A Bela de Cravasti

Naquele mesmo momento, no Parque de Jeta, o mestre indagava: “Quem está sofrendo hoje em Cravasti? A quem posso salvar do infortúnio? A qual ser infeliz posso eu estender a mão em sua ajuda?”

Através do seu poder divino, ele soube da angústia de Virupa. Ele voou até a casa de Ganga; e entrou. Virupa ainda estava viva. O Mestre soltou a corda que ela havia apertado em torno do seu pescoço. Ela respirou profundamente e olhou ao redor. Ela reconheceu o Mestre. Caiu aos seus pés e fez um voto de piedade. Então ele disse:

“Olhe-se num espelho, Virupa.”

Ela obedeceu. Ela soltou um grito de alegria e espanto. Estava tão bela quanto uma filha dos Deuses. Novamente ela quis reverenciar o Buda, mas ele havia desaparecido.

Neste ínterim, Ganga não havia sido poupado das brincadeiras de seus amigos.

“Por que você veio sem a sua esposa?”, eles lhe perguntavam. “Você está com medo de deixar-nos vê-la? Ela deve ser muito bonita. Marido ciumento!”

Ganga estava louco por uma resposta. A festa o entediava. Um dos seus amigos serviu-lhe uma taça de vinho intoxicante.

“Beba, Ganga”, disse ele. “Nós estamos rindo, e você está quase em lágrimas. Venha, ria conosco. Beba, esse vinho o ensinará a rir.”

Ganga pegou a taça. Bebeu. Ficou animado. Bebeu novamente. Naquele momento, ele estava bêbedo. E ficou bebendo até que, finalmente, caiu em sono profundo.

“Vamos correr até a sua casa, enquanto ele está dormindo”, disseram seus amigos. “Veremos a sua esposa, e descobriremos porque ele a mantém em clausura.”

Eles entraram na casa de Ganga. Virupa tinha o espelho em suas mãos; estava olhando para si. Seus olhos estavam brilhantes de felicidade. Todos os convidados lhe admiraram, e foram embora, silenciosamente, dizendo: “Agora compreendemos o ciúme de Ganga.”

Ganga ainda estava dormindo. Eles despertaram-lhe e disseram:

“Grande é a sua felicidade, amigo. O que você fez para que fosse tão agradável aos Deuses, e para merecer uma esposa de tão rara beleza?”

“Isto é demais!”, gritou Ganga. “O que fiz a vocês para que me insultassem tão cruelmente?”

E ele lhes deixou abruptamente. Estava furioso. Abriu a porta da sua casa; andou pelos corredores, proferindo imprecações; mas, de repente, as maldições morreram em seus lábios. Ele ficou pálido de espanto. Diante dele estava de pé uma linda mulher, de beleza incomparável. Ela estava sorrindo. Ele lentamente recobrou os seus sentidos; e então, também, ele sorriu, e perguntou:

“Oh você que aparece diante demim como uma Deusa radiante recém-nascida de seu canteiro de flores, oh bem-amada, quem te fez tão bela?”

Virupa contou-lhe a história. Daquele dia em diante, ela e seu marido conheceram a verdadeira felicidade, e ambos não perdiam oportunidade de evidenciar sua fé no Buda e demonstrar-lhe gratidão.

A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].

Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm

Por muccamargo

Físico, Mestre em Tecnologia Nuclear USP/SP-Brasil, Consultor de Geoprocessamento, Estudioso do Budismo desde 1987.

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