Certo dia, a amável Gopa estava olhando para seu filho Rahula.
“Quão belo você é, meu filho!”, ela exclamou. “Como seus olhos brilham! Seu pai lhe deve uma herança piedosa; você deve ir e reinvidicá-la.”
Mãe e filho ascenderam ao terraço do palácio. O Bem-Aventurado estava passando na rua abaixo. Gopa disse a Rahula:
“Rahula, você vê aquele monge?”
“Sim, mãe”, respondeu a criança. “Seu corpo está coberto de ouro”.
“Ele é tão belo quanto os Deuses do céu! É a luz da santidade que faz sua pele reluzir como ouro. Eu o amo, meu filho, o amo ternamente, pois ele é seu pai. Outrora, ele possuíu grandes tesouros; possuía ouro, prata e jóias de brilhantes; agora, ele vai de casa em casa, esmolando por sua comida. Mas ele adquiriu um tesouro maravilhoso: atingiu a suprema sabedoria. Vá até ele, meu filho; diga-lhe quem você é, e requeira a sua herança.”
Rahula obedeceu à sua mãe. Pôs-se de pé diante do Buda. Sentia-se estranhamente feliz.
“Monge”, disse ele, “é maravilhoso estar aqui, sob sua sombra.”
O Mestre olhou para ele. Era um olhar terno, e Rahula, sentindo-se acolhido, começou a caminhar ao seu lado. Relembrando as palavras de sua mãe, ele disse:
“Sou seu filho, meu senhor. Sei que o senhor possui o maior dos tesouros. Pai, dê-me minha herança.”
O Mestre sorriu. Não respondeu. Continuou a esmolar. Mas Rahula permaneceu ao seu lado; continuou seguindo-o e repetia:
“Pai, dê-me minha herança.”

Por fim, o Mestre falou:
“Filho, você nada sabe sobre este tesouro que você tem ouvido os humanos louvarem. Quando você reclama a sua herança, pensa que está reinvidicando coisas materiais de natureza perecível. Os únicos tesouros conhecidos por você são aqueles cobiçados pela vaidade humana, tesouros que a morte voraz arranca do falso rico. Mas por que deveria você ser mantido na ignorância? Você está certo de reclamar sua herança, Rahula. Você terá seu quinhão dos tesouros que são meus. Você verá os sete tesouros; você conhecerá as sete virtudes, e aprenderá o verdadeiro valor da fé e da pureza, da modéstia e cautela (reserva), da obediência, da abnegação e sabedoria. Venha, eu o colocarei a cargo do Sagrado Shariputra; ele lhe ensinará.
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm