“Quando o Bodhisattva deseja renunciar ao mundo, os Marapapiyas tornam-se grandemente preocupados e dizem: ‘Agora esse Bodhisattva terá uma grande batalha comigo’. Oh bom homem! Como esse Bodhisattva lutaria com humanos? Então, o Bodhisattva vai de uma vez para um monastério Budista e vê o Tathagata e seus discípulos lá, todos corretos na sua conduta, serenos nos seus sentidos orgânicos, suaves e calmos nos seus pensamentos. Assim, ele vai lá e procura ser ordenado. Ele raspa a sua cabeça e veste os três tipos de robes monásticos. Após ter sido ordenado, ele observa os preceitos proibitivos e não falha na conduta. Seus movimentos são pacíficos e nada é violado. Mesmo um pequeno pecado ele teme, e seu pensamento, para ser verdadeiro, é firme e inquebrantável como um diamante.
Oh bom homem! Aqui está um homem que deseja atravessar o mar numa bóia. Então, existe um rakshasa [demônio devorador de carne] no mar. Ele segue o homem e implora pela bóia dele. Ouvindo isto, o homem pensa: ‘Se eu lhe der, certamente afundarei e morrerei’. Ele responde: ‘Oh rakshasa! Você pode matar-me, mas não terá a minha bóia’. O rakshasa diz: ‘Se você não pode dar toda a bóia para mim, dê-me a metade’. Mas o homem ainda não lhe dará. O rakshasa diz novamente: ‘Se você não pode me dar a metade, dê-me um terço’. O homem não diz ‘sim’. O rakshasa continua: ‘Se você não pode, dê-me o pedaço onde a sua mão descança, estou severamente oprimido pela fome e a aflição. Por favor, dê-me apenas um pedaço’. O homem ainda diz: ‘O que você procura ter não é muito, de fato. Mas devo atravessar o mar neste mesmo dia. Não sei quão longe é. Se eu lhe der qualquer parte (da bóia), o ar gradualmente escapará. Como eu poderia esperar atravessar esse mar difícil? Se o ar escapar, eu afundarei e morrerei no meio do caminho’.
Oh bom homem! O mesmo é o caso com o Bodhisattva que observa os preceitos. Ele é como o homem que deseja atravessar o mar e que é muito solícito na proteção da bóia, e reluta em dá-la. Quando o Bodhisattva assim age para proteger os preceitos, sempre aparecerá no seu caminho rakshasas de todas as más ilusões, que dirão ao Bodhisattva: ‘Acredite-me, não estou tentando enganá-lo. Cometa apenas as quatro graves ofensas e tome cuidado com os outros preceitos. Por isto, lhe darei a paz e você acordará no Nirvana’.
O Bodhisattva dirá então: ‘Eu preferiria manter os preceitos e ganhar o Inferno Avichi do que quebrá-los e nascer no Céu’. O rakshasa da ilusão dirá: ‘Se você não pode cometer as quatro graves ofensas, cometa as samghavasesa (são violações de regras de conduta que podem causar a dissolução da Sangha). Por isto, farei você atingir o Nirvana facilmente’. O Bodhisattva não obedecerá. O rakshasa dirá novamente: ‘Se você não pode cometer as samghavasesa, cometa o sthulatyaya. Por isto, você terá um Nirvana pacífico’. Novamente, o Bodhisattva não obedecerá. O rakshasa dirá novamente: ‘Se você não pode cometer o sthulatyaya, quebre as [regras do] naihsargika-prayascittika. Por isto, você terá um Nirvana pacífico’. O Bodhisattva novamente se recusará a obedecer. Então o rakshasa dirá novamente: ‘Se você não pode cometer o prayascittika, por favor, cometa o duskrta. Por isto, você terá um Nirvana pacífico’. Então o Bodhisattva dirá a si mesmo: ‘Se eu cometer o duskrta [ofensas menores, remissíveis pela confissão] e não confessar antes da assembléia [de monges], posso não ser capaz de atravessar o mar do nascimento e da morte e atingir o Nirvana’. O Bodhisattva-Mahasattva é [assim] muito rigoroso para evitar essas muito pequenas ofensas, e seu pensamento é como o diamante. O Bodhisattva-Mahasattva, respeitosa e indiferentemente [calmamente], observa os preceitos tanto contra as quatro graves ofensas quanto contra duskrta.”
Excerto do Sutra do Nirvana, CAP. 19: Sobre Ações Sagradas 1.
