CAP. 07: A Parábola da Cidade Fantasma

Sutra de Lótus

Sutra de Lótus
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“Tão logo ele sentou-se sobre aquele trono, os reis dos céus Brahma fizeram chover flores celestiais sobre uma área de cem Yojanas. De tempos em tempos, um vento fragrante substituía as flores murchas por uma chuva de flores frescas. Isto continuou sem interrupção por um período completo de dez pequenos kalpas como um oferecimento ao Buda, e aquela chuva de flores continuou a cair até a sua extinção. Da mesma maneira, os seres celestiais dos quatro reinos celestiais tocaram constantemente tambores celestiais como um oferecimento ao Buda, e outros seres celestiais tocaram músicas instrumentais celestiais por um período completo de dez pequenos kalpas, continuando até a sua extinção”.

“Monges, o Buda Vitória da Sabedoria da Grande Penetração passou por dez pequenos kalpas antes que as leis dos Budas finalmente se manifestassem diante dele, e então ele atingiu o Anuttara-Samyak-Sambodhi”.

“Antes que aquele Buda deixasse sua casa ele teve dezesseis filhos, o primeiro deles chamava-se Sabedoria Acumulada. Cada um deles possuía uma variedade de finos brinquedos preciosos e incomuns. Quando eles ouviram que seu pai havia atingido o Anuttara-Samyak-Sambodhi, todos eles deixaram de lado aquelas coisas que eles valorizavam e foram de encontro ao Buda, acompanhados por suas chorosas mães. Seu avô, um Rei Sábio Girador de Roda, seguiu juntamente com uma centena de grandes ministros e com centenas de milhares de miríades de milhões de cidadãos circundando-o e acompanhando-o para o Lugar da Iluminação, todos desejando aproximarem-se do Tathagata Vitória da Sabedoria da Grande Penetração, para fazer-lhe oferecimentos, honrá-lo, reverenciá-lo e louvá-lo. Quando eles chegaram, eles curvaram as suas cabeças até seus pés em saudação, e circundando-o, em pensamento único juntaram as palmas das suas mãos, curvando-se em reverência ao Honrado pelo Mundo, e declamaram estes versos:

‘Honrado pelo Mundo,

de grande e magnífica virtude,

em prol da salvação dos seres viventes,

após ilimitados milhões de kalpas,

vós alcançastes o Estado de Buda,

cumprindo todos os vossos votos;

insuperável é a nossa boa sorte.

Sois muito raro, Honrado pelo Mundo,

tendo sentado por longos dez pequenos kalpas,

com o corpo, mãos e pés tranqüilos,

seguros e imóveis.

Vossa mente sempre aquietada,

nunca deu lugar à distração.

Alcançastes a vossa eterna extinção,

residindo solidamente na Lei sem falhas.

Agora que nós vemos o Honrado pelo Mundo serenamente realizar a Via do Buda;

todos nós obtivemos grandes benefícios,

e proclamamos nosso deleite e grande alegria.

Seres viventes, eternamente atormentados pelo sofrimento,

cegos, e sem um guia,

falham em reconhecer o caminho que põe fim àquelas penas,

e não sabem buscar a sua libertação.

Durante a longa noite os maus destinos multiplicam-se,

enquanto as multidões de seres celestiais reduzem-se em número;

vindos da escuridão, eles prosseguem para a escuridão,

nunca ouvindo o nome do Buda.

Agora, o Buda obteve a paz insuperável,

o descanso, a via sem falhas;

e nós, bem como todos os seres celestiais,

para atingir o supremo benefício,

por conseguinte curvamos nossas cabeças

e oferecemos nossas vidas ao Supremamente Honrado’.

Quando os dezesseis filhos encerraram a sua louvação ao Buda, eles então lhe suplicaram que girasse a roda da Lei, dizendo: ‘Honrado pelo Mundo, pregue a Lei, leve-nos à paz, mostre-nos a compaixão, e beneficie-nos tanto a seres celestiais como a humanos’.

Então, eles falaram em versos, dizendo:

‘Oh! Herói do Mundo,

incomparavelmente adornado com uma centena de bênçãos,

e que atingiu a sabedoria insuperável,

rogamos que a pregue em prol deste mundo para salvar-nos e
libertar-nos,

bem como a todas as classes de seres viventes.

Demonstre-a, pregue-a em detalhes,

e leve-nos a atingir aquela sabedoria;

pois, se nós podemos atingir o Estado de Buda,

outros seres viventes podem fazer o mesmo.

O Honrado pelo Mundo conhece os profundos pensamentos que vão dentro da mente dos seres viventes;

ele conhece os caminhos que eles trilham e a força da sua
sabedoria,

os prazeres e bênçãos que eles têm cultivado,

e todas as ações perpetradas nas vidas passadas.

O Honrado pelo Mundo,

sabendo todas essas coisas,

poderia girar a roda insuperável’?”.

O Buda, Shakyamuni, disse aos Monges: “Quando o Buda Vitória da Sabedoria da Grande Penetração atingiu o Anuttara-Samyak-Sambodhi, em cada uma das dez direções,  quinhentas miríades de milhões de mundos Búdicos tremeram de seis modos diferentes. O vácuo escuro entre aquelas terras, que nem as surpreendentes luzes do sol e da lua poderiam iluminar, tornou-se brilhantemente iluminado, e os seres viventes daqueles mundos puderam ver um ao outro. Todos eles disseram: ‘de onde teriam vindo todos esses seres viventes’?

Além disso, naquelas terras, todos os palácios dos seres celestiais, até todos os palácios Brahma, tremeram de seis formas diferentes. Uma grande luz resplandeceu por toda a parte, iluminando todo o universo e sobrepujando a luz dos céus”.

“Naquela ocasião, nas quinhentas miríades de milhões de terras ao leste, os palácios do Céu Brahma resplandeceram com uma luz duas vezes mais intensa do que seu brilho normal. Cada um dos Reis do Céu Brahma teve este pensamento: ‘agora os palácios estão mais brilhantes do que antes. Qual será a razão para esta manifestação’?”.

“Então, os Reis do Céu Brahma visitaram uns aos outros e discutiram esse assunto. Na assembléia havia um grande Rei do Céu Brahma chamado Salvando a Todos que em meio às multidões de Brahmas falou em versos, dizendo:

‘Todos os nossos palácios estão brilhantes como nunca dantes;

Qual é a razão para isto?

Busquemo-la juntos.

Seria porque um grande e virtuoso deus teria nascido?

Ou seria porque um Buda apareceu no mundo que esta grande luz brilha através das dez direções’?”.

“Naquela ocasião, os Reis do Céu Brahma de quinhentas miríades de milhões de terras, juntos com seus palácios, cada qual com um fardo cheio de flores celestiais, foram para o oeste à procura desta manifestação. Eles viram o Tathagata Vitória da Sabedoria da Grande Penetração sentado no trono de leão sob a árvore Bodhi no Lugar da Iluminação, reverenciado e circundado por seres celestiais, Reis Dragões, Gandharvas, Kinnaras, Mahoragas,
e seres tanto humanos como não-humanos. Eles viram também os dezesseis filhos do rei solicitando ao Buda que girasse a Roda da Lei”.

“Então, os Reis do Céu Brahma curvaram-se com suas cabeças aos pés do Buda, circundando-o uma centena de milhares de vezes, e espalharam flores celestiais sobre ele. As flores formaram uma pilha tão alta quanto o Monte Sumeru, e eles ofereceram-nas ao Buda bem como à árvore Bodhi, que tinha dez Yojanas de altura. Tendo feito oferecimentos de flores, cada um presenteou o Buda com o seu palácio, dizendo: ‘rogamos que nos mostre compaixão, e beneficie-nos aceitando e ocupando esses palácios que lhe oferecemos’! Então os Reis do Céu Brahma, diante do Buda, com pensamento único e com as vozes em uníssono,
falaram versos em oração, dizendo:

‘Honrado pelo Mundo,

sois muito raro e difícil de encontrar;

perfeitamente dotado com ilimitadas virtudes meritórias,

podeis salvar e proteger todas as criaturas.

Grande Mestre de seres celestiais e humanos,

que sois compassivo com todo o mundo,

todos os seres nas dez direções recebem os vossos benefícios.

Nós que viemos de quinhentas miríades de milhões de terras,

deixamos de lado o regozijo do profundo Samadhi Dhyana,

a fim de fazermos oferecimentos ao Buda.

As bênçãos por nós adquiridas nas vidas passadas ornamentam os nossos palácios.

Oferecemo-los agora ao Honrado pelo Mundo,

suplicando-vos que nos mostre piedade e os aceite’”.

“Naquela ocasião, os Reis do Céu Brahma, tendo rogado ao Buda, disseram: ‘Rogamos apenas que o Honrado pelo Mundo gire a Roda da Lei, salvando os seres viventes, abrindo o caminho para o Nirvana’. Então, todos os Reis do Céu Brahma, com pensamento único e as vozes em uníssono, proclamaram esses versos:

‘Herói do Mundo, Honrado Duplamente Realizado,

imploramos apenas que exponha e proclame a Lei,

e através do poder da sua grande compaixão e piedade,

salve os seres viventes sofredores e atormentados’.

Com relação a isso, o Tathagata Vitória da Sabedoria da Grande Penetração assentiu pelo seu silêncio”.

“Oh! Monges, além disso, os grandes Reis Brahma ao sudeste, em número de quinhentas miríades de milhões de terras, vendo seus palácios com um brilho deslumbrante como nunca dantes, saltaram de alegria, pensando sê-lo raro deveras. Eles visitaram uns aos outros e discutiram esse assunto. Então, em assembléia, um Rei do Céu Brahma chamado Grande Compaixão, em meio às multidões de Brahmas falou em versos:

‘Qual é a razão para este evento?

Por que este sinal apareceu?

Todos os nossos palácios estão reluzentes como nunca dantes.

Teria nascido um deus grandemente virtuoso?

Ou teria um Buda aparecido no mundo?

Nunca vimos tais sinais antes.

Com pensamento único,

deveríamos investigá-los,

passando através de mil miríades de milhões de terras,

procurando por esta luz e investigando-a juntos’”.

“Naquela ocasião, quinhentas miríades de milhões de Reis do Céu Brahma, juntos com seus palácios, cada qual com um fardo cheio de flores celestiais, foram para o Noroeste à busca desta manifestação. Eles viram o Tathagata Vitória da Sabedoria da Grande Penetração sentado no trono de leão sob a árvore Bodhi no Lugar da Iluminação, reverenciado e circundado por seres celestiais, Reis Dragões, Gandharvas, Kinnaras, Mahoragas, e seres tanto
humanos como não-humanos. Eles viram também os dezesseis filhos do rei solicitando ao Buda que girasse a Roda Lei”.

“Então os Reis do Céu Brahma curvaram-se com suas cabeças aos pés do Buda, circundando-o uma centena de milhares de vezes, e espalharam flores celestiais sobre ele. As flores formaram uma pilha tão alta quanto o Monte Sumeru, e eles ofereceram-nas ao Buda bem como à árvore Bodhi. Tendo feito os oferecimentos das flores, cada um presenteou o Buda com o seu palácio, dizendo: ‘Demonstre-nos piedade e beneficie-nos aceitando e ocupando esses palácios que vos oferecemos’! Então os Reis do Céu Brahma, diante do Buda, com pensamento único e com as vozes em uníssono, falaram versos em oração, dizendo:

‘Senhor da Sabedoria,

rei entre os seres celestiais,

com o canto da kalavinka,

para vós que sois compassivo com os seres viventes,

curvamo-nos reverentemente agora.

Oh Honrado pelo Mundo, sois extremamente raro,

aparecendo somente após longas eras.

Passou-se em vazio cento e oitenta kalpas,

sem um Buda.

Os três maus caminhos estão repletos.

As multidões de seres celestiais diminuem.

Agora o Buda apareceu neste mundo para atuar como olhos para os seres viventes,

como um refúgio para o mundo,

resgatando e protegendo todas as criaturas,

um pai para todos os seres,

tendo compaixão e beneficiando a todos.

Agora, em razão das bênçãos obtidas nas vidas passadas,

tornamo-nos aptos a nos reunir com o Honrado pelo Mundo’”.

“Naquela ocasião, os Reis do Céu Brahma, tendo rogado ao Buda, disseram: ‘rogamos apenas que o Honrado pelo Mundo tenha piedade de todos os seres e gire a roda da Lei para libertar os seres viventes’. Então, os Reis do Céu Brahma, com pensamento único e vozes em uníssono, falaram em versos, dizendo:

‘Grande Sábio, gire a roda da Lei,

para revelar o verdadeiro aspecto de todos os Fenômenos,

para salvar os seres viventes atormentados,

de tal forma que possam obter grande alegria.

Quando os seres viventes ouvirem a Lei,

eles poderão conquistar o caminho,

ou renascerem nos céus;

os maus caminhos diminuirão,

e os caminhos da paciência e da bondade aumentarão’.

Naquele momento, o Tathagata Vitória da Sabedoria da Grande Penetração assentiu pelo seu silêncio”.

“Oh! Monges, além disso, ao sul, os grandes Reis Brahma de quinhentas miríades de milhões de terras Búdicas, vendo seus palácios com um brilho deslumbrante como nunca viram antes, saltaram de alegria, pensando sê-lo raro deveras. Com referência a isso, eles visitaram uns aos outros e discutiram esse assunto, indagando: ‘Por que nossos palácios resplandecem com essa luz’? Então, na assembléia, um Rei do Céu Brahma chamado Lei Maravilhosa, em meio às multidões de Brahmas, falou esses versos:

‘Todos os nossos palácios resplandecem com um brilho surpreendente;

isto não pode ser sem razão;

deveríamos ir à busca desse sinal.

Em uma centena de milhares de kalpas,

um sinal como este nunca foi visto.

Teria nascido um grande e virtuoso deus?

Ou teria um Buda aparecido no mundo’?”.

“Naquela ocasião, quinhentas miríades de milhões de Reis do Céu Brahma, juntos com os seus palácios, cada qual com um fardo cheio de flores celestiais, foram em direção ao norte à busca daquela manifestação. Eles viram o Tathagata Vitória da Sabedoria da Grande Penetração sentado no trono de leão sob a árvore Bodhi no Lugar da Iluminação, reverenciado e circundado por seres celestiais, Reis Dragões, Gandharvas, Kinnaras, Mahoragas, e seres tanto humanos como não-humanos. Eles viram também os dezesseis filhos do rei solicitando ao Buda que girasse a roda da Lei”.

“Então os Reis do Céu Brahma curvaram-se com suas cabeças aos pés do Buda, circundando-o uma centena de milhares de vezes e espalharam flores celestiais sobre ele. As flores formaram uma pilha tão alta quanto o Monte Sumeru, e eles ofereceram-nas ao Buda, bem como à árvore Bodhi. Tendo feito os oferecimentos das flores, cada um presenteou o Buda com o seu palácio, dizendo: ‘Demonstre-nos piedade e beneficie-nos aceitando e ocupando esses palácios que vos oferecemos’. Então os Reis do Céu Brahma, diante do Buda, com pensamento único e vozes em uníssono, falaram versos em oração, dizendo:

‘O Honrado pelo Mundo é muito difícil de encontrar;

ele que põe fim a todas as aflições.

Passando através de cento e trinta kalpas,

somente agora pudemos vê-lo.

Os seres viventes, famintos e sedentos,

podem ser satisfeitos com a chuva da Lei.

Ele, a quem nós nunca vimos antes,

possuidor de sabedoria ilimitada,

raro como a floração da Udumbara,

hoje, finalmente o encontramos.

Todos os nossos palácios,

recebendo a sua luz,

estão reluzentes e maravilhosos.

Em sua grande compaixão, Honrado pelo Mundo,

rogamos que os aceite e habite-os’”.

“Naquela ocasião, os Reis do Céu Brahma, tendo rogado ao Buda, disseram: ‘rogamos apenas que o Honrado pelo Mundo gire a roda da Lei, fazendo com que o mundo inteiro com seus seres celestiais, Maras, Brahmans, Shramanas, enfim, todos se tornem pacíficos, calmos e alcancem a libertação’. Então, os Reis do Céu Brahma, com pensamento único e vozes em uníssono, falaram versos em oração, dizendo:

‘Supremamente Honrado entre seres celestiais e humanos,

rogamos que gire a insuperável roda da Lei.

Faça soar o tambor da Lei,

e ressone a grande concha da Lei;

faça cair por toda a parte a grande chuva da Lei,

para salvar ilimitados seres viventes.

Nós todos imploramos que exponha e proclame o som profundo e de longo alcance’.

Com relação a isso, o Tathagata Vitória da Sabedoria da Grande Penetração assentiu pelo seu silêncio”.

“E assim foi em todas as direções, desde o sudoeste até a direção inferior[1]”.

“Então, quinhentas miríades de milhões de grandes Reis Brahma na direção superior, vendo seus palácios resplandecerem com surpreendente brilho nunca dantes visto, saltaram de alegria, pensando sê-lo raro deveras. Eles visitaram uns aos outros e discutiram esse assunto, indagando: ‘por que nossos palácios brilham com essa resplandecente luz’? Então, em assembléia, um Rei do Céu Brahma chamado Shikhin, em meio às multidões de Brahmas, falou em versos, dizendo:

‘Agora, por que razão nossos palácios resplandecem,

adornados por tal magnífica luz, 

como nunca dantes?

Sinais maravilhosos tais como estes,

nós nunca vimos antes.

Teria nascido um grande e virtuoso deus?

Teria um Buda aparecido no mundo’?”.

“Naquela ocasião, quinhentas miríades de milhões de Reis do Céu Brahma, juntos com seus palácios, cada qual com um fardo cheio de flores celestiais, seguiram na direção inferior à busca daquele sinal. Eles viram o Tathagata Vitória da Sabedoria da Grande Penetração sentado no trono de leão sob a árvore Bodhi no Lugar da Iluminação, reverenciado e circundado por seres celestiais, Reis Dragões, Gandharvas, Kinnaras, Mahoragas, e tanto seres humanos como não-humanos. Eles viram também os dezesseis filhos do rei solicitando ao Buda que girasse a roda da Lei”.

“Então, os Reis do Céu Brahma curvaram-se com suas cabeças aos pés do Buda, circundando-o uma centena de milhares de vezes, e espalhando flores celestiais sobre o Buda. A pilha de flores que eles espalharam ficou tão alta quanto o Monte Sumeru, e eles ofereceram-nas ao Buda bem como à árvore Bodhi. Tendo feito os oferecimentos das flores, cada um deles presenteou o Buda com o seu palácio, em oferecimento, dizendo: ‘nós somente rogamos que nos demonstre piedade e beneficie-nos aceitando e ocupando esses palácios’. Então os Reis do Céu Brahma, diante do Buda, com pensamento único e as vozes em uníssono, falaram esses versos:

‘É extremamente bom ver os Budas,

Sábios Honrados que salvam o mundo e que,

das prisões do Mundo Tríplice,

podem prover a fuga para os seres viventes.

Repletos de sabedoria,

reverenciados por seres celestiais e humanos,

piedosos com as multidões de seres,

abrindo a porta do doce orvalho,

salvam indistintamente todos os seres.

Ilimitados kalpas até hoje se passaram vazios,

sem um Buda.

Antes do Honrado pelo Mundo emergir,

as dez direções estavam sempre na escuridão,

os três maus caminhos aumentavam,

e os Asuras floresciam enquanto as multidões de seres
celestiais diminuíam,

a maioria caindo nos maus caminhos quando na morte.

Eles não ouviram a Lei do Buda,

mas sempre seguiram por caminhos perigosos.

Seu vigor físico e sabedoria,

ambos decresciam.

Em razão de um Karma de ofensas,

eles perderam a alegria e mesmo a idéia de alegria.

Eles basearam-se em Leis de visões distorcidas,

que desconheciam as normas da benevolência.

Falhando em receber a conversão do Buda,

eles constantemente caíam nos maus caminhos.

O Buda age como olhos para todo o mundo,

mas aparece somente após um longo período de tempo.

Senão por piedade para com os seres viventes,

ele manifesta-se no mundo,

transcende-o e atinge a correta iluminação.

Regozijamo-nos grandemente;

nós e todos os outros seres,

estamos felizes como nunca dantes,

e todos os nossos palácios recebem a luz e estão adornados.

Nós agora oferecemo-los ao Honrado pelo Mundo.

Podeis perdoar-nos e aceitá-los?

Fazemos votos que este mérito e virtude possam estender-se
a todos os seres viventes,

tal que nós, e todos os seres viventes,

possamos juntos alcançar a Via do Buda’”.

“Naquela ocasião, as quinhentas miríades de milhões de Reis do Céu Brahma, tendo rogado ao Buda em versos, dirigiram-se ao Buda, dizendo: ‘somente rogamos que o Honrado pelo Mundo gire a Roda da Lei para trazer tranqüilidade e liberdade aos muitos seres’. Então, os Reis do Céu Brahma disseram esses versos em oração:

‘Honrado pelo Mundo, gire a Roda da Lei,

soe o tambor da Lei do doce orvalho,

para salvar os seres viventes atormentados,

mostrando-lhes o caminho do Nirvana.

Rogamos, aceite nossa súplica e,

com o grande e sutil som,

perdoe-nos e prossiga pregando a Lei compreendida através
de incontáveis kalpas’”.

“Naquela ocasião, o Tathagata Vitória da Sabedoria da Grande Penetração, tendo recebido a súplica dos Reis do Céu Brahma das dez direções, bem como dos dezesseis príncipes, girou três vezes a Roda da Lei de doze partes, que não pode ser girada por Shramanas, Brahmans, Seres Celestiais, Maras, Brahmas, ou quaisquer outros seres do mundo. Ele disse: ‘Este é o sofrimento. Esta é a origem do sofrimento. Esta é a extinção do sofrimento.
Este é o caminho para a extinção do sofrimento’”.

“E assim, extensivamente ele discorreu sobre a Lei das doze causas e relações, ou Lei da causação: ‘A ignorância causa a ação. A ação causa a consciência. A consciência causa o nome e a forma. O nome e forma causam os seis sentidos orgânicos. Os seis sentidos orgânicos causam o contato. O contato causa a sensação. A sensação causa o desejo. O desejo causa o apego. O apego causa a existência. A existência causa o nascimento. O nascimento causa a velhice e a morte; a aflição e a dor; o sofrimento e a angústia. Quando a
ignorância é extinta, as ações são extintas. Quando as ações são extintas, então a consciência é extinta. Quando a consciência é extinta, então o nome e a forma são extintos. Quando o nome e a forma são extintos, então os seis sentidos orgânicos são extintos. Quando os seis sentidos orgânicos são extintos, então o contato é extinto. Quando o contato é extinto, então a sensação é extinta. Quando a sensação é extinta, então o desejo é extinto. Quando o desejo é extinto, então o apego é extinto. Quando o apego é extinto, então a existência é extinta. Quando a existência é extinta, então o nascimento é extinto. Quando o nascimento é extinto, então a velhice e a morte; a aflição e a dor; o sofrimento e a angústia são extintos’”.

“Quando o Buda pregou esta Lei, em meio à grande assembléia de seres celestiais e humanos, seiscentas miríades de milhões de Nayutas de seres humanos, em razão de não mais se apegarem a quaisquer coisas do mundo fenomenológico, tiveram seus pensamentos libertos de todas as falhas. Todos eles atingiram uma profunda e sutil concentração Dhyana, as Três Compreensões, os Seis Poderes das Penetrações, e tornaram-se dotados das oito Emancipações. Na segunda, terceira e quarta vezes que ele expôs esta Lei,
bilhões de Nayutas de seres viventes, em número como as areias do rio Ganges, também em razão de não mais se apegarem a quaisquer coisas do mundo fenomenológico, tiveram seus pensamentos libertos de todas as falhas. Daquele momento em diante, a assembléia de Ouvintes tornou-se ilimitada, incontável e inconcebível em número”.

“Naquela ocasião, os dezesseis príncipes que tinham deixado o lar, todos como jovens virgens, tornaram-se Shramaneras. Todos passaram a possuir aguçadas faculdades e uma clara sabedoria. Eles já haviam feito oferecimentos a centenas de milhares de miríades de milhões de Budas, cultivando puramente a conduta Brahman, à busca do Anuttara-Samyak-Sambodhi. Todos eles falaram ao Buda, dizendo: ‘Honrado pelo Mundo, todos esses ilimitados milhares de miríades de milhões de Ouvintes de grandes virtudes já encontraram a realização. O Honrado pelo Mundo poderia, em nosso benefício, também pregar a Lei do Anuttara-Samyak-Sambodhi? Ouvindo-a, todos nós a cultivaremos e a estudaremos. Honrado pelo Mundo, nós aspiramos à sabedoria e visão do Tathagata nos mais profundos dos pensamentos que temos na mente, como o Buda bem o sabe’. Então, as multidões levadas pelo Rei Sábio Girador de Roda, dezoito bilhões deles, vendo os dezesseis príncipes deixarem o lar, também decidiram deixar o lar, e o rei permitiu-lhes fazê-lo”.

“Naquela ocasião, o Buda então, tendo recebido as súplicas dos dezesseis Shramaneras, após vinte mil kalpas, finalmente, em meio à assembléia dos quatro tipos de crentes, pregou o Sutra do Grande Veículo chamado Flor de Lótus da Lei Maravilhosa, uma Lei para instruir Bodhisattvas da qual os Budas são guardiões e mentores. Após o Buda ter pregado este Sutra, todos os dezesseis Shramaneras, em prol do Anuttara-Samyak-Sambodhi, receberam-no, aceitaram-no, recitaram-no e penetraram profundamente seu significado”.  

“Quando o Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa foi pregado, todos os dezesseis Bodhisattvas Shramaneras receberam-no com fé. Em meio à multidão de Ouvintes, também, houve aqueles que tiveram fé no Sutra e compreenderam-no. Os remanescentes milhares de miríades de milhões de seres viventes, todavia, caíram todos em dúvida”.

“O Buda pregou este Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa ao longo de oitenta mil kalpas sem cessar. Quando ele encerrou a pregação do Sutra, ele adentrou um quarto silencioso onde permaneceu em Samadhi Dhyana por oitenta e quatro mil kalpas. Então, os dezesseis Bodhisattvas Shramaneras, sabendo que o Buda havia entrado nos seus aposentos e encontrava-se silenciosamente absorvido em Samadhi Dhyana, ascenderam cada um ao assento da Lei. Por um período de oitenta e quatro mil kalpas, em prol da assembléia dos
quatro tipos de crentes, eles pregaram o Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa extensivamente e em detalhes. Cada um deles salvou seres viventes em número igual a seiscentas miríades de milhões de Nayutas de grãos de areia do rio Ganges, instruindo-os com o ensino, beneficiando-os, fazendo-os alegrar e concentrar o pensamento no Anuttara-Samyak-Sambodhi”.

“Após oitenta e quatro mil kalpas terem passado, o Buda Vitória da Sabedoria da Grande Penetração despertou do seu Samadhi, aproximou-se do trono da Lei e serenamente tomou assento. Ele dirigiu-se à grande assembléia, dizendo: ‘Estes dezesseis Bodhisattvas Shramaneras são muito raros. Todas as suas faculdades são apuradas e sua sabedoria é clara. Eles já fizeram oferecimentos no passado a ilimitados milhares de miríades de milhões de Budas. Na presença daqueles Budas, eles constantemente cultivaram a conduta
Brahman, aceitando e mantendo a sabedoria do Buda, instruindo seres viventes e fazendo-os adentrá-la. Todos vocês deveriam aproximar-se deles e fazer-lhes oferecimentos. Por quê ? Dentre aqueles Ouvintes, Pratyekabudas ou Bodhisattvas que tenham fé na Lei do Sutra pregada por esses dezesseis Bodhisattvas, que aceitarem-na e mantiverem-na sem caluniá-la, todos atingirão o Anuttara-Samyak-Sambodhi; isto é, a sabedoria do Tathagata’”.

O Buda falou aos Monges: “Estes dezesseis Bodhisattvas sempre se deleitam na pregação do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa. Cada um desses Bodhisattvas converteu seres viventes em número igual a seiscentas miríades de milhões de Nayutas de grãos de areia do rio Ganges que, vida após vida, nasceram juntos com os Bodhisattvas[2] e ouviram a Lei a partir deles, entendendo-a e compreendendo-a completamente. Por esta razão, eles encontraram-se com quarenta bilhões de Budas, Honrados pelo Mundo, e até hoje nunca pararam de fazê-lo”.

 “Monges, digo-lhes que esses discípulos do Buda, os dezesseis Shramaneras, todos agora atingiram o Anuttara-Samyak-Sambodhi, e nas terras das dez direções, estão presentemente pregando a Lei. Eles têm como seus séqüitos ilimitadas centenas de milhares de milhões de Bodhisattvas e Ouvintes”.

“Dois tornaram-se Budas no Leste: um é chamado Akshobhya, na Terra da Felicidade; e o outro é chamado Pico Sumeru. Dois tornaram-se Budas no Sudeste: um é chamado Som do Leão; o outro é chamado Marca do Leão. Dois tornaram-se Budas no Sul: um é chamado Morador do Espaço; o outro é chamado Extinção Eterna. Dois tornaram-se Budas no Sudoeste: um é chamado Marca Real; o outro é chamado Marca do Brahma. Dois tornaram-se Budas no Oeste: um é chamado Amitayus; o outro é chamado Salvador de todos os Mundos do Sofrimento e da Angústia. Dois tornaram-se Budas no Noroeste: um é chamado Fragrância da Tamalapatrachandana e das Penetrações Espirituais; o outro é chamado Marca do Sumeru. Dois
tornaram-se Budas no Norte: um é chamado Nuvem da Emancipação; e o outro é chamado Rei da Nuvem da Emancipação. No Nordeste há um Buda chamado Destruidor de Todos os Temores Mundanos; e o outro Buda, o décimo sexto, sou eu mesmo, Buda Shakyamuni, aqui no mundo Saha, onde alcancei o Anuttara-Samyak-Sambodhi”.

 “Monges, cada um de nós, Shramaneras, instruiu e converteu seres viventes em número de ilimitadas centenas de milhares de miríades de milhões de areias do rio Ganges, os quais ouvindo de nós a Lei, despertaram para o Anuttara-Samyak-Sambodhi”.

 “Dentre esses seres viventes, há aqueles que residem no estado de Ouvintes. Eu constantemente instruo-os e converto-os para o Anuttara-Samyak-Sambodhi. Todas aquelas pessoas, através desta Lei, gradualmente entrarão na Via do Buda. Por quê ? Porque a sabedoria do Tathagata é difícil de aceitar e difícil de compreender”.

 “Os seres viventes, ilimitados em número como as areias do rio Ganges, que eu converti naquele tempo são vocês, vocês mesmos, Monges, e são também aqueles que se tornarão discípulos Ouvintes no futuro, após a minha extinção”.

 “Após a minha extinção, além disso, haverá discípulos que não ouvirão este Sutra, que não conhecerão ou serão cientes da conduta do Bodhisattva, mas que por consecução do seu próprio mérito e virtude atingirão a idéia da extinção e entrarão no Nirvana. Eu serei um Buda numa outra terra, com um outro nome. Embora essas pessoas sejam capazes de intuir a idéia da extinção e de entrar no Nirvana, em outras terras, eles buscarão a sabedoria do Buda e ouvirão este Sutra, e saberão que somente através do Veículo do Buda é que a extinção poderá ser alcançada. Não há nenhum outro veículo, exceto aqueles ensinados como meios hábeis por outros Tathagatas”.

 “Monges, quando o Tathagata sabe que o tempo do seu próprio Nirvana é chegado, que a assembléia está purificada, que a sua fé e compreensão são sólidas e firmes, que eles compreenderam completamente a Lei do vazio e penetraram profundamente no Samadhi Dhyana; ele junta-se à multidão de Bodhisattvas e Ouvintes e prega este Sutra para eles, dizendo: ‘não há dois veículos através dos quais a extinção é atingida. Há somente o Veículo Único do Buda através do qual a extinção pode ser alcançada’”.

 “Monges, saibam que os expedientes do Tathagata penetram
profundamente as naturezas dos seres viventes. Conhecendo o que eles aspiram, que estão satisfeitos com as Leis menores e que estão profundamente apegados aos Cinco Desejos, ele prega-lhes o Nirvana. Quando eles ouvirem-no, então imediatamente o entenderão e o aceitarão”.

 “É como se, por exemplo, houvesse uma longa estrada, com
quinhentas Yojanas de comprimento, acidentada e perigosa, num lugar inóspito e aterrorizante. Um grande grupo de pessoas deseja viajar por essa estrada à busca de um tesouro de jóias preciosas. Em meio a eles, há um guia inteligente, sábio e esclarecido; que conhece bem a estrada, seus trechos transitáveis e intransitáveis; e que deseja conduzir o grupo através desse caminho difícil”.

 “Em meio à viagem, o grupo que ele está conduzindo torna-se fatigado e deseja voltar. Eles dizem ao guia: ‘estamos exaustos e receosos. Não podemos seguir adiante. É muito longe. Queremos voltar atrás agora’”.

“Seu líder, que possui muitos expedientes, tem o seguinte pensamento: ‘quão lamentáveis eles são. Como podem renunciar ao grande e precioso tesouro e desejar voltar’? Tendo este pensamento, através do poder dos meios hábeis, ele cria uma cidade em meio à estrada perigosa, com trezentas Yojanas de extensão, e diz-lhes: ‘Não tenham receio. Não voltem, fiquem agora nesta grande cidade que eu criei especialmente para vocês. Se vocês entrarem nesta cidade, serão felizes e obterão a paz. E então, se desejarem prosseguir à busca do tesouro de jóias, poderão fazê-lo’”.

 “Então o grupo exausto alegrou-se grandemente, ganhando o
que nunca houveram possuído, dizendo: ‘nós agora escapamos dessa estrada ruim e obtivemos a felicidade e a paz’. Então o grupo seguiu adiante e entrou na cidade fantasma; pensando que já houvessem sido salvos, sentiram-se felizes e em paz”.

 “Naquela ocasião, o guia, sabendo que eles estavam descansados e não mais fatigados, fez a cidade desaparecer, dizendo-lhes: ‘Todos vocês, vamos, sigamos. O tesouro de jóias está próximo. A grande cidade era meramente uma miragem, algo que criei através da transformação para prover-lhes descanso’”.

“Monges, o Tathagata também é assim. Ele age agora como um grande guia para todos vocês. Ele sabe que os seres viventes abandonariam a travessia da estrada ruim dos tormentos do nascimento e da morte, que é acidentada, difícil e longa”.

 “Se os seres viventes ouvirem somente o Veículo do Buda, eles não desejarão ver o Buda ou aproximar-se dele. Ao invés disso, pensarão: ‘o caminho do Buda é longo e distante; ele pode ser seguido apenas após muito trabalho e sofrimento’. O Buda sabe que seus pensamentos são débeis e rebaixados. Quando eles estão no meio do caminho, o Buda usa o poder dos meios hábeis para pregar dois Nirvanas[3] com o intuito de prover-lhes um descanso. Se os seres viventes residirem nesses dois estados, o Tathagata então lhes diz: ‘Ainda não terminaram o seu trabalho. O estado no qual vocês estão residindo está próximo da sabedoria do Buda. Vocês devem observar e ponderar sobre isto: o Nirvana que vocês atingiram não é o verdadeiro Nirvana. O Tathagata utilizou-se do poder dos meios expedientes e, dentro do Veículo Único do Buda, discriminou e pregou como se fossem três’”.

Naquela ocasião o Honrado pelo Mundo, desejando reforçar o
significado das suas palavras, falou em versos, dizendo:

“O Buda Vitória da Sabedoria da Grande Penetração sentou-se no Lugar da Iluminação por dez kalpas,

sem dar manifestações das Leis Búdicas,

e nem realizou a Via do Buda.

Espíritos Celestes, Reis Dragões,

e multidões de Asuras,

fizeram chover constantemente sobre ele flores celestiais,

como um oferecimento ao Buda.

Os Deuses bateram seus tambores celestiais,

e fizeram todo o tipo de música;

brisas fragrantes sopravam as flores murchas,

enquanto novas flores frescas choviam.

Quando dez kalpas se passaram,

ele então realizou a Via do Buda.

Todos os seres celestiais e humanos dançaram de alegria em
seus pensamentos.

Os dezesseis filhos daquele Buda,

bem como os seus séqüitos de bilhões rodeando-os,

todos se postaram diante daquele Buda.

Eles curvaram-se com suas cabeças aos pés do Buda, dizendo:

‘Leão da Sabedoria, permita que a chuva da Lei caia sobre nós e todos os outros’!

Um Honrado pelo Mundo é muito difícil de encontrar,

aparecendo no mundo não antes de um longo período de tempo.

Com o propósito de despertar todas as criaturas,

ele faz agitar todas as coisas.

Em quinhentas miríades de milhões de terras,

nos mundos da direção leste,

os palácios Brahma resplandeceram com uma luz como nunca
dantes.

Os Brahmas, vendo esses sinais,

seguiram-no até o Buda;

espalharam flores sobre ele como oferendas,

e ofereceram seus palácios,

pedindo ao Buda que girasse a Roda da Lei,

usando versos em suas súplicas.

O Buda sabia que o tempo ainda não havia chegado,

e recebeu as suas súplicas sentado em silêncio.

Das outras três direções,

das quatro direções intermediárias e,

igualmente, de cima e de baixo,

eles espalharam flores e ofereceram seus palácios,

pedindo ao Buda que girasse a Roda da Lei:

‘O Honrado pelo Mundo é muito difícil de encontrar;

rogamos que através da sua grande compaixão e piedade,

ele abra amplamente a porta do doce orvalho,

e gire a insuperável Roda da Lei’.

O Honrado pelo Mundo,

tendo ilimitada sabedoria,

recebeu as súplicas da multidão e proclamou várias Leis em seu benefício.

As Quatro Nobres Verdades, os Doze Elos da Causação,

da ignorância até a velhice e a morte –

tudo se passa em razão do nascimento.

Neste caminho, uma infinidade de calamidades vêm a ocorrer;

todos deveriam saber disto.

Quando ele expôs esta Lei,

seiscentas miríades de trilhões escaparam dos grilhões de todos os sofrimentos,

e todos se tornaram Arhats.

Quando ele pregou a Lei pela segunda vez,

multidões como os grãos de areia de mil miríades de rios Ganges,

com seus pensamentos não mais se apegando às coisas do mundo fenomenológico,

também atingiram o estado de Arhat.

Após isto, aqueles que ganharam a Via,

tornaram-se incalculáveis em número;

mesmo que fossem contados ao longo de miríades de milhões de kalpas,

não poderíamos encontrar o seu limite.

Naquela ocasião, os dezesseis príncipes deixaram o lar e tornaram-se Shramaneras.

Juntos, eles solicitaram que o Buda proclamasse extensivamente a Lei do Grande Veículo:

‘Poderíamos todos nós e nossos seguidores trilharmos a Vida do Buda?

Desejamos tornarmos como o Honrado pelo Mundo,

com os olhos da sabedoria e a suprema pureza’.

O Buda, sabendo as intenções daqueles jovens,

suas práticas nas vidas passadas,

usou ilimitadas causas e relações,

e várias analogias para ensinar-lhes os Seis Paramitas,

bem como questões sobre as penetrações espirituais.

Ele discriminou a verdadeira Lei,

e a via percorrida pelos Bodhisattvas.

E então ele pregou o Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa,

em numerosos versos como as areias do Ganges.

Após o Buda ter pregado o Sutra,

ele entrou em Samadhi Dhyana num aposento silencioso,

em profunda meditação e imóvel,

durante oitenta e quatro mil kalpas.

Todos os Shramaneras,

sabendo que o Buda ainda não tinha deixado o seu (Samadhi) Dhyana,

em prol dos ilimitados milhões em assembléia,

pregaram a respeito da sabedoria insuperável do Buda.

Cada um deles sentado no seu Trono da Lei,

pregou este Sutra do Grande Veículo.

Após o Buda ter ficado pacificamente quieto (em seu Samadhi),

eles propagaram e ensinaram a Lei.

Cada um dos Shramaneras levou à salvação seres viventes iguais em número aos grãos de areia de seiscentas miríades de rios Ganges.

Após aquele Buda ter entrado em extinção,

todos aqueles que ouviram a Lei,

qualquer que seja a terra Búdica em que possam estar,

renascerão lá juntos com seus mestres.

Os dezesseis Shramaneras completaram as práticas da Via do Buda.

Presentemente, nas dez direções,

cada um atingiu a sua própria iluminação.

Aqueles que ouvem a Lei, então,

estão cada um na presença de um Buda;

Aqueles que são Ouvintes,

estão gradualmente sendo instruídos na Via do Buda.

Eu era um dos dezesseis;

no passado, eu treinei e converti todos vocês.

Portanto, eu uso meios hábeis para introduzi-los na sabedoria do Buda.

Através dessas relações causais do passado,

presentemente eu prego o Sutra da Flor de Lótus da Lei
Maravilhosa,

fazendo-os entrar na Via do Buda.

Cuidado para não ficarem assustados!

Suponham que exista uma estrada acidentada e perigosa,

afastada e repleta de bestas venenosas,

carente tanto de água como de pastagens,

um lugar temido por todos.

Incontáveis milhares de miríades de seres desejam atravessar essa estrada perigosa,

com seus caminhos tão longos quanto quinhentas Yojanas.

Há em meio a eles um guia,

inteligente e sábio,

de pensamento claro e resoluto,

que pode salvá-los das suas dificuldades.

O grupo torna-se fatigado e diz ao guia:

‘Estamos todos exaustos e queremos voltar agora’.

O guia pensa para si:

‘Quão lamentáveis são eles.

Como podem desejar voltar e perder o grande e precioso tesouro’?

Instantaneamente ele pensa num meio hábil.

Usando o poder das penetrações espirituais,

ele cria uma grande cidade adornada com casas,

cercada por jardins e bosques,

riachos e lagos para banho,

protegida por portões e colunas de pavilhões,

habitada por homens e mulheres.

Após criá-la, ele,

com piedade,  diz-lhes:

‘não fiquem com medo.

Mas, entrem nesta cidade e divirtam-se como desejarem’.

Quando eles entraram na cidade,

seus corações alegraram-se grandemente,

pensando que estivessem seguros e confortáveis,

e que estivessem salvos.

O guia, sabendo que eles estavam descansados,

reuniu-os e disse-lhes:

‘Todos vocês devem seguir adiante,

porque isto nada mais é que uma miragem,

uma cidade fantasma.

Vendo que vocês estavam exaustos,

e desejavam voltar atrás,

eu usei do poder dos meios hábeis para transformar provisionalmente esta cidade.

Vocês devem ser vigorosos e prosseguir em direção ao tesouro de jóias’.

Eu, também, sou assim,

eu sou o guia de todos;

Vendo aqueles que buscam a via,

cansados no meio da viagem,

incapazes de superar os perigosos caminhos do nascimento,

da morte e da aflição;

eu uso então o poder dos meios hábeis para pregar o Nirvana,

e prover-lhes um descanso, dizendo:

‘Seus sofrimentos terminaram.

Vocês fizeram o que tinha de ser feito’.

Então, sabendo que eles encontraram o Nirvana,

e todos se tornaram Arhats,

eu reúno-os para ensinar-lhes a genuína Lei.

Os Budas usam o poder dos meios hábeis,

para discriminar e pregar os Três Veículos,

mas, há somente o Veículo Único do Buda.

Os outros dois foram pregados como um lugar de descanso.

O quê estou lhes dizendo agora é a verdade;

o que vocês obtiveram não é a extinção.

Em prol da sabedoria de todos os Budas,

vocês devem empenhar-se com grande vigor.

Quando vocês estiverem certificados de todas as sabedorias,

possuírem os Dez Poderes e outras Leis do Buda,

tendo obtido as Trinta e Duas Marcas distintivas,

então aquela é a genuína extinção.

Os Budas, os mestres-guia,

pregam o Nirvana para prover um descanso aos seres viventes,

mas somente os Budas sabem que,

quando eles estiverem descansados,

eles os conduzirão à sabedoria dos Budas[4]”.


[1] Observar que são dez as direções: leste, sudeste, sul, sudoeste, oeste, noroeste, norte, nordeste, abaixo (nadir) e acima (zenith).

[2] Referindo-se aos seres viventes presentes na assembléia e que, conforme os dizeres que seguem, já cumpriram os votos de servir a quarenta bilhões de Budas. A seguir, o Buda Shakyamuni revela-se ser o 16o. filho do Buda Vitória da Sabedoria da Grande Penetração, pregador original do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa. Deve-se atentar para a relação entre o Buda e os seres viventes presentes na assembléia, pois, no final do capítulo anterior, ele proclama: “Quanto às minhas próprias e vossas causas e condições anteriores, eu agora direi: todos vocês, ouçam bem!”

[3] Correspondentes aos Nirvanas do Ouvinte e do Pratyekabuda, que são os dois veículos menores.

[4] Estão aqui sintetizadas as verdades do “não-nascimento” e “não-extinção”, já que os nirvanas provisórios ( dos veículos do ouvinte e do pratyekabuda) são um mero meio hábil utilizado pelos Budas para prover um lugar de descanso para aqueles que buscam o caminho.

N.T. As notas e comentários introduzidos nesta tradução do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa para a língua portuguesa falada no Brasil são da autoria e inteira responsabilidade de seu tradutor Marcos Ubirajara de Carvalho e Camargo.

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