras Mahayana, temos inumeráveis virtudes.”
Excerto do Sutra do Nirvana, CAP. 19: Sobre Ações Sagradas 1.
