“Oh bom homem! Há dois tipos de visão. Um deles é a visão através de sinais exteriores, e o outro é através de penetrações. O que é visão por sinais exteriores? É como ver (saber do) o fogo à distância, quando alguém vê fumaça. Na verdade, esse alguém não vê o fogo. Embora não o veja, nada é falso. Vemos uma nuvem no céu e dizemos que vemos água. Embora não vejamos água, isto (afirmar que vemos) não é falso. Vemos a flor e a folha e dizemos que vemos a raiz. Embora não vejamos a raiz, isto não é falso. Vemos os chifres de uma vaca de muito longe através da cerca e dizemos que podemos ver uma vaca. Embora não vejamos uma vaca, isto não é, no entanto, falso. Vemos uma mulher grávida e dizemos que vemos desejo carnal. Na verdade, não vemos desejo carnal, mas isto não é falso. Também, vemos os brotos novos de uma árvore e dizemos que vemos água. Embora, na verdade, não a vejamos, isto não é falso. Vemos uma nuvem e dizemos que vemos chuva. Embora a chuva [em si] não seja vista, isto não é falso. Vendo as ações do corpo e da boca, dizemos que vemos um pensamento. O pensamento não é visto, mas isto não é falso. Isto é visão através de sinais exteriores.
O que é visão através de penetrações? É como ver a cor dos olhos. Oh bom homem! O olho de um humano é puro e não pode ser violado [enganado pelo olhar]. É como ver uma manga segura na palma da própria mão. O mesmo é o caso onde o Bodhisattva vê claramente a Via, a Iluminação e o Nirvana. Embora ele veja assim, não há características a serem vistas. Por essa razão, em tempos passados eu disse a Shariputra: ‘Oh Shariputra! Somente o Tathagata conhece, vê e compreende o que todos no mundo, como Shramanas, Brâhmanes, devas, Maras, Brahmas ou humanos não vêem e compreendem. É o mesmo com os Bodhisattvas. Oh Shariputra! O que todo o mundo conhece, vê e compreende; eu e os Bodhisattvas também conhecemos, vemos e compreendemos. O que o mundo e os seres não conhecem, vêem e compreendem; eu também conheço, vejo e compreendo. Assim deve ser. O mundo e os seres conhecem, vêem e compreendem; e dizem o que eles conhecem, vêem e compreendem. Oh Shariputra! O Tathagata conhece, vê e compreende tudo; e mesmo assim ele não diz o que ele conhece, vê e compreende. Assim se passam as coisas também com o Bodhisattva. Por quê? Se o Tathagata mostra o que ele conhece, vê e compreende, ele não é Buda-Honrado-pelo-Mundo. Ele é um mortal comum. O mesmo acontece com o Bodhisattva também.”
Excerto do Sutra do Nirvana, CAP. 22 – Sobre Ações Puras 2.
