Um paralelo da Física para a visão Budista das inter-relações entre o homem e o meio-ambiente
2ª. Parte
Diferente da “certeza da vida” e do “universo constituído de objetos observáveis e manipuláveis”, que são noções fundamentais da ciência analítica, o mundo atômico revelou-se ser constituído de partículas que não existem com “certeza” em pontos (lugares) definidos; mas, apresentam “tendências a existir”. De forma semelhante, os eventos atômicos não ocorrem com “certeza” em momentos definidos e de modo definido; mas, apresentam “tendências de ocorrer”[15].
As inter-relações de uma partícula no mundo atômico, nunca isoladamente, irão determinar o padrão de probabilidades que representa as suas tendências a se encontrar nas diversas regiões do mundo atômico. Se uma partícula elementar do átomo possui um Carma, este Carma é o seu padrão de probabilidades. O ponto importante é que o padrão todo (ou seja, o somatório de todas as probabilidades, que é igual a 1) é que representa a partícula e lhe dá uma identidade. A partícula, portanto, não pode existir fora daquele padrão de probabilidades.
Isto implica na inseparabilidade da identidade da partícula e do conjunto de relações que determinam o seu padrão de existência. A teoria quântica revela assim, um estado de interconexão essencial entre a partícula e seu mundo (o átomo). A teoria quântica mostra que não podemos decompor o mundo atômico em suas menores partes, capazes de existir independentemente, sem perda das suas propriedades e relações essenciais naquele mundo. Mais do que isso, a teoria quântica força-nos a encarar o Universo Atômico não sob a forma de um conjunto de objetos, mas, sob a forma de uma complexa rede de inter-relações das partes num todo harmonioso e unificado[15]. Isto é facilmente aceitável para nós porque, em relação ao mundo atômico, a nossa visão segue uma ordem de longo-alcance, ou seja, podemos perceber o todo.
Por outro lado, investigar, observar e realizar medidas no mundo dos átomos significa interferir nessa rede de inter-relações. O cientista, portanto, não pode ser visto como um mero “observador” distanciado do processo. Ele se envolve, participa e influencia nas propriedades e no comportamento dos objetos observados. Isto é tão importante que, recentemente, foi proposta na Física a substituição da palavra “observação” por “participação”. Essa idéia, entretanto, é antiga e familiar aos Budistas.
A noção de “participação” é assim fundamental na reformulação de conceitos e na determinação de uma nova atitude básica do homem com relação ao mundo exterior. O Budismo levou essa noção ao extremo em que o observador e o observável; ou seja, Sujeito(TI) e Objeto(KYO) são inseparáveis no princípio do ESHO-FUNI.
Em “Resposta a Shijo Kingo”, o Buda Mestre da Lei Nitiren Daishonin revela:
“… A verdadeira entidade manifestada em todos os fenômenos indica os dois Budas, Sakyamuni e Taho. Taho representa todos os fenômenos, e Sakyamuni a Verdadeira Entidade. Os dois Budas também indicam os dois princípios do Objeto(KYO) e o Sujeito(TI) ou a Realidade Objetiva e a Sabedoria Subjetiva. Buda Taho significa Objeto, e Sakyamuni, Sujeito. Embora sejam dois, estão unidos na Iluminação do Buda. Essa entidade nada mais é senão o Nam-Myoho-Rengue-Kyo”(1).
A teoria quântica aboliu a noção de objetos fundamentalmente separados, introduziu o conceito de participação ao invés de observação, e pode vir a considerar necessário incluir a consciência, ou a “vontade”, ou a “determinação” humana em sua descrição do mundo[15]. Conforme alguns investigadores científicos, existem partículas elementares (subatômicas) que, sujeitas ao “campo mental” de diferentes observadores, exibem diferentes comportamentos.
Aqui, para provarmos a Teoria Quântica na Prática Budista, basta estendermos o que já é amplamente aceito pela primeira no restrito campo da Física das Partículas para o macrocosmo ou o Universo de todos os fenômenos. Eho significa meio-ambiente; Shoho significa todos os fenômenos ou entidade da vida independente; Funi significa inseparáveis, daí a expressão Esho-Funi. Com toda certeza, essa noção de participação ao permear as relações do homem com a natureza e as relações deste na sociedade; forçará esse mesmo homem a rever as relações da sua mente para consigo mesmo, sua individualidade concreta, seu corpo. Essa verdadeira revolução humana, efeito e causa simultâneos de uma nova atitude básica do homem, como uma bola de neve, constituirá fonte inesgotável de soluções para os problemas que afligem a humanidade neste final do século XX.
John Lennon, numa de suas canções mais inspiradas dizia: “imaginem um mundo sem fronteiras…”. Não é difícil. Basta iniciar pela remoção da fronteira entre o indivíduo e seu próprio mundo (interior e exterior). O indivíduo só existe como uma fusão destes dois mundos. Como a entidade da vida poderá sobrexistir à destruição de qualquer um deles?
[15] Capra, Fritjof – O TAO DA FÍSICA – Ed. Cultrix – São Paulo, 1983.
Estimado irmão,
Tenho mergulhado fundo na leitura gostosa dos seus textos.
Ainda que de forma simples, longe de ser algo enfadonho ou, exageradamente denso, você explana com a firmeza de quem domina muito bem o assunto, e com uma fluidez incomparável, brinda-nos a todos, com maestria, saberdoria e farta generosidade.
Parabéns
Sérgio de Carvalho e Camargo
Marcos
Acrescento à sua explanação, com a qual concordo inteiramente, uma irritabilidade minha. Não sou exatamente um patriota, longe disso, mas me irritam as pessoas, brasileiras natas, que se referem àqueles que cometem coisas condenáveis como “brasileiros”, ou ao país como “este país”. Coisas do tipo “o brasileiro joga lixo na rua” ou “neste ou nesse país as pessoas não têm educação”, quando ( supondo as duas afirmativas como verdadeiras ) o correto seria dizer algo como “nós brasileiros jogamos lixo na rua” e “no Brasil ou no nosso país não temos educação…”. Parto do princípio de que enquanto um brasileiro jogar lixo no chão, os brasileiros jogam; e que enquanto um brasileiro for mal educado, teremos uma divisão quase Comunista de desleixos.
O aparente paradoxo está no fato da afirmativa valer ao avesso para as virtudes. A partir do êxito de um patrício clamamos a virtude do povo todo. Aqui, por aparente paradoxo, não cabe a divisão de qualidades que os mais desavisados reclamariam por dedução supostamente lógica. A diferença é que, no primeiro caso, é comportamento adquirido e, no segundo, habilidade inata. O que devemos perceber nos dois casos é uma atitude antropofágica e ruminatória que come o que interessa e rumina o que não quer. A tudo, meu caro, chamo de “Visão Parcial”. Talvez este comportamento “tiroretista” seja comum também em outros povos…sei lá…Que o Budismo nos socorra.
o ser humano é um animal e destrói a cada dia o meio que vive
E QUE O CIENTISTA COMEÇO SEU PROPRIOS PASSO
Todos somos ser humano mais nois somos ser
racionais eos animais sao ser inracionais
foi de muito ajuda obrigado