2ª. Parte
A Física convive com quatro classes de ligações entre os corpos, as quais em ordem crescente de intensidade são conhecidas como forças gravitacionais (longo alcance), as forças fracas, as forças eletromagnéticas (ambas de médio alcance), e as forças fortes (curto alcance). Sem entrar no mérito da caracterização de cada uma dessas forças, que foge ao propósito desta discussão, o fato é que, extrapolando a aplicação do princípio da incerteza para o macrocosmo, as ligações gravitacionais seriam tão fracas (mal podendo ser medidas), e demandariam tão pouca energia para as transições que o tempo
agigantar-se-ia para manter a constância daquele produto. Relembrando, o princípio diz que ∆E x ∆t = constante; onde ∆E = variação energética e ∆t = variação temporal. A extrapolação que acabamos de fazer na aplicação do princípio da incerteza fora do seu ambiente (ou seja, o campo das ligações fracas e fortes) deve ser vista como um mero exercício filosófico, já
que a Física ainda não teve sucesso na unificação dessas forças.
No outro extremo, no mundo das interações entre partículas subnucleares (constituintes dos núcleos dos átomos), e onde este princípio é corriqueiramente aplicado, as ligações são tão fortes e demandam tanta energia para serem desfeitas que o tempo de um fenômeno de transição torna-se ínfimo, ainda para manter a constância daquela relação. Existem medições de tempo de duração de fenômenos físicos que fogem completamente à racionalidade humana, por exemplo, uma transição que dura 10-23 segundos (para os não familiarizados com a notação, isto é um numeral com 23 zeros, sendo 22 após a vírgula, antes de um algarismo significativo). Este é o campo da Física de Alta Energia, onde são provocadas reações com variações energéticas muito altas, arrancando-se inclusive formas materiais do nada (ou vácuo). Em conseqüência das altas variações energéticas, se têm fenômenos que duram proporcionalmente pouquíssimo tempo.
O paralelo que nos permitimos fazer está em que, na medida em que a complexidade e o tamanho dos sistemas aumentam, se têm no campo das ligações fracas variações energéticas menores e tempos de transição maiores. Extrapolando esta constatação, no campo das ligações gravitacionais (ou muito fracas) demandando variações energéticas muito pequenas, se podem esperar tempos de transição muito grandes, talvez fugindo à racionalidade
humana pela ordem de grandeza, dando a impressão de que ali nada acontece. Certamente, é por essa razão que passamos a vida toda olhando para a Via Láctea, a nossa galáxia, sem nada percebermos de diferente no seu aspecto; mas, ela está girando na devida escala de tempo e se transformando muito embora o tempo ali pareça “fluir mais lentamente”.
Falando de coisas mais familiares, para as quais todos têm mais sensibilidade, uma vida equilibrada, sem grandes desgastes (variações energéticas) tende a se prolongar. Por essa razão se diz “viver longa e sabiamente”. Só precisamos tomar cuidados porque existem outros fatores determinantes da duração de uma vida. Mas, equilíbrio e quietude constituem um bom conselho. Fica claro que uma vida estressada tende a abreviar-se.
Sobre isso, são inúmeros os exemplos de vidas que se expiraram rapidamente em virtude de terem passado por grandes transições energéticas em curto espaço de tempo. São artistas, gênios da ciência, mas também os protagonistas de pequenas e grandes tragédias humanas. Quanto maior o impacto (variação energética) de suas existências, menos tempo elas duraram, observe. Em tempo, quando se fala de vida estressada, refere-se àquela exposição ao estresse por tempo prolongado. Todos sabem que o estresse pode ser benéfico em situações extremas que exijam grande parcela de energia para resolver problemas agudos; mas, desde que por pouco tempo, em total concordância com o princípio da incerteza.
Aquela escala de forças da Física pode ser entendida em termos dos 10(dez) estados de vida do Budismo, fazendo-se um paralelo das forças gravitacionais (de longo alcance) com os estados de vida superiores de Bodhisattva e Buda; os quais se identificam com o altruísmo, a libertação, o despertar e a iluminação para a verdade suprema, respectivamente. As forças de médio alcance têm seus paralelos nos estados intermediários de Erudição e Absorção; também chamados de 2(dois) veículos. Finalmente, as ligações fortes e de curto alcance têm seu paralelo nos seis mundos inferiores de Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Humanidade e Alegria; os quais são comandados pelo desejo, o egoísmo, o apego e a ilusão de maneira geral. Sem sombra de dúvidas, as transmigrações entre esses estados inferiores demandam muita energia, consomem a vida e são de pouca duração.
Concluindo, a proximidade do “fim do mundo” aumenta na mesma medida em que se mergulha na escuridão, afastando-se da sabedoria do Buda; isto é, quanto maior a escuridão e a ignorância, maior a percepção do “fim do mundo”, maior a sua proximidade. A Sabedoria de todos os Budas, neste sentido, é sinônimo de Eternidade.
Andrômeda. Tudo calmo por alí não é?

“Courtesy NASA/JPL-Caltech.”
