Quando o sol se encontra no zênite, ou no nadir, ou quando se oculta atrás das nuvens de Samsara[1], diz-se entre os humanos que a sombra se foi.
“Isto (a vida mundana) é como o frescor que reina
quando as nuvens aparecem no céu.
Todos os seres amam e choram.
Todos se debatem nas águas amargas do nascimento e da morte”[2].
“Oh Kashyapa! Não diga que existe uma árvore e que ela não tem sombra (na escuridão). Isto é meramente porque os olhos carnais não podem vê-la”[3].
Em todas essas fases da sombra, não se diga que a sombra se foi, mesmo quando o sol se encontra a pino e dispersa toda a escuridão ao redor. São fases nas quais, pode-se dizer, a sombra recai sobre si e só pode ser vista com os olhos da sabedoria, quando os cinco skandhas[4] estão à flor da pele. Aqui se explicam as caras e bocas, e como sabíamos quem fora o mestre de ORROZ que doravante, pergunta-se, seria uma pessoa nessas fases da sombra, nas quais é impossível perceber a presença de seu fiel alazão que prometeu segui-lo como a sombra segue o corpo?
Certamente. E por quê? Porque todos os seres, indistintamente, experimentam essas fases da sombra, cuja natureza só pode ser reconhecida pelos olhos da sabedoria. Com ORROZ não poderia ser diferente, e este ato encerra-se aqui.
[1] Mundo Tríplice da matéria, do espírito e do desejo.
[2] Sutra do Nirvana, Capítulo 2 – Sobre Cunda.
[3] Sutra do Nirvana, Capítulo 4 – Sobre Longa Vida.
[4] Cinco skandhas ou agregados que formam a consciência de um humano: tato (forma, matéria, rupa), sensação (sentimento), percepção (intuição), volição (compulsão), e têm-se consciência.