Então, o Honrado-pelo-Mundo, o Guia Todo-Compassivo, entrou no Samadhi do Luar para o benefício de Ajatasatru. Ao entrar neste Samadhi, uma grande luz emanou. A luz era pura e fria, e foi para onde estava o rei e resplandeceu sobre o seu corpo. As feridas do seu corpo sararam, e as dores dilacerantes desaparecem. Liberto das dores das feridas e sentindo pureza e frescor no corpo, o rei disse a Jivaka: “Certa vez, ouvi pessoas dizerem que quando o kalpa chega ao fim, três luas aparecem simultaneamente. Naquela ocasião, os sofrimentos dos seres são todos extintos. Esse tempo (do final do kalpa) ainda não chegou. Então, de onde vem essa luz? Ela resplandece sobre mim e toca-me; cura todas as minhas feridas e meu corpo se sente em paz.”
Jivaka respondeu: “Não é que o kalpa esteja acabando e três luas estejam aparecendo e brilhando. Isto também não é a luz de Marte, o Sol, ou as constelações, ou uma erva medicinal, uma jóia, ou a luz dos céus.”
O rei ainda disse: “Se isto não é a luz das três luas, ou de uma jóia, então que luz é esta?
“Oh grande Rei! Essa é a luz do Deus dos deuses. Essa luz não tem fonte; ela é ilimitada. Não é quente, nem fria, nem eterna; não morre; não é matéria, nem não-matéria; não tem expressão exterior; nem é não-fenomenal; não é azul, nem amarela, nem vermelha e nem branca. É vista somente onde há um desejo de salvar. Ela tem suas características e (não) pode ser explicada. Ela tem uma fonte, limite, calor, frio, azul, amarelo, vermelho e branco. Oh grande Rei! Embora essa luz possua tais aspectos de um fenômeno, não é possível explicá-la. Ela não pode ser vista; e nem há nela o azul, o amarelo, o vermelho ou o branco.”
O rei disse: “Oh Jivaka! Por que o Deus dos deuses emite essa luz?”
Jivaka respondeu: “Ora, esses sinais auspiciosos são para você, grande Rei. Oh Rei! Há pouco você disse que não havia um bom médico no mundo que pudesse curar seu corpo e mente. Por essa razão, essa luz foi enviada previamente. Ele (o bom médico) primeiro cura seu corpo, e então sua mente.”
O rei disse: “Oh Jivaka! Será que o Tathagata-Honrado-pelo-Mundo pensa em nós?”
Jivaka respondeu: “Como um exemplo: uma pessoa tem sete filhos. Um dos sete está doente. Não é que o pensamento do pai e da mãe não seja equânime, mas sua mente se inclina para aquele que está doente. Oh grande Rei! O mesmo se passa com o Tathagata. Ele é imparcial, mas ainda assim o seu pensamento está concentrado naquele que é pecador. A compaixão se volta para aquele que é indolente, e sua mente é liberada daquele que é não-indolente. Quem é não-indolente? Isto se refere aos Bodhisattvas do sexto estágio. Oh grande Rei! O Buda-Todo-Honrado-pelo-Mundo não vê qualquer diferença de casta, se é jovem, velho ou de meia-idade; se é rico ou pobre; o tempo, sol, lua, constelações; se humilde, pajem, empregada, ou a habilidade para o trabalho; mas vê, em meio aos seres, aquele que tem uma boa mente. Se alguém tem um bom pensamento, sua compaixão age. Oh grande Rei! Por favor, saiba que esses sinais auspiciosos indicam o fato que o Tathagata agora está no Samadhi do Luar. Por isso, essa luz.”
O rei indagou: “Samadhi do Luar?”
Jivaka respondeu: “Isto é como a luz do luar, que faz com que todos os botões da utpala (lótus) abram esplendorosamente suas pétalas. Assim também age o Samadhi do Luar. Ele abre completamente as pétalas do bom pensamento dos seres. Assim, o chamamos ‘Samadhi do Luar’. Por exemplo, a luz do luar realmente alegra o coração de todos que viajam. Assim faz o Samadhi do Luar. Ele realmente desperta a alegria nas mentes daqueles que viajam sob a proteção do Nirvana. Portanto, dizemos ‘Samadhi do Luar’. Oh grande Rei! A luz da lua aumenta diariamente na sua forma e brilho, do primeiro dia do mês (lunar) até o décimo-quinto dia. O mesmo se passa com o ‘Samadhi do Luar’. A raiz do primeiro rebento de todas as boas ações cresce gradativamente, e termina na realização do Grande Nirvana. É também por essa razão que dizemos ‘Samadhi do Luar’. Oh grande Rei! Por exemplo, a forma e o brilho do luar, do décimo-sexto ao trigésimo dia, diminuem gradualmente em tamanho. É o mesmo com o Samadhi do Luar. Onde quer que ele resplandeça, ele reduz, gradualmente, todas as impurezas. Assim dizemos ‘Samadhi do Luar’. Oh grande Rei! Em tempos de grande calor, todos os seres sempre pensam no (frescor do) luar. Conforme o luar aparece, o calor sufocante se vai. É o mesmo com o Samadhi do Luar. Ele dissipa completamente a febre da ganância e das preocupações. Oh grande Rei! Por exemplo, a lua-cheia é a rainha de todas as estrelas e é chamada ‘amrta’ [ambrosia da imortalidade]. Todos os seres a amam. É o mesmo com o Samadhi do Luar. Ele é o rei de todas as boas ações, é o amrta, e é amado por todos. Por essa razão, dizemos ‘Samadhi do Luar’.”
Excerto do Sutra do Nirvana, CAP. 25 – Sobre Ações Puras 5.
