A Transitoriedade da Existência Física

“Oh bom homem! Eu expus a transitoriedade daquilo que é não-físico, e o significado agora está estabelecido. Também, para o vosso benefício, explanarei a transitoriedade da existência física. Esse físico não possui qualquer qualidade eterna; basicamente, ele não tem vida. (Uma vez) nascido, ele deve morrer. Quando o corpo de uma pessoa ainda está no útero, no estágio de kalala (fetal), não há nada da entidade da vida [lá]. Porque ele muda quando nasce. Essas coisas do mundo objetivo como brotos, hastes e troncos também não possuem qualquer entidade (a priori), desde quando nascem, cada uma (dessas coisas) muda. Com base nisto, sabemos que todas as coisas físicas são transitórias. Oh bom homem! Todas as faculdades sensitivas dos humanos mudam ao longo do tempo; suas faculdades sensitivas [‘adhyatman-rupa’] são diferentes no estágio de kalala [estágio fetal, sete dias após a concepção], na fase de arbuda [segunda semana], ghana [quarto estágio], pesi [terceira semana], na gestação, no momento do nascimento, na infância, na juventude, e até a velhice. Assim, não se fica com ‘as coisas do mundo objetivo’.

Diferenças são notadas [tornam-se manifestas] em coisas como: brotos, hastes, galhos, folhas, flores e frutos. Também, além disso, oh bom homem! A percepção mental difere. Mudanças ocorrem desde o tempo do kalala (estágio fetal) até os dias da velhice. A percepção das coisas objetivas (físicas) também difere. A percepção difere nos estágios de broto, haste, folha, flor e fruto. A força difere desde o tempo do kalala até a velhice; forma e aparência diferem desde o tempo do kalala até a velhice; os resultados (retribuições) do carma diferem desde o tempo do kalala até os tempos da velhice; o nome difere desde o tempo do kalala até a velhice. As chamadas faculdades sensitivas dos humanos se decompõem, retornam e associam-se [no seu estado anterior]. Sabemos que isto é impermanente. Essas coisas do mundo objetivo como árvores, quebram e se juntam. Assim, as vemos como impermanentes. Uma coisa surge gradualmente. Então, sabemos que ela não deve ser eterna. Assim como ela (a vida) emerge gradualmente desde o tempo do kalala até o tempo da velhice; assim os brotos, frutos e sementes surgem. Então vemos que uma coisa física morre. Dessa forma, o que vemos é não-eterno.

Diferenças são notadas desde o tempo da morte do kalala até o tempo da morte do velho, e desde o tempo da morte do broto até o tempo da morte do fruto. Assim, vemos que o que existe é impermanência. Os mortais comuns não sabem isto. Como as coisas se procedem de maneira similar, eles concluem e dizem que aquilo que existe é eterno. Por esta razão, Eu digo não-eterno. Se existe o não-eterno, o que existe é sofrimento. Se existe sofrimento, isto nada mais é do que o impuro. Oh bom homem! Quando Kashyapa novamente indagou-me sobre isto, eu já havia respondido [sua questão] naquela ocasião.”

Excerto do Sutra do Nirvana, CAP. 20 – Sobre Ações Sagradas 2.

Por muccamargo

Físico, Mestre em Tecnologia Nuclear USP/SP-Brasil, Consultor de Geoprocessamento, Estudioso do Budismo desde 1987.

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