Ao final de três meses, o Mestre desceu à terra e pegou a estrada para Cravasti. Quando ele estava se aproximando do Parque de Jeta, encontrou uma jovem menina. Ela era empregada de um rico habitante da cidade que estava trabalhando nos campos naquele dia. Ela estava levando-lhe uma tigela de arroz para a sua refeição. Ao se deparar com o Buda, ela sentiu-se estranhamente feliz.
“É o Mestre, o Bem-Aventurado”, ela pensou. “Meus olhos contemplam-lhe; minhas mãos quase podem tocá-lo, ele está tão próximo. Oh, que santa felicidade seria dar-lhe donativos! Mas não tenho nada que seja meu.”
Ela suspirou. Seu olhar caiu sobre a tigela de arroz.
“Este arroz… A refeição do meu mestre… Nenhum mestre pode rebaixar à escravidão alguém que já é um escravo. Meu mestre pode me bater, mas o que importa! Ele poderia colocar-me na prisão, mas eu suportaria isso tranquilamente. Darei o arroz para o Bem-Aventurado.”
Ela ofereceu a tigela de arroz ao Buda. Ele a aceitou e continuou em seu caminho para o Parque de Jeta. A jovem menina, com os olhos reluzentes de felicidade, foi à procura do seu mestre.
“Onde está meu arroz?”, ele indagou, tão logo a viu.
“Dei-lhe ao Buda como uma oferenda. Puna-me se desejar, não lamentarei; estou tão feliz pelo que fiz.”
Ele não a puniu. Ele curvou a sua cabeça e disse:
“Não, eu não a punirei. Estou dormindo e seus olhos estão despertos. Vá, você não é mais escrava.”
A jovem menina fez uma profunda reverência.
“Com sua permissão, então”, disse ela, “irei para o Parque de Jeta, e solicitarei ao Bem-Aventurado instruir-me na lei.”
“Vá”, disse o homem.
Ela foi para o Parque de Jeta; sentou-se aos pés do Buda, e tornou-se uma das mais santas mulheres na comunidade.

(*) É a morada temporária de um monge budista ou principiante, designando a habitação pequena e rudimentar que cada monge construía para si próprio quando se hospedava em locais por um curto espaço de tempo. Fonte: Dhamma Dana: Pali English Glossary
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm