Mahaprajapati estava meditando. Ela sabia a fatuidade desse mundo. Ela queria fugir do palácio, abandonar Kapilavastu, e levar uma vida de santidade
“Quão feliz é o Mestre! Quão felizes são os discípulos!”, ela pensava. “Por que não posso fazer como eles fazem? Por que não posso viver como eles vivem? Mas eles se opõem às mulheres. Não somos admitidas na comunidade, e devo permanecer nessa cidade triste, para mim um deserto; devo permanecer nesse palácio triste, vazio ao meu ver!”
Ela entristeceu. Deixou de lado suas vestes dispendiosas; deu suas jóias para suas damas, e tornou-se humilde diante de todas as criaturas.
Certo dia, ela disse para si:
“O Mestre é gentil; sentirá piedade de mim. Irei a ele, e talvez ele esteja disposto a receber-me na comunidade.”
O Mestre estava numa floresta, próxima à Kapilavastu. Mahaprajapati foi a ele e, numa voz tímida, disse-lhe:
“Mestre, somente você e seus discípulos podem realmente ser felizes. No entanto eu, também, como você e aqueles que lhe acompanham, desejo trilhar o caminho da salvação. Conceda-me o favor de admitir-me na comunidade, oh Bem-Aventurado.”
O Mestre permaneceu em silêncio. Ela continuou:
“Como posso ser feliz num mundo que eu desprezo? Conheço seus prazeres degradantes. Anseio por trilhar o caminho da salvação. Conceda-me o favor de admitir-me na comunidade, oh Bem-Aventurado. E conheço muitas mulheres que estão dispostas a seguir-me. Conceda-nos o favor de admitir-nos na comunidade, oh Bem-Aventurado.”
O Mestre ainda permaneceu em silêncio. Ela continuou:
“Meu palácio está triste e sombrio. A cidade está envolta em trevas. Os véus bordados pesam em demasia sobre a minha testa; as diademas, os braceletes e os colares machucam-me. Devo trilhar o caminho da salvação. Muitas mulheres sinceras, muitas mulheres de grande devoção estão prontas para seguir-me. Condescenda em admitir mulheres na comunidade, oh Bem-Aventurado.”
Pela terceira vez, o Mestre permaneceu em silêncio. Mahaprajapati, com os olhos cheios de lágrimas, retornou ao seu palácio sombrio.
Mas ela não aceitaria a derrota. Ela resolveu procurar o Mestre novamente e suplicar-lhe.
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm