O herói passeou ao longo das margens do rio. A noite caiu lentamente. As flores exaustas fecharam suas pétalas; uma doce fragrância surgiu dos campos e jardins; e os pássaros timidamente ensaiavam seus cantos vespertinos.
Então, o herói caminhou em direção à árvore da sabedoria.
A estrada estava polvilhada com ouro em pó; palmeiras raras, cobertas de pedras preciosas, delineavam o caminho. Ele contornou a borda de um poço cujas águas abençoadas exalavam um perfume inebriante. Lótus brancos, amarelos, azuis e vermelhos espalharam suas imensas pétalas sobre a superfície, e o ar vibrava com os cantos límpidos dos cisnes. Próximo ao poço, sob as palmeiras, Apsaras dançavam, enquanto no céu os Deuses admiravam o herói.
Ele aproximou-se da árvore. À beira da estrada, ele viu Svastika, o ceifeiro.
“São tenras essas gramas que você está cortando, Svastika. Dê-me um punhado de grama; quero forrar o acento que ocuparei quando atingir a suprema sabedoria. São verdes essas gramas que você está cortando, Svastika. Dê-me um punhado de grama, e você conhecerá a lei algum dia, porque a ensinarei para você, e você poderá ensiná-la aos outros.”
O ceifeiro deu ao Santo oito punhados de grama.
Lá estava a árvore da sabedoria. O herói caminhou para o leste dela e curvou-se sete vezes. Ele espalhou os punhados de grama no chão e, subitamente, um grande assento apareceu. A grama macia o cobria como um tapete.
O herói sentou-se, sua cabeça e ombros eretos, sua face voltada para o leste. Então ele disse numa voz solene:
“Mesmo que minha pele resseque, mesmo que minha mão definhe, mesmo que meus ossos se transformem em pó, até que eu atinja a suprema sabedoria, não me moverei deste assento.”
E ele cruzou suas pernas.
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm