Neste ínterim, Jalin e Krishnajina haviam chegado ao seu novo lar. A esposa do brâmane ficou muito satisfeita com esses dois jovens escravos, e não perdeu tempo em colocá-los para trabalhar. Ela se deleitava em dar ordens, e as crianças tinham que obedecer ao seu menor capricho. No início, eles fizeram o possível para satisfazer os seus desejos, mas ela era uma ama tão exigente que logo eles perderam toda a vontade de agradá-la, e muitas foram as repreensões e castigos que eles receberam. Quanto mais severamente eles eram tratados, mais desencorajados se tornavam, e a mulher, finalmente, disse ao brâmane: “Não posso fazer nada com essas crianças. Venda-os e traga-me outros escravos, escravos que saibam como trabalhar e obedecer”. O brâmane pegou as crianças e foi de cidade em cidade, tentando vendê-los, mas ninguém compraria: o preço era muito alto. Ele finalmente chegou a Jayatura. Um dos conselheiros do rei passou por eles na rua; olhou para as crianças, seus corpos emaciados e faces queimadas pelo sol, e de repente, reconheceu-os por seus olhos. Ele parou o brâmane e indagou: “Onde você obteve essas crianças”? “Eu as obtive na floresta da montanha, meu senhor”, respondeu o brâmane. “Eles foram dados a mim para escravos; eram indisciplinados, e agora estou tentando vendê-los”. O conselheiro do rei ficou ansioso, voltou-se para as crianças e indagou: “Será que essa servidão significa que seu pai está morto”? “Não”, respondeu Jalin, “ambos nossos pais estão vivos, mas meu pai deu-nos para esse brâmane”. O conselheiro correu para o palácio do rei. “Meu senhor”, ele gritou, “Visvantara deu seus netos, Jalin e Krishnajina, a um brâmane. Eles são seus escravos. Ele está insatisfeito com seus serviços, e está levando-os de cidade em cidade, com a intenção de vendê-los”! O Rei Sanjaya ordenou ao brâmane que as crianças fossem logo trazidas para diante dele. Elas logo foram encontradas, e quando o rei viu a miséria que havia advindo a essas crianças da sua raça, ele chorou amargamente. Jalin dirigiu-se a ele numa voz suplicante: “Compre-nos, meu senhor, pois somos infelizes na casa do brâmane, e desejamos viver com você, que nos ama. Mas não tome-nos a força; nosso pai deu-nos ao brâmane, e desse sacrifício ele espera receber uma grande bênção, para si e para todas as criaturas”. “Qual o preço que você quer pelas crianças”?, indagou o rei ao brâmane. “Você pode obtê-las por mil cabeças de gado”, respondeu o brâmane. “Muito bem”! O rei voltou-se para o seu conselheiro e disse: “Você que agora assumirá um posto próximo a mim em meu reinado, dê a esse brâmane as mil cabeças de gado, e pague-lhe também mil medidas de ouro”. Então o rei, acompanhado por Jalin e Krishnajina, foi à Rainha Phusati. Ao ver os seus netos, ela ria e chorava de alegria; vestiu-lhes em roupas finas, e deu-lhes anéis e colares para usar. Então, ela indagou-lhes sobre seu pai e sua mãe. “Eles vivem numa cabana rude, na floresta, ao sopé de uma montanha”, disse Jalin. Eles têm doado todas as suas posses. Vivem de frutos e água, e suas únicas companhias são os animais selvagens da floresta”. “Oh, meu senhor”, clamou Phusati, “você não resgatará seu filho do exílio”?

A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm
Disse, certa vez, Gibran Khalil Gibran:
– Nossos filhos não são nossos! Na verdade, eles nos são dados por empréstimo!
Marcos,
Belíssimo texto, riquíssimo nas suas entrelinhas!
Forte abraço.
Foi exatamente o que me descreveu na mesa do café lá no aeroporto de Confins. Obrigada pela homenagem, o texto é lindo!!!
TE AMO.
Sua filha,
Fernanda.