Dois jovens brâmanes, Shariputra e Maudgalyayana, viviam naquela ocasião na cidade de Rajagriha. Eram amigos íntimos e ambos pupilos do eremita Sanjaya. Um ao outro haviam feito essa promessa: “Qualquer um de nós que obtenha primeiramente a libertação da morte, imediatamente dirá ao outro.”
Certo dia, Shariputra viu Asvajit a angariar esmolas nas ruas de Rajagriha. Ele ficou admirado com o seu semblante agradável, seu comportamento nobre e modesto, sua postura digna e tranquila. Ele disse para si:
“Realmente, já existe um monge que, neste mundo, encontrou o caminho certo para a santidade. Devo ir até ele; devo indagar-lhe sobre quem é seu mestre e que lei ele segue.”
Mas então ele pensou:
“Esta não é a ocasião apropriada para questioná-lo. Ele está a angariar esmolas; não devo perturbá-lo. Irei seguí-lo, e quando ele estiver satisfeito com os oferecimentos que recebeu, me aproximarei e conversarei com ele.”
O venerável Asvajit logo parou de solicitar por esmolas. Então Shariputra foi a ele e cumprimentou-o de uma maneira amigável. Asvajit retribuiu o cumprimento de Shariputra.
“Amigo”, disse Shariputra, “sereno é o seu semblante, límpido e radiante é o seu olhar. Quem o persuadiu a renunciar o mundo? Quem é seu mestre? Que lei você segue?”
“Amigo”, respondeu Asvajit, “aquele grande monge, o filho dos Shakyas, é meu mestre.”
“O que seu mestre diz, amigo; o que ele ensina?”
“Amigo, eu abandonei o mundo, mas recentemente; conheci a lei há pouco tempo; não posso expô-la extensivamente, mas posso dar-lhe o espírito dela resumidamente.”
“Faça-o, amigo”, exclamou Shariputra. “Diga pouco ou muito, como lhe aprouver; mas dê-me o espírito da lei. A mim só importa o espírito.”
O venerável Asvajit falou essa única sentença:
“O Perfeito ensina a causa, o Perfeito ensina os fins.”
Shariputra regozijou-se nessas palavras. Foi como se a verdade tivesse sido revelada a ele. “Tudo o que é nascido tem um fim”, ele pensou. Ele agradeceu Asvajit e, cheio de alegria, foi ao encontro de Maudgalyayana.
“Amigo”, disse Maudgalyayana quando viu Shariputra, “amigo, quão sereno é o seu semblante! Quão límpido e radiante é o seu olhar! Você obteve a libertação da morte?”
“Sim, amigo. Próximo a Rajagriha, existe um mestre que ensina a libertação da morte.”
Shariputra contou sobre seu encontro, e os dois amigos decidiram ir ao Bem-Aventurado. Seu mestre, Sanjaya, tentou dissuadi-los.
“Fiquem comigo”, disse ele; “Darei a vocês uma posição de eminência em meio aos meus discípulos. Vocês se tornarão mestres e serão iguais a mim.”
“Por que desejaríamos ser iguais a você? Por que disseminaríamos a ignorância? Sabemos agora que seus ensinamentos não valem a pena. Nos transformaria em mestres da ignorância.”
Sanjaya continuou a exortá-los; subitamente, um sangue quente jorrou da sua boca. Os dois amigos recuaram horrorizados.
Eles o deixaram e foram ao Buda
“Aqui”, disse o Mestre ao vê-los aproximarem-se, “aqui estão os dois homens que serão os principais entre meus discípulos.”
E ele alegremente os recebeu na comunidade.

A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm