Sutra de Lótus
Naquela ocasião, emergiu diante do Buda uma Torre feita das sete jóias. Ela media quinhentas Yojanas na altura e duzentas e cinqüenta Yojanas na largura. Ela elevou-se da terra e permaneceu suspensa no espaço vazio, adornada com todos os tipos de objetos preciosos. Possuía cinco mil parapeitos e milhares de miríades de aposentos. Incontáveis estandartes e flâmulas também lhe serviam de adorno. Colares de jóias pediam-lhe enquanto miríades de milhões de sinos cravejados de jóias ficavam suspensos em seu topo. A essência de Tamalapatrachandana exalava por todos os seus quatro lados, perfumando o mundo inteiro. Todos os seus estandartes e dosséis eram feitos das sete jóias: ouro, prata, lápis-lazúli, madrepérola, carnelian, pérolas verdadeiras e ágata; alcançando ao alto o palácio dos quatro reis celestes.
Do Céu Trayastrimsha choveram flores celestiais de Mandarava como um oferecimento à Torre de Tesouro. Todos os seres celestiais, dragões, Yakshas, Gandharvas, Asuras, Garudas, Kinnaras, Mahoragas, humanos, não-humanos e assim por diante, milhares de miríades de milhões deles, fizeram oferecimentos à Torre de Tesouro de todos os tipos de flores, incenso, contas, estandartes, dosséis e música instrumental, honrando-a e louvando-a reverentemente.
Naquela ocasião, uma voz estrondosa foi emitida da Torre dizendo palavras elogiosas: “Excelente! excelente! Shakyamuni, Honrado pelo Mundo, que você seja capaz de, por meio da sua grande sabedoria da não-distinção, pregar para a grande assembléia o Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa[1], uma Lei para instruir Bodhisattvas da qual os Budas são os guardiões e mentores. É como disseste, é como disseste, Shakyamuni, Honrado pelo Mundo, tudo o que disseste é verdadeiro e real”.
Então na assembléia dos quatro tipos de crentes, vendo a grande Torre de Tesouro suspensa no ar e ouvindo a voz que vinha de seu interior, todos obtiveram a alegria da Lei e maravilharam-se com essa ocorrência sem precedentes. Eles levantaram-se dos seus assentos, juntaram as palmas das suas mãos reverentemente e postaram-se a um lado. Nisto, o Bodhisattva Mahasattva chamado Grande Deleite na Pregação, sabendo das dúvidas
que estavam no pensamento de todos os seres celestiais, humanos, Asuras e outros seres de todos os mundos, dirigiu-se ao Buda, dizendo: “Honrado pelo Mundo, através de que causas e relações esta Torre de Tesouro emergiu da terra e produziu este som estrondoso”?
Então o Buda disse ao Bodhisattva Grande Deleite na Pregação: “Dentro desta Torre de Tesouro encontra-se o corpo completo do Tathagata. Há muito tempo atrás, ilimitados milhares de miríades de milhões de Asamkhyas de mundos ao leste, numa terra chamada Pureza do Tesouro, existiu uma Buda chamado Muitos Tesouros. Quando este Buda estava praticando a via do Bodhisattva, ele fez um grande voto dizendo: ‘Após tornar-me um Buda e passar à extinção, se em quaisquer terras das dez direções o Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa for pregado, minha Torre aparecerá lá, tal que eu possa ouvir o Sutra, certificá-lo e louvá-lo, dizendo: Excelente! excelente!’”
“Após aquele Buda ter realizado a Via, quando estava prestes a entrar em extinção, na grande assembléia de seres celestiais e humanos, ele dirigiu-se aos Monges, dizendo: ‘Após a minha extinção, aqueles que queiram fazer oferecimentos ao meu corpo completo devem erigir uma grande Torre’”.
“Aquele Buda, por meio dos seus poderes de penetração espiritual e do seu voto, através dos mundos das dez direções, onde quer que o Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa seja pregado, a Torre de Tesouro contendo seu corpo completo emerge da terra diante daquele que está pregando e exprime louvores, dizendo: ‘Excelente! Excelente!’”.
“Grande Deleite na Pregação! Em razão daquele Buda ter ouvido o Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa sendo pregado, a Torre do Tathagata Muitos Tesouros emergiu da terra com essas palavras de louvor: ‘Excelente! Excelente! ’”.
Então, o Bodhisattva Grande Deleite na Pregação, através do poder espiritual do Tathagata, falou ao Buda, dizendo: “Honrado pelo Mundo, todos nós desejamos ver o corpo deste Buda”.
O Buda disse ao Bodhisattva Mahasattva Grande Deleite na Pregação: “O Buda Muitos Tesouros fez um profundo e solene voto: ‘Quando minha Torre de Tesouro manifestar-se diante dos Budas em razão do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa ser ouvido, se houver quem deseje que eu mostre meu corpo à Assembléia dos Quatro Tipos de Crentes, então os distintos Budas que são emanações daquele Buda, e que estão pregando a Lei nos mundos das dez direções, devem retornar e congregarem-se no mesmo lugar. Após isto, meu corpo aparecerá’”.
“Grande Deleite na Pregação, minhas emanações que estão presentes nos mundos das dez direções pregando a Lei, reunir-se-ão agora”.
Grande Deleite na Pregação disse ao Buda: “Honrado pelo Mundo, nós também desejamos ver as emanações do Honrado pelo Mundo, tal que possamos nos curvar para eles e fazer-lhes oferecimentos”.
Naquele momento o Buda emitiu um raio de luz do seu tufo de cabelos brancos que tornou visíveis os Budas das terras na direção leste, iguais em número aos grãos de areia de quinhentas miríades de milhões de Nayutas de rios Ganges. Todas aquelas terras Búdicas tinham o solo de cristal, e eram adornadas com árvores e mantos de jóias. Incontáveis milhares de miríades de milhões de Bodhisattvas preenchiam-nas. Eles eram cobertos com dosséis e mantos de jóias. Os Budas naquelas terras, com um grande e maravilhoso som, estavam pregando a Lei. Também eram vistos ilimitados milhares de miríades de milhões de Bodhisattvas preenchendo aquelas terras e pregando a Lei para as multidões. Assim foi também na direção sul, oeste, norte, nas quatro direções intermediárias, bem como acima e abaixo, em toda a parte onde a luz do tufo de cabelos brancos resplandeceu.
Naquela ocasião todos os Budas das dez direções dirigiram-se aos seus séqüitos de Bodhisattvas, dizendo: “Bons homens! Devemos agora ir ao mundo Saha, para o lugar onde está o Buda Shakyamuni e fazer oferecimentos à Torre do Tathagata Muitos Tesouros”.
Então o mundo Saha foi transformado numa terra de pureza, tendo lápis-lazúli como solo e adornado com árvores de jóias. Seus oito caminhos foram demarcados com cordas de ouro. Nele não mais havia cidades, vilas, oceanos, rios, córregos, montanhas, talvegues, florestas ou matas. Preciosos incensos eram queimados e flores de Mandarava cobriam completamente o chão. Acima dele esvoaçavam mantos de jóias e em estandartes pendiam sinos cravejados de jóias. Somente aqueles na assembléia permaneceram. Todos os demais foram removidos para uma outra região.
Então todos os Budas, cada qual trazendo consigo um grande Bodhisattva como assistente, chegaram ao mundo Saha e assentaram-se sob uma árvore de jóias. Cada árvore de jóias media quinhentas Yojanas na altura e era adornada com galhos, folhas, flores e frutos. Sob cada árvore de jóias estava um trono de leão medindo cinco Yojanas na altura e adornado com grandes jóias. Então, cada um dos Budas sentou-se na postura de lótus, cada qual no seu próprio trono.
Dessa forma, aos poucos, as terras de três milhões de grandes mundos foram preenchidas, quando ainda nem haviam chegado todas as emanações do Buda Shakyamuni de uma única direção.
Então o Buda Shakyamuni, desejando acomodar as suas emanações, em cada uma das oito direções, transformou duzentas miríades de milhões de Nayutas de terras, purificando-as todas. Elas tornaram-se sem infernos, espíritos famintos, animais ou Asuras. Os seres celestiais e humanos foram removidos para outras terras[2]. Todas as terras por ele transformadas tinham o solo de lápis-lazúli e eram adornadas com árvores de jóias tendo quinhentas Yojanas de altura, decoradas com galhos, folhas, flores e frutos. Sob cada árvore encontrava-se um rico trono de leão com cinco Yojanas de altura e decorado com vários tipos de gemas preciosas. Não havia oceanos, rios ou córregos; nem as montanhas Mucilinda ou Mahamucilinda; nem as montanhas do Círculo de Ferro ou do Grande Círculo de Ferro; e nem o Monte Sumeru ou quaisquer outros tipos de montanha. Todas aquelas terras tornaram-se terras do Buda. A rica terra era lisa e plana, inteiramente coberta com dosséis bordados de jóias e estandartes pingentes. Preciosos incensos eram queimados e preciosas flores celestiais cobriam o chão.
O Buda Shakyamuni, no sentido de prover para os Budas que chegassem um lugar para sentar, novamente transformou em cada uma das oito direções mais duzentas miríades de Nayutas de terras, purificando-as todas. Elas tornaram-se sem infernos, espíritos famintos, animais ou Asuras. Os seres celestiais e humanos foram todos removidos para outras terras. Todas as terras por ele transformadas tinham o solo de lápis-lazúli e eram adornadas com árvores de jóias tendo quinhentas Yojanas de altura, decoradas com galhos, folhas, flores e frutos. Sob cada árvore encontrava-se um rico trono de leão com cinco Yojanas de altura, decorado com vários tipos de gemas preciosas. Não havia oceanos, rios ou córregos; nem as montanhas Mucilinda ou Mahamucilinda; nem as montanhas do Círculo de Ferro ou do Grande Círculo de Ferro; e nem o Monte Sumeru ou quaisquer outros tipos de montanhas. Todas aquelas terras tornaram-se terras do Buda. A rica terra era lisa e plana, inteiramente coberta
com dosséis bordados de jóias e estandartes pingentes. Preciosos incensos eram queimados e preciosas flores celestiais cobriam o chão.
Então, as emanações do Buda Shakyamuni vindas da direção leste, Budas em número equivalente aos grãos de areia de cem mil miríades de milhões de Nayutas de rios Ganges, cada qual pregando a Lei, reuniram-se ali. Da mesma forma, aos poucos, os Budas de todas as demais direções chegaram e reuniram-se ali, tomando seus assentos nas oito direções. Naquele momento, cada uma das direções encontrava-se repleta de Budas, Tathagatas, oriundos de quatrocentas miríades de milhões de Nayutas de terras.
Naquela ocasião, todos aqueles Budas, cada qual sentado num trono de leão sob a árvore de jóias, enviaram um assistente para presentear o Buda Shakyamuni oferecendo-lhe um fardo de flores cada um, ordenando-lhes: “Bom Homem! Vá ao Monte Gridhrakuta, ao lugar onde se encontra o Buda Shakyamuni e indague em nosso nome: ‘O Buda encontra-se livre de doenças e de aflições? Encontra-se forte e tranqüilo? Seus séqüitos de Bodhisattvas e de Ouvintes estão em paz? Então espalhem essas preciosas flores diante do Buda como um oferecimento, dizendo: O Buda fulano-de-tal deseja que a Torre de Tesouro seja aberta’”. Todos os Budas enviaram assistentes assim instruídos.
Então, o Buda Shakyamuni, vendo que suas emanações estavam todos reunidos ali, cada qual sentado num trono de leão, e ouvindo que todos os Budas juntos desejavam que a Torre de Tesouro fosse aberta, imediatamente alçou-se do seu assento ao espaço vazio. Todos os presentes na Assembléia dos Quatro Tipos de Crentes levantaram-se, juntaram as palmas das suas mãos e em pensamento único contemplaram o Buda.
Então, o Buda Shakyamuni, usando o seu indicador direito, abriu a porta da Torre dos sete tesouros, emitindo um grande som como o de uma tranca sendo removida de um grande portão de uma cidade. Dessa forma, todos os presentes na assembléia puderam ver o Tathagata Muitos Tesouros sentado sobre o trono de leão dentro da Torre de Tesouros, seu corpo íntegro e incorruptível como se estivesse em meditação (Samadhi) Dhyana. Eles também lhe ouviram dizer: “Excelente! excelente! Buda Shakyamuni! Pregue logo o Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa! Eu vim aqui para ouvir este Sutra”!
A assembléia dos quatro tipos de crentes, vendo um Buda que passou à extinção há ilimitados milhares de miríades de milhões de kalpas atrás falar dessa maneira, louvou-o como algo sem precedentes, espalhando feixes de preciosas flores celestiais sobre este Buda Muitos Tesouros e sobre o Buda Shakyamuni.
O Buda Muitos Tesouros, na Torre de Tesouro, ofereceu metade do seu assento ao Buda Shakyamuni, dizendo: “Buda Shakyamuni, poderia tomar este assento”? O Buda Shakyamuni então, adentrou a Torre de Tesouro e sentou-se na posição do lótus aberto sobre a metade daquele assento.
Na grande assembléia, vendo os dois Tathagatas sentados na posição do lótus aberto sobre o trono de leão no interior da Torre de Tesouro, todos tiveram esse pensamento: “Os Budas encontram-se sentados tão altos e distantes. Gostaríamos que o Tathagata usasse o poder das suas penetrações espirituais e permitisse-nos a todos residir no espaço vazio[3]”.
O Buda Shakyamuni então, usou seus poderes espirituais e alçou toda a assembléia no espaço vazio. Com uma poderosa voz ele dirigiu-se à Assembléia dos Quatro Tipos de Crentes, dizendo: “Quem, neste mundo Saha, poderá amplamente expor este Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa? Agora é o tempo apropriado, porque o Tathagata em breve entrará no Nirvana. O Buda deseja legar o Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa”.
O Honrado pelo Mundo, desejando enfatizar este significado, falou em versos, dizendo:
“O Senhor Supremo, Honrado pelo Mundo,
embora há muito tempo extinto,
dentro desta Torre de Tesouro,
aqui veio em prol da Lei.
Quem não seria diligente em prol da Lei?
Este Buda tornou-se extinto há incontáveis kalpas atrás e ainda,
em um lugar após outro,
ele vem ouvir a Lei,
porque ela é difícil de encontrar.
No passado este Buda fez um voto:
‘Após a minha extinção,
irei a toda a parte com o propósito de ouvir a Lei’.
Também as minhas emanações,
ilimitados Budas,
iguais em número às areias do Ganges,
aqui vieram desejando ouvir a Lei e para ver o extinto Tathagata Muitos Tesouros.
Deixando de lado as suas terras maravilhosas,
bem como suas assembléias de discípulos,
seres celestiais, pessoas, dragões e espíritos,
e vários oferecimentos,
eles aqui vieram para assegurar que a Lei perdure por longo tempo.
Para prover assento para aqueles Budas,
eu usei meus poderes espirituais para remover incontáveis multidões e purificar as terras.
Cada um dos Budas tomou seu lugar sob a árvore de jóias,
adornada como se fosse o Lótus adornando um claro e límpido lago.
Sob as árvores de jóias,
há tronos de leão sobre os quais os Budas sentam,
adornados com uma luz resplandecente,
como grandes tochas fulgurantes na escuridão da noite.
Seus corpos emitem uma suave fragrância
perfumando as terras das dez direções,
todos os seres, perfumados por ela,
são arrebatados com alegria.
Como um grande vento soprando as pequenas árvores,
através destes meios hábeis,
a Lei é feita perdurar por longo tempo.
Para a grande assembléia, eu digo:
‘Após a minha extinção,
quem poderá proteger e ostentar,
ler, expor e recitar este Sutra’?
Agora, na presença dos Budas,
esta pessoa deverá fazer o seu voto.
O Buda Muitos Tesouros,
embora há longo tempo extinto,
através do seu grande voto,
emite o rugido do leão.
O Tathagata Muitos Tesouros,
bem como eu mesmo,
e os Budas que são emanações aqui reunidos,
desejamos saber esta vossa decisão.
Dentre todos vocês discípulos do Buda,
quem poderá proteger esta Lei?
Façam um grande voto assegurando que a Lei perdure por longo tempo.
Aqueles que puderem proteger a Lei deste Sutra,
estarão assim fazendo oferecimentos para mim e para o Buda Muitos Tesouros.
O Buda Muitos Tesouros,
residindo na Torre de Tesouro,
constantemente viaja através das dez direções,
em prol deste Sutra.
Além disso, aquelas pessoas estarão fazendo oferecimentos para todos os Budas que são emanações aqui presentes,
e que adornam com esplendor todos os mundos (das dez direções).
Se houver quem exponha este Sutra,
essa pessoa então verá a mim,
ao Tathagata Muitos Tesouros,
e a todos os Budas que são emanações.
Todos vocês, bons homens,
pensem a respeito cuidadosamente!
Este é um assunto difícil,
e requer de vocês um grande voto.
Os outros Sutras são numerosos como as areias do rio Ganges,
mas ainda que alguém os expusesse a todos,
isso ainda não deveria ser pensado como algo difícil.
Se alguém tomasse o Monte Sumeru,
e o arremessasse para uma outra terra,
atravessando incontáveis terras Búdicas,
isso também não seria difícil.
Ou se, com um dedo do pé,
alguém chutasse um grande sistema de mundos para terras longínquas,
isso também não seria difícil.
Se alguém permanecesse no Cume do Ser,
e em prol das multidões proclamasse ilimitados outros Sutras,
isso também não seria difícil.
Mas se após a extinção do Buda,
numa era de maldade,
houver alguém que possa expor este Sutra,
isso será difícil.
Se alguém tomasse o espaço vazio em sua mão,
e vagueasse por ai com ele,
isso não seria difícil
Mas se, após a minha extinção,
houver quem copie e ostente-o,
e encoraje outros a copiá-lo,
isso será difícil.
Se alguém pegasse a terra,
a colocasse sobre a unha do seu dedo,
e a carregasse até os céus Brahma,
isso, também, não seria difícil.
Após a extinção do Buda,
na era da maldade,
ler este Sutra mesmo que por um instante,
isso será difícil.
Se, durante o fogo do final do kalpa,
alguém carregasse um fardo de grama seca em sua costa e,
atravessando o fogo não fosse queimado,
isso não seria difícil.
Mas após a minha extinção,
alguém que possa ostentar o Sutra,
e pregá-lo mesmo que para uma única pessoa,
isso será difícil.
Se alguém ostentasse os oitenta e quatro mil repositórios da Lei,
bem como as doze divisões dos sutras,
expondo-os para os outros,
levando todos os ouvintes a obter os Seis Poderes das Penetrações Espirituais,
mesmo que alguém pudesse fazê-lo,
isto não seria difícil.
Mas se, após a minha extinção,
alguém puder ouvir e aceitar este Sutra,
e interrogar sobre o seu significado,
isto será difícil.
Se alguém pregasse a Lei e levasse mil miríades de milhões de ilimitados seres viventes,
incontáveis como as areias do Ganges,
a obter o estado de Arhat e a exercer os Seis Poderes de Penetrações Espirituais,
embora fossem grandes benefícios,
isso não seria difícil.
Mas após a minha extinção,
se alguém puder reverentemente ostentar um Sutra como este,
isso será realmente difícil[4]!
Eu, em prol da Via do Buda,
através de ilimitadas terras,
desde o princípio até agora,
tenho amplamente exposto todos os Sutras,
e em meio a todos os outros,
este Sutra é superior.
Se alguém puder ostentá-lo,
aquela pessoa estará ostentando o corpo do Buda.
Bons homens,
após a minha extinção,
quem poderá receber, ostentar,
ler e recitar este Sutra?
Agora, na presença dos Budas,
façam seu voto.
Este Sutra é difícil de ostentar,
se alguém ostentá-lo mesmo que por um instante,
eu rejubilarei,
bem como todos os outros Budas.
Uma pessoa assim será elogiada por todos os Budas:
‘Isto é coragem!
Isto é diligência,
isto é o que se chama observar os preceitos e praticar Dhutas[5]’.
Essa pessoa obterá rapidamente a suprema Via do Buda.
Se, no futuro,
alguém puder ler e ostentar este Sutra,
essa pessoa será então um verdadeiro discípulo do Buda,
residindo num estado de pureza e benevolência.
E alguém que, após a extinção do Buda,
puder compreender o seu significado,
será como olhos para todos os seres celestiais e humanos no mundo.
Na era do terror,
alguém que possa expô-lo mesmo que por um instante,
será merecedor de oferecimentos de todos os seres celestiais e humanos[6]”.
[1] Na tradução de Kamarajiva para o chinês, este título é MYOHO-RENGUE-KYO, “… uma Lei para instruir Bodhisattvas da qual os Budas são os guardiões e mentores”.
[2] O Buda Shakyamuni purificou as terras das 8(oito) direções tornando-as terras Búdicas. Para isso, as transformou, tornando-as livres dos baixos estados, nomeadamente: inferno, fome, animalidade e ira. Livrou-as igualmente dos estados ilusórios ou intermediários, a saber: tranqüilidade (humanidade) e alegria, correspondendo a seres humanos; e erudição (ouvinte) e absorção (pratyekabuda), estes correspondendo aos seres celestiais. Este capítulo sobre “O Aparecimento da Torre de Tesouro” é, em essência, o início da pregação da Verdadeira Lei, tendo esta sido pronunciada e testemunhada pelo Buda Muitos Tesouros. Por essa razão são purificadas as terras Búdicas das oito direções, pois, o que está para ser pregado é “um ensino para instruir Bodhisattvas”. As emanações do Buda que se encontravam naquelas terras das oito direções, estavam a pregar ensinos provisórios, através dos meios hábeis, para conduzir os seres a este Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa. Os capítulos anteriores a este podem ser vistos como meros expedientes ou meios hábeis também. Agora, o Buda irá revelar a Verdade diretamente para uma assembléia de Bodhisattvas, agora Mahasattvas. Os Budas que são suas emanações, e que vêm dessas terras já purificadas, chegam ao mundo Saha acompanhados apenas de um Grande Bodhisattva, pois, a entrada de um Buda neste mundo pode unicamente acontecer através do Portal do Bodhisattva ou do Grande Veículo. Esse poder de purificar os mundos das oito direções é que fará com que o Buda profetize a iluminação de Devadatta (um ser do estado de inferno) no capítulo seguinte. A compreensão deste poder é que torna a pessoa uma verdadeira devota deste Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa.
[3] O Buda diz em sua preleção sobre “entrar no quarto do Tathagata, vestir o robe do Tathagata e tomar o assento do Tathagata”, que essa última condição (tomar o assento do Tathagata) significa residir no espaço vazio.
[4] Através dessa exposição do que seriam 6(seis) atos difíceis e 9(nove) fáceis, o Buda admoesta a assembléia sobre a dificuldade de propagação do Sutra de Lótus após a sua extinção. Esses seis atos difíceis relativos ao Sutra de Lótus são: 1. expô-lo; 2. copiá-lo e abraçá-lo encorajando outros a fazê-lo; 3. lê-lo mesmo que por um instante; 4. abraçá-lo e expô-lo mesmo que para uma única pessoa; 5. ouvi-lo, aceitá-lo e perguntar pelo seu significado; 6. reverentemente ostentá-lo, honrá-lo e promovê-lo.
[5] “prática dhuta” significa prática ascética, de austeridades e de profundo desapego às coisas deste mundo. Neste contexto, significa também libertar-se completamente, emancipar-se. Nesta passagem o Buda descarta as noções de valor, da diligência, da observação de preceitos e das práticas de austeridades, – todas essas relacionadas com os ensinos provisórios – exaltando unicamente a ostentação do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa como a verdadeira Via do Buda.
[6] Assim, o Buda convoca aqueles dispostos e empreender a difícil tarefa atribuindo-lhes distinções como pessoas já possuidoras de valor, diligência, observadoras de preceitos, discípulo do Buda, olhos do mundo e merecedoras de oferecimentos de todos os seres celestiais e humanos.
N.T. As notas e comentários introduzidos nesta tradução do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa para a língua portuguesa falada no Brasil são da autoria e inteira responsabilidade de seu tradutor Marcos Ubirajara de Carvalho e Camargo.
Que trabalho maravilhoso!
Sou praticante do Budismo Nitiren há 2 anos e esse foi o meu primeiro contato direto com esse capítulo do Sutra de Lótus, pesquisando sobre a Torre do Tesouro para explanação na reunião de palestra do meu bloco.
Parabéns!
Olá Luiza!
Muito obrigado. Mas a minha principal alegria é poder servir àqueles que buscam o caminho. Já fui chefe de bloco em Campinas. Estudava muito para passar o que aprendia para as pessoas que, como eu, procuravam sair da escuridão.
Mas, não pare de procurar. O Sutra de Lótus em sua íntegra é de uma beleza indescritível, é o “Tesouro Secreto dos Budas” como diz o Honrado pelo Mundo.
Grande abraço!
Apareça sempre.
Marcos Ubirajara.
Adorei o que vc escreveu
Olá Nivaldo! Obrigado. Tudo que faço é ecoar os Ditos Dourados do Honrado pelo Mundo. Muita paz e sabedoria para você e sua família. O Budismo é o Grande Caminho.