De Vaisali, o Mestre seguiu para Cravasti, para o Parque de Jeta. Certo dia, o Rei Prasenajit veio vê-lo. “Meu Senhoor”, disse o rei, “seis eremitas chegaram recentemente em Cravasti. Eles não acreditam na sua lei. Eles sustentam que o seu conhecimento não se iguala ao deles, e eles tentaram me surpreender realizando numerosos prodígios. Creio que suas declarações não são verdadeiras, mas seria bom, meu Senhor, que você fosse frustrar a sua audácia. A salvação do mundo depende da sua glória. Então, apareça diante desses fraudadores e impostores, e cale-os.”
“Rei”, respondeu o Mestre, “ordene que um grande salão seja construído próximo à cidade. Conclua-o em sete dias. Seguirei para lá. Providencie para que esses eremitas maldosos estejam presentes, e então você verá quem realiza os maiores prodígios, eles ou Eu.”
Prasenajit ordenou que o salão fosse construído.
Enquanto se aguardava o dia do julgamento, os eremitas mentirosos procuraram iludir os fiéis seguidores do Mestre, e aqueles que se recusavam a ouvir as suas más palavras incorriam na sua implacável inimizade. Agora, o Mestre não tinha nenhum amigo mais verdadeiro em Cravasti do que o Príncipe Kala, um irmão de Prasenajit. Kala havia demonstrado o seu desprezo pelos eremitas, e eles decidiram vingar-se.
Kala era um homem muito bonito. Certo dia, quando estava caminhando pelos jardins reias, ele encontrou uma das esposas de Prasenajit, e ela alegremente atirou-lhe uma guirlanda de flores. Os eremitas ouviram sobre esse incidente, e disseram ao rei que seu irmão havia tentado seduzir uma de suas esposas. O rei ficou furioso, e sem dar a Kala uma chance para se justificar, cortou-lhe as mãos e os pés.
O pobre Kala sofreu amargamente. Seus amigos ficavam em torno do seu leito, chorando. Aconteceu de um dos eremitas maldodos passar por ali.
“Venha, mostre o seu poder”, disseram-lhe. “Você sabe que Kala é inocente. Torne-o bom novamente!”
“Ele acredita no filho dos Shakyas”, respondeu o eremita. “Cabe ao filho dos Shakyas torná-lo bom novamente.”
Então Kala começou a cantar:
“Como pode o Mestre dos mundos falhar em ver a minha miséria? Veneremos o Senhor que não mais conhece o desejo; adoremos o Bem-Aventurado que tem piedade de todas as criaturas.”
Ananda subitamente apareceu diante dele.
“Kala”, disse ele, “o Mestre ensinou-me as palavras que curarão as suas feridas.”
Ele recitou alguns poucos versos, e o príncipe imediatamente recuperou os seus membros.
“Doravante”, ele exclamou o príncipe, “servirei ao Mestre! Por mais humildes (degradantes) que sejam as tarefas que ele me atribua, as realizarei com alegria, para satisfazê-lo.”
E seguiu com Ananda para Jetavana, o Parque de Jeta. O Mestre o recebeu carinhosamente, e admitiu-lhe na comunidade.

A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm