A sexta semana ele foi à uma figueira onde pastores costumavam reunir-se. Lá, alguns Deuses esperavam-no, e curvaram-se humildemente conforme ele se aproximou. Ele disse:
“A mansidão é doce para quem conhece a lei; a bondade é doce para quem pode ver; a mansidão é doce para todas as criaturas; a bondade é doce para todas as criaturas. Bem-Aventurado é aquele que não tem desejo no mundo; Bem-Aventurado é aquele que conquistou o pecado; Bem-Aventurado é aquele que escapou da tortura dos sentidos; Bem-Aventurado é aquele que não mais anseia pela existência!”
A sétima semana ele permaneceu sob a árvore da sabedoria.
Dois irmãos, Trapusha e Bhallika, estavam retornando para os países do norte. Eles eram mercadores e tinham quinhentas carroças em seu comboio. Conforme eles se aproximaram da árvore, as carroças pararam. Inutilmente os condutores tentavam encorajar ou incitar os animais que as puxavam; eles não podiam avançar um passo sequer. As rodas continuaram a afundar na lama até os cubos. Trapusha e Bhallika ficaram alarmados, mas um Deus que apareceu tranqüilizou-lhes e disse:
“Caminhem um pouco, oh mercadores, e encontrarão alguém a quem vocês devem prestar homenagem.”
Trapusha e Bhallika viram o Bem-Aventurado. Sua face estava radiante.
“É o Deus de algum rio, ou é o Deus da Montanha”? eles imaginaram. “Seria ele Brahma em pessoa”?
Mas ao olhar as suas vestes, eles pensaram:
“Ele deve ser algum Monge. Quem sabe gostaria de algo para comer.”
Trapusha e Bhallika foram até a carroça que carregava as provisões. Encontraram tabletes de farinha com mel, e trouxeram-nos ao Buda.
“Pegue-os, homem santo”, disseram, oferecendo-lhe os tabletes, “pegue-os e tenha misericórdia de nós.”
O Bem-Aventurado não tinha uma tigela na qual receber esmolas. Não sabia o que fazer. Os Deuses, que a tudo assistiam dos quatro cantos da terra, viram a sua perplexidade, e rapidamente trouxeram-lhe tigelas feitas de ouro. Mas o Bem-Aventurado disse para si:
“Na verdade, seria impróprio para um Monge receber esmolas numa tigela de ouro.”
E ele recusou as tigelas de ouro. Os Deuses então trouxeram-lhe tigelas de prata, as quais ele também recusou. Ele igualmente recusou tigelas de esmeralda, e aceitaria apenas tigelas feitas de pedra.
Ele então recebeu os tabletes que os mercadores lhes ofereceram. Quando terminou a refeição, ele disse:
“A bênção dos Deuses estará com vocês, mercadores! Prosperem e sejam felizes!”
Trapusha e Bhallika curvaram-se, e ouviram um Deus dizer-lhes:
“Aquele que está diante de vocês atingiu a suprema sabedoria. Esta foi a sua primeira refeição desde que ele encontrou o caminho para a libertação, e a vocês coube a honra de oferecê-la a ele. Ele agora irá através do mundo e ensinará a verdadeira lei”.
Trapusha e Bhallika regozijaram, e tornaram-se os primeiros a professar sua fé no Buda, e na lei.
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm