O monge Devadatta ficou possído de uma natureza arrogante. Era impaciente com quaisquer restrições. Ele aspirava suplantar o Buda, mas os monges, ele sabia, não se juntariam a ele em uma revolta aberta. Para tal objetivo, ele necessitava do apoio de algum rei ou príncipe.
“O Rei Bimbisara é um homem velho”, disse para si certo dia; “o Príncipe Ajatasatru, que é jovem e valente, está ansioso para sucedê-lo ao trono. Eu poderia aconselhar o príncipe a seu favor e, em retribuição, ele poderia me ajudar a tornar-me líder da comunidade.”
Ele foi ver Ajatasatru. Dirigiu-se a ele em termos elogiosos; enalteceu sua força, sua coragem, sua beleza.
“Oh, se você fosse rei”, disse Devadatta, “que glória seria para Rajagriha! Você conquistaria os países vizinhos; todos os soberanos do mundo prestariam-lhe homenagem; você seria um mestre onipotente, e seria adorado como um Deus.”
Com tais palavras, Devadatta ganhou a confiança de Ajatasatru. Ele recebeu muitas prendas preciosas, e tornou-se ainda mais arrogante.
Maudgalyayana notou as frequentes visitas de Devadatta ao príncipe. Ele decidiu alertar o Bem-Aventurado
“Meu senhor”, ele começou a dizer, “Devadatta é muito amigável com o Príncipe Ajatasatru.”
O Bem-Aventurado interrompeu-lhe.
“Deixe Devadatta agir como lhe aprouver; logo saberemos a verdade. Estou ciente de que Ajatasatru presta-lhe homenagem; isto não o faz avançar um único passo no caminho da virtude. Deixe a glória de Devadatta em sua arrogância! Será a sua ruína. Como a bananeira e o bambu que frutificam apenas para morrer, assim as honras que Devadatta está recebendo somente apressarão a sua queda.”
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm