“Também, além disso, oh bom homem! Aqui no Sul da India, existe um grande castelo chamado Surparaka. Nesse castelo viveu um homem rico cujo nome era Ruci. Ele conduziu o povo. Ele já havia feito muitas boas ações no passado no lugar (função) de inumeráveis Budas. Oh bom homem! Todos os habitantes daquele castelo estavam professando crenças errôneas, servindo a Nirgranthas. Como eu desejava ensinar esse homem rico, viajei para essa cidade do castelo. A distância era de 65 yojanas [yojana = 15-20 kilometros]. O Buda cobriu essa distância a pé, seguido pelo seu séquito. Isto foi para ensinar o povo. Os Nirgranthas, ao ouvirem que eu estava chegando à cidade-castelo, pensaram: ‘Se o Shramana Gautama chegar aqui, todos nos abandonarão e não mais farão quaisquer oferecimentos para nós. Seremos duramente pressionados. Como sustentaremos nossas vidas?’ Todos os Nirgranthas foram aqui e ali, e disseram às pessoas da cidade-castelo: ‘O Shramana Gautama está para chegar aqui. Mas todos os Shramanas são pessoas que abandonaram seus pais e se foram para o leste e oeste. Onde quer que vão, faltam cereais, o povo sofre de fome e muitos têm morrido. As doenças prevalecem e não há meios de salvar as pessoas. Gautama é um vagabundo e é seguido por rakshasas e demais demônios. Todos são solitários, sem pai ou mãe. Eles vêm, reverenciam-no e seguem-no. Ele ensina a vacuidade. Onde quer que ele vá, não há paz’. As pessoas, ouvindo isto, ficavam assustadas e tocavam os pés do Nirgrantha, dizendo: ‘Oh grande! O que fazemos?’ O Nirgrantha respondia: ‘O Shramana Gautama, por natureza, ama florestas, rios, lagos, e água pura. Se existirem tais coisas, destruam-nas. Saiam todos da cidade juntos, derrubem as árvores, não deixem uma sequer. Encham os rios, lagos e nascentes com coisas sujas (lixo). Fechem os portões do castelo. Tragam soldados, bastões para os baluartes e mantenham uma vigilância implacável! Ele pode vir, mas não lhe permitam entrar. Se ele não vir, vocês estarão seguros. Nós, também, pensaremos em alguns meios e o faremos voltar’. Todas as pessoas ouviram isto e, respeitosamente, fizeram como lhes foi dito. Eles derrubaram todas as árvores, sujaram todas as águas, e armaram-se fortemente para proteção. Oh bom homem! Quando eu cheguei lá, não podia ver qualquer árvore ou floresta; tudo o que eu podia ver eram pessoas empunhando armas espalhadas pelas muralhas do castelo em guarda. Vendo isto, a compaixão emergiu de dentro de mim, e com o coração cheio de amor-benevolente eu dei um passo à frente. Então todas as árvores voltaram e pareciam exatamente como eram antes. E todas as árvores, cujo número estava para além do cômputo, cresceram novamente. As águas dos rios, lagos, nascentes e fontes eram todas puras e abundantes, como a vaidurya azul. Todos os tipos de flores espalharam-se em profusão. Os baluartes pareciam vaidurya azul-escuro. Todas as pessoas podiam ver-me facilmente e ao meu séquito. Os portões abriram-se sozinhos, nada lhes detendo. Todas as armas transformaram-se em várias flores. Guiadas por Ruci, todas as pessoas vieram ver-me. Então falei sobre muitas coisas relativas ao Dharma e fiz a todos aspirarem à Iluminação Insuperável. Oh bom homem! Eu, naquela ocasião, evoquei todas aquelas árvores artificialmente e enchi os córregos, rios e lagos com água pura. Fiz o castelo principal transformar-se e se tornar parecido com a vaidurya azul-escuro. Permiti a todas as pessoas verem através de mim. Fiz os portões se abrirem e com que as armas se transformassem em flores. Oh bom homem! Saiba que o poder da bondade do amor-benevolente permitiu àquelas pessoas verem tais coisas.”
Excerto do Sutra do Nirvana, CAP. 21 – Sobre Ações Puras 1.
N.T: Qualquer semelhança com o que fazemos com as nossas cidades e o meio ambiente será mera coincidência?
