Através do seu poder divino, o Buda sabia do desejo do Rei. Ele voou através do ar e veio à árvore de Alavaka. Lá, ele sentou.
O Deus o viu. Começou a caminhar em sua direção, mas, subitamente, tornou-se impotente. Seus joelhos tremiam. A fúria se apoderou dele.
“Quem é você?”, ele perguntou, ferozmente.
“Um ser muito mais poderoso do que você”, respondeu o Buda.
Alavaka ficou com uma raiva terrível. Ele gostaria de torturar este homem que estava sentado no chão diante dele, este homem a quem ele não podia alcançar; ele gostaria de torturá-lo até a morte. O Buda, em nenhum momento, perdeu sua compostura.
Alavaka finalmente recobrou o controle de si. Ele pensou que a astúcia talvez tivesse sucesso onde a força falhou, e numa voz amigável ele disse:
“Vejo que você é um homem sábio, meu Senhor; é sempre um prazer para mim questionar homens de sabedoria. Coloco-lhes quatro questões. Se puderem responder, estarão livres para ir onde quer que queiram; se não puderem responder, permanecerão meus prisioneiros, e eu lhes devoro quando estiver disposto.”
“Coloque-me as questões”, disse o Buda.
“Devo adverti-lo”, disse Alavaka, “que nunca niguém as respondeu. Você encontrará, espalhados ao redor, os ossos daqueles que eu interroguei no passado.”
“Coloque-me as quatro questões”, respondeu o Buda.
“Muito bem”, disse Alavaka, “como pode um homem evitar o rio das paixões? Como pode ele atravessar o mar das existências e encontrar um porto seguro? Como pode ele escapar das tempestades do mal? Como pode ele permanecer intocado pela tempestade dos desejos?”
Numa voz calma, o Buda respondeu:
“O homem evita o rio das paixões se ele acredita no Buda, na Lei e na Comunidade (Sangha); ele atravessa o mar das existências e encontra um porto seguro se ele compreende as obras de santidade; ele escapa das tempestades do mal se ele realiza obras de santidade; ele permanece intocado pela tempestade dos desejos se ele conhece o caminho sagrado que conduz à libertação.”
“Rei”, disse o Deus (Alavaka), “libertá-lo-ei da sua promessa”.
O rei ficou mais feliz do que jamais esteve antes. Quando ele soube quem havia lhe salvado, ele gritou:
“Acredito em vós, meu Senhor, que salvou a mim e ao meu povo; acredito em vós, e dedicarei minha vida a proclamar a Vossa glória, a glória da Lei (Dharma) e a glória da Comunidade (Sangha)”.
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm