Sujata havia acabado de ordenhar oito vacas maravilhosas que ela possuía. O leite que elas davam era rico, oleoso e de delicado sabor. Ela adicionou mel e farinha de arroz ao leite, e então levou a mistura a cozinhar numa panela nova (limpa), em um fogão novo. Enormes bolhas começaram se formar e mantinham-se flutuando à direita, sem que o líquido subisse ou derramasse uma única gota. O fogão nem mesmo esfumaçava. Sujata ficou atônita, e disse a Purna, sua servente:
“Purna, os Deuses estão nos favorecendo hoje. Vá e veja se o homem sagrado está se aproximando da casa.”
Purna, da soleira da porta, viu o herói caminhando em direção à casa de Sujata. Ele estava emitindo uma luz brilhante, uma luz dourada. Purna ficou deslumbrada. Correu de volta para a sua senhora.
“Senhora, ele está vindo! Ele está vindo! E seus olhos serão cegados pelo seu esplendor!”
“Deixe-o vir! Oh, deixe-o vir!” gritou Sujata. “É para ele que preparei esse leite maravilhoso.”
Ela derramou o leite misturado com mel e farinha de arroz numa tigela de ouro, e aguardou o herói.

Ele entrou. A casa ficou iluminada pela sua presença. Sujata, para fazer-lhe honra, curvou-se sete vezes. Ele sentou-se. Sujata ajoelhou e banhou os seus pés em água suavemente aromatizada; e então ofereceu-lhe a tigela de ouro cheia de leite misturado com farinha de arroz e mel. Ele pensou:
“Os Budas do passado, diz-se, tinham suas últimas refeições servidas numa tigela de ouro, antes da consecução da suprema sabedoria. Uma vez que Sujata me oferece esse leite com mel numa tigela de ouro, chegou o tempo para tornar-me um Buda.
Então ele indagou à jovem menina:
“Irmã, o que devo fazer com essa tigela de ouro?”
“Ela pertence a você”, ela respondeu.
“Não tenho uso para tal tigela”, disse ele.
“Então faça o que lhe aprouver com ela”, disse Sujata. “Seria mesquinho da minha parte oferecer a comida e não oferecer a tigela.”
Ele se foi, carregando a tigela em suas mãos, e caminhou para as margens do rio. Banhou-se; e comeu. Quando a tigela estava vazia, ele a atirou na água, e disse:
“Se estou para tornar-me um Buda no dia de hoje, a tigela deve ir rio acima (contra a correnteza); se não, ela pode seguir a corrente.”
A tigela flutuou até o meio do rio, e então rapidamente começou a subir o rio. Ela desapareceu num redemoinho, e o herói ouviu o som abafado quando ela pousou no mundo subterrâneo, em meio àquelas outras tigelas que os Budas pretéritos tinham esvaziado e atirado fora.
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm