Naquela ocasião, Shariputra dirigiu-se à Menina Dragão, dizendo: “Você postula ter atingido rapidamente a Via Insuperável. Isto é difícil de compreender. Por quê? Porque o corpo de uma mulher é impuro e não é um receptáculo para a Lei. Como pode você atingir a suprema Iluminação? A Via do Buda é remota e longa. Somente após termos atravessado ilimitados kalpas, suportando diligentemente o sofrimento e acumulando normas de conduta, completando a prática de todos os Paramitas, somente então poderemos atingir a realização. E além do mais, um corpo de mulher tem Cinco Obstáculos: primeiro, a mulher não pode tornar-se um Rei Brahma Celeste; segundo, ela não pode tornar-se um Shakra; terceiro, ela não pode tornar-se um Rei Demônio; quarto, ela não pode tornar-se um Rei Sábio Girador de Roda; quinto, ela não pode tornar-se um Buda. Como pode então uma mulher atingir rapidamente o Estado de Buda[1]”?
Naquela ocasião a Menina Dragão possuía uma pérola preciosa, cujo valor era comparável ao de três mil grandes sistemas de mil mundos, que ela levou para diante do Buda e presenteou-o. O Buda imediatamente a aceitou. A Menina Dragão então disse à Sabedoria Acumulada e ao venerável Shariputra: “ Eu apenas ofereci esta preciosa pérola e o Honrado pelo Mundo aceitou-a. Isto foi rápido ou não”?
“Muito rápido!”. Eles responderam.
A menina disse: “Com os seus poderes espirituais, prestem atenção como eu posso tornar-me um Buda muito mais rapidamente do que isto”!
Naquele momento, toda a assembléia viu a Menina Dragão subitamente transformar-se num homem e completar as práticas de um Bodhisattva. Instantaneamente ela transportou-se para o sul, para o mundo livre de impurezas onde, sentada num lótus de jóias, ela atingiu a Iluminação Correta e Imparcial, e incorporou as Trinta e Duas Marcas Distintivas e as Oito Características Menores. Lá, em prol de todos os seres viventes das dez direções, ela pôs-se a proclamar a Lei Maravilhosa.
[1] Shariputra, um discípulo de grande erudição e sabedoria manifesta a sua dúvida fazendo referência não só à condição feminina da filha do rei Dragão, como uma restrição para ela atingir a iluminação; mas, também, referindo-se à dúvida sobre a iluminação perfeita e imediata que não requer as práticas de ilimitados kalpas para ser alcançada.
Extraído do CAP. 12: Devadatta.

Brumas de Igarapé. Foto de Dôra. Local: Sítio da Dôra em 21/07/2007.
