“Como o Bodhisattva-Mahasattva pensa sobre o Dharma? O bom homem! O Bodhisattva-Mahasattva pensa: ‘O Dharma pregado por todos os Budas é Todo-Maravilhoso e Supremo’. Baseando-se nesse Dharma, os seres chegam à fruição da vida presente. Somente esse Dharma Maravilhoso não conhece o tempo. Aquilo que o Olho-do-Dharma vê não é o que os olhos carnais vêem. E nenhuma analogia pode equiparar-se [expressá-lo]. O Dharma não é algo nascido, e não morre; não permanece, nem se extingue. Não há começo e nem fim. Não é criado e não é mensurável [não pode ser contado ou calculado]. Para os sem-teto, torna-se sua casa; para os sem-refúgio e sem-teto, ele é um refúgio. Para alguém sem luz, ele é luz. Para alguém que ainda não chegou à outra margem, ele permite-lhe alcançar a outra margem; para alguém que não possui fragrância, ele torna-se exalante fragrância. Não pode ser visto. Não se move; não muda. Apartando-se eternamente de todos os prazeres, o que existe é paz e felicidade. É o Inexcedível e Todo-Maravilhoso.
Não é matéria [‘rupa’] e está separado da matéria. E ainda é matéria. O mesmo se aplica aos demais [‘cinco skandhas’] até a consciência. Não é consciência e está separado da consciência. E [ainda] é consciência. Não é ação e está separado da ação. Não é ligação, nem ruptura das ligações. Não é substância e está separado da substância, e ainda é substância. Não é o mundo e está separado do mundo, e ainda é o mundo. Não é ‘é’ e está separado do ‘é’, e ainda é o ‘é’. Não é ‘entrada’ e está separado da ‘entrada’, e ainda é ‘entrada’. Não é causa e está separado da causa, e ainda é causa. Não é efeito e está separado do efeito. Não é falso e nem verdadeiro, e está separado de tudo que é verdadeiro, e ainda é verdadeiro. Não é algo nascido, não morre, e está muito distante do nascimento e extinção, e ainda é extinção. Não possui forma que possa ser vista e não é não-forma, e está separado de tudo que pode ser visto, e ainda é forma. Não é um ensino e nem um não ensinamento, e ainda é o professor. Não é medo e nem paz, e está separado de todos os temores, e ainda é paz. Não é paciência [‘ksanti’] e não é não-paciência, e está muito distante da paciência, e ainda é paciência. Não é tranqüilidade [‘samatha’], e não é não-tranquilidade, está distante de toda a tranqüilidade, e ainda é tranqüilidade. É o topo [‘murdhana’] de todas as leis (dharmas), e separa-se de todas as impurezas. É puro, não tem forma para descrevê-lo, e está distante de todas as formas. É o último estágio de todos os inumeráveis seres. Está distante das chamas ardentes de todos os nascimentos e mortes. Isto é onde os Budas se comprazem. É o Eterno, e não há mudança. Este é o pensamento do Bodhisattva sobre o Dharma.”
Excerto do Sutra do Nirvana, CAP. 23 – Sobre Ações Puras 3.
