A Pacificação dos Descontentes

O número de crentes foi aumentando constantemente, e o Rei Bimbisara reiteradamente dava provas ao Mestre da sua fé e amizade. Ele frequentemente o convidava ao palácio e oferecia-lhe um assento em sua mesa, e em tais ocasiões ele ordenava a cidade a manter uma aparência festiva. As ruas eram atapetadas com flores, e as casas decoradas com bandeiras e estandartes. As mais doces fragrâncias preenchiam o ar, e os habitantes trajavam-se nas suas roupas mais brilhantes. O próprio rei vinha adiante para comprimentar o Bem-Aventurado e protegia-lhe do sol com seu parassol dourado.

Rei Bimbisara
O Rei Bimbisara, retratado em arte Birmanesa, oferecendo seu reino para o Buda. Imagem Via Wikipedia, a enciclopédia livre.

Muitos jovens da nobreza depositaram toda a sua fé na lei ensinada pelo Bem-Aventurado. Queriam tornar-se santos; abandonaram a família e a fortuna, e o Bosque dos Bambús logo ficou cheio com os devotos discípulos.

Mas havia muitos em Rajagriha que estavam perturbados ao ver o grande número de conversões que o Buda estava fazendo, e foram cidade afora vociferando a sua raiva.

“Por que ele se instalou em nosso meio, esse filho dos Shakyas?”, perguntavam. “Já não há monges o bastante, pregando-nos sobre virtudes? E eles não seduziram os nossos jovens a gostar desse mestre? Por que, mesmo as nossas crianças estão nos deixando? Devido a esse filho dos Shakyas, quantas mulheres estão nas janelas! Devido a esse filho dos Shakyas, quantas famílias estão sem seus filhos! O mal cairá sobre o reinado, agora que esse monge se instalou em nosso meio.”

O Mestre logo adquiriu uma grande quantidade de inimigos entre os habitantes da cidade. Sempre encontravam seus discípulos, zombavam deles ou faziam comentários sarcásticos.

“O grande monge veio à cidade de Rajagriha e conquistou o Bosque dos Bambús; agora irá conquistar todo o reinado de Magadha?”, disse alguém ao passar.

“O grande monge veio à cidade de Rajagriha e levou os discípulos de Sanjaya para longe dele; quem ele seduzirá hoje?”, disse um outro.

“Uma praga seria menos prejudicial do que esse grande monge”, disse um terceiro; “mataria menos crianças.”

“E ele deixaria menos viúvas”, suspirou uma mulher.

Os discípulos não responderam. Mas sentiam uma raiva crescente da população, e falaram ao Mestre das palavras maldosas que ouviram.

“Não se deixem perturbar, oh discípulos”, respondeu o Buda. “Eles logo cessarão. Àqueles que os seguem com vaias e insultos, digam palavras calmas e gentis. Diga-lhes: ‘é porque ele sabe a verdade, a verdade real, que o herói convence, que o perfeito converte. Quem se atreve a ofender o Buda, o Santo que converte pelo poder da verdade’? Então eles silenciarão, e em poucos dias, quando vocês perambularem através da cidade, encontrarão apenas (aqueles) com respeito e louvor.”

Aconteceu como o Buda disse. As vozes maldosas foram silenciadas, e cada um em Rajagriha prestou honra aos discípulos do Mestre.

A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].

Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm

Por muccamargo

Físico, Mestre em Tecnologia Nuclear USP/SP-Brasil, Consultor de Geoprocessamento, Estudioso do Budismo desde 1987.

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