O Rei Prasenajit tinha uma filha chamada Virupa. Ela havia atingido a idade núbil. Desafortunadamente, ela era extremamente feia; nenhum príncipe ou guerreiro a queria como esposa, e mesmo os mercadores olhavam-na de soslaio.
Mas naquela ocasião, um rico estrangeiro veio viver em Cravasti. Seu nome era Ganga. O Rei pensou: “Ganga nunca viu minha filha. Talvez ele não se recuse a casar com ela”. E o convidou ao palácio.
Ganga sentiu-se altamente lisonjeado pela oferta de Prasenajit. Ele era de origem humilde, e embora como um mercador ele tivesse amealhado uma grande fortuna, jamais havia sonhado desposar uma princesa. Portanto, ele aceitou a proposta.
“Então, venha ao palácio esta noite”, disse o rei, “e leve minha filha para casa com você.”
Ele obedeceu. Era uma noite escura, e o casamento realizou-se sem que Ganga tivesse visto sua noiva. Então Virupa acompanhou o marido para sua casa.
Ganga viu a sua esposa no dia seguinte. Sua feiura o aterrorizou. Ele queria colocá-la para fora de casa, mas não se atrevia; ele temia a vingança do rei. Ele a manteve em casa, mas ela tornou-se virtualmente uma prisioneira; a ela não era permitido sair, por qualquer que fosse a razão.
Ela sentia-se muito infeliz. Em vão, ela dava ao seu esposo constantes provas da sua afeição; e ele somente demonstrava sua aversão e seu desprezo por ela. Ele nunca olhava para ela. Dificilmente dirigia-lhe a palavra, e Virupa sentia-se solitária e desamparada.
Certo dia, Ganga foi convidado a um banquete oferecido por alguns dos seus amigos. “Quem vier sem a esposa”, ele foi alertado, “será multado em quinhentas moedas de ouro.”
Ganga decidiu aceitar; aliviaria a monotonia de sua existência. Mas ele não queria mostrar Virupa para seus amigos; temia ser ridicularizado. “Pagarei as quinhentas moedas de ouro”, ele pensou, “e eles não debocharão de mim.”
Naquele dia, Virupa estava mais triste que de costume. Ela sabia onde seu marido havia ido, e chorou. Ela disse para si:
“Que bem há numa vida tão triste quanto a minha? Nunca tenho qualquer prazer. Meu mestre me odeia. E eu não posso culpá-lo; sou feia; todos me têm dito. Não trago alegria para ninguém. Oh, eu me odeio. A morte seria melhor do que essa vida que eu levo; a morte seria um alívio. Vou me matar.”
Ela pegou uma corda e enforcou-se.
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm