Então, ele estava na grande floresta, próxima à Vaisali. Mahaprajapati cortou o cabelo, e vestindo-se num robe avermelhado feito de material grosseiro, partiu para Vaisali.
Ela fez a viagem a pé; nunca se queixou de cansaço. Coberta de pó, ela finalmente chegou ao salão onde o Buda estava meditando. Mas ela não se atreveu a entrar; permaneceu do lado de fora da porta, com lágrimas nos olhos. Aconteceu de Ananda passar por ela. Ele a viu e indagou:
“Oh rainha, por que veio aqui, vestida dessa maneira? Por que está de pé diante da porta do Mestre?”
“Não me atrevo a entrar. Já por três vezes, ele negou o meu apelo, e aquilo que ele recusou por três vezes, eu vim pedir-lhe novamente: que conceda-me o favor de permitir às mulheres entrarem na comunidade.”
“Intercederei por você, oh rainha!”, disse Ananda.
Ele entrou para o salão. Viu o Mestre, e disse-lhe:
“Bem-Aventurado! Mahaprajapati, nossa reverenciada rainha, está de pé diante da sua porta. Ela não se atreve a aparecer diante de você; está temerosa de que você tornará a fazer ouvidos de mercador ao seu apelo. No entanto, não se trata do apelo de uma mulher tola, Bem-Aventurado. Significaria tanto para você concedê-lo? A rainha foi uma mãe para você, outrora; ela sempre foi gentil para você; certamente ela merece ser ouvida. Por que não deveria você receber mulheres na comunidade? Há mulheres de grande devoção, mulheres com a sagrada coragem para manterem-se no caminho da santidade.”
“Ananda”, disse o Mestre, “não me peça para permitir que mulheres entrem na comunidade.”
Ananda saiu. A rainha estava aguardando por ele.
“O que o Mestre disse?”, ela perguntou ansiosamente.
“Ele negou o seu apelo. Mas não perca a esperança.”
No dia seguinte, Ananda novamente foi ao Bem-Aventurado
“Mahaprajapati não deixou a floresta”, disse ele. “Ela está pensando nos dias felizes da sua juventude. Maya era então viva; Maya, a mais bela de todas as mulheres; Maya, de quem nasceria um filho. A irmã de Maya era uma mulher nobre: nada sabia sobre a inveja, amava essa criança, mesmo antes de ela vir ao mundo. E quando ela nasceu, para trazer a alegria a todas as criaturas, a Rainha Maya morreu. Mahaprajapati foi gentil com o menino órfão, ele parecia tão frágil. Ela protegeu-lhe do mal, deu-lhe pajens dedicadas, protegeu-lhe da influência dos maus criados, não poupou seus cuidados e sua ternura por ele. Ele cresceu, e mesmo assim ela não o deixaria. Ela atendeu aos seus mínimos desejos, ela adorou-lhe. E ele alcançou a mais feliz fortuna; ele é a árvore gigante que abriga o sábio; e agora, quando ela iria buscar um lugar humilde à sua sombra, foi-lhe recusada a paz e o repouso que ela aspira. Oh Mestre, não seja injusto; receba Mahaprajapati na comunidade.”
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm