O Cenário
Serena e magnífica era esta cidade onde outrora habitou o grande eremita Kapila. Parecia ser edificada a partir de fragmentos do céu: as muralhas eram como nuvens de luz, e suas edificações e jardins irradiavam um esplendor divino. Pedras preciosas cintilavam em todos os lugares. Para dentro de seus portões, a escuridão era tão pouco conhecida quanto a pobreza. À noite, quando raios prateados de luar tocavam cada torre, a cidade tornava-se parecida com um lago de lírios; ao dia, quando os terraços eram banhados pela luz dourada (do sol), a cidade tornava-se parecida com um lago de lótus.
O Rei Suddhodana reinou em Kapilavastu. Ele era o seu mais brilhante ornamento. Era gentil e generoso, modesto e justo. Ele perseguiu seus mais valentes inimigos, os quais caíram diante dele na batalha como elefantes abatidos por Indra; e como a escuridão é dissipada pelos penetrantes raios de sol, assim os ímpios foram vencidos pela sua glória radiante. Ele trouxe a luz para o mundo, e apontou o verdadeiro caminho para aqueles que estavam juntos a ele. Sua grande sabedoria atraíram-lhe muitos amigos, muito corajosos, amigos sagazes, e assim como as luzes das estrelas intensificam o brilho da lua, intensificava-se o brilho do seu esplendor.
Soddhodana, Rei do Clã dos Shakyas, havia desposado muitas rainhas. Sua favorita dentre aquelas era Maya.
Ela era muito bela. Era como se a própria Deusa Lakshmi devaneasse pelo mundo. Quando ela falava, era como o cântico dos pássaros na primavera, e suas palavras eram doces e agradáveis. Seus cabelos eram da cor da abelha negra; sua fronte tão casta quanto um diamante; seus olhos tão ternos quanto uma jovem folha do lótus azul; e nenhuma carranca demarcava as curvas requintadas das suas sobrancelhas.
Era virtuosa. Desejava a felicidade de seus súditos; era atenciosa quanto aos preceitos piedosos (recebidos) de seus professores. Era verdadeira, e sua conduta exemplar.
O Rei Suddhodana e a Rainha Maya viveram felizes e tranqüilamente em Kapilavastu.

A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm
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