Ele decidiu, no entanto, andar mais uma vez através da cidade.
Mas os Deuses fizeram um homem afligido por uma doença repugnante, e colocaram-no na estrada que Siddhartha havia tomado.
Siddhartha viu o homem doente; ele o fitou, e indagou ao cocheiro:
“O que é este homem com essa barriga inchada? Seus braços emaciados pendem flácidos, está pálido e gritos de lamento escapam dos seus lábios. Está ofegante; veja, cambaleia e empurra os transeuntes; está caindo. Cocheiro, cocheiro, o que é este homem?”
O cocheiro respondeu:
“Meu senhor, este homem sofre o tormento da doença, pois ele tem o mal do rei. Ele é a fraqueza em si; no entanto ele, também, certa vez foi saudável e forte!”
O príncipe olhou para o homem com piedade, e indagou novamente:
“Essa aflição é peculiar a esse homem, ou todas as criaturas são ameaçadas pela doença?”
O cocheiro respondeu:
“Nós, também, poderemos ser visitados por semelhante aflição, oh príncipe. A doença oprime o mundo.”
Quando ele ouviu essa verdade dolorosa, começou a tremer feito um raio de luar refletido nas ondas do mar, e pronunciou essas palavras de amargura e pena:
“Os homens vêem o sofrimento e a doença, e mesmo assim nunca perdem sua auto-confiança! Oh, quão grande deve ser a sua sabedoria! São constantemente ameaçados pelas doenças, e ainda assim conseguem rir e ser felizes! Dê meia volta nos cavalos, cocheiro; nosso passeio de lazer está encerrado; retornemos ao palácio. Aprendi a temer a doença. Minha alma afasta-se do prazer e parece fechar-se como uma flor desprovida da luz.”
Envolto em pensamentos dolorosos, ele retornou ao palácio.
O Rei Suddhodana notou o semblante sombrio de seu filho. Ele perguntou por que o príncipe já não saía a passeio, e o cocheiro disse-lhe o que havia acontecido. O rei entristeceu; já se sentia abandonado pela criança que ele adorava. Perdeu a sua compostura habitual e dirigiu toda a raiva para o homem cuja obrigação era assegurar que todas as ruas estivessem limpas; ele o puniu, mas seu hábito de ser indulgente era tão forte que a punição foi leve. E o homem ficou atônito ao ser assim repreendido, por não ter visto nem um homem velho e nem um homem doente.
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm