O rei agora estava mais ansioso do que nunca para evitar que seu filho deixasse o palácio. Ele lhe proporcionou raros prazeres, mas nada, ao que parece, poderia suscitar Siddhartha. E o rei pensou: “Permitirei a ele sair uma vez mais! Talvez ele recupere a alegria que perdeu.”
Ele deu ordens estritas para que todos os aleijados e todos od que estivessem doentes ou velhos fossem retirados da cidade. Até mesmo trocou o cocheiro do príncipe, e tinha certeza de que desta vez não aconteceria nada que perturbasse a alma de Siddhartha.
Mas os Deuses invejosos fizeram um cadáver. Quatro homens carregavam-no, e outros seguiam atrás, chorando. E o cadáver, tanto quanto os homens que o carregavam e o seguiam chorando, eram visíveis somente para o príncipe e o cocheiro.
E o filho do rei indagou:
“O que é este que está sendo carregado por quatro homens, seguido por aqueles outros, trajando roupas escuras e chorando?”
O cocheiro deveria preservar a sua serenidade, mas foi por vontade dos Deuses que ele respondeu:
“Meu senhor, ele não tem mais inteligência, nem sentimento, nem respiração; ele dorme, inconsciente, como grama ou um pedaço de madeira; prazer e sofrimento são sem significado para ele agora, e tanto amigos quanto inimigos o abandonaram.”
O príncipe ficou perturbado. Ele disse: “Essa condição é peculiar a esse homem, ou esse mesmo fim aguarda todas as criaturas?”
E o cocheiro respondeu: “Esse mesmo fim aguarda todas as criaturas. Sejam esses de origem humilde ou nobre, a cada ser que viva neste mundo, a morte virá inevitavelmente.”
Então o Príncipe Siddhartha conheceu o que era a morte.
A despeito de sua fortaleza, ele estremeceu. Ele teve que encostar a carruagem, e suas palavras eram cheias de angústia:
“Então, a isto o destino conduz todas as criaturas! Mesmo assim, sem medo em seus corações, os humanos divertem-se de mil maneiras diferentes! A morte está próxima (a espreita), e eles tomam os caminhos do mundo com uma canção em seus lábios! Oh, começo a pensar que a alma humana endureceu! Dê meia volta em seus cavalos, cocheiro; não é hora de passear pelos jardins em flores. Como pode um homem sensível, um homem que sabe o que é a morte, procurar prazer nas horas de angústia?”
Mas o cocheiro continuou a dirigir em direção ao jardim para onde o rei ordenou-lhe levar seu filho. Lá, por ordem de Suddhodana, Udayin, que era um filho do sacerdote da família e amigo de Siddhartha desde a infância, havia reunido muitas belas donzelas, peritas na arte da dança e da música, e também peritas nas brincadeiras de amor.
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm