Chegou o dia em que o Mestre competiria com os eremitas. Logo ao amanhecer, o Rei Prasenajit foi ao salão que ele havia construído para a ocasião. Os seis eremitas já estavam lá. Eles trocaram olhares e sorriram.
“Rei”, disse um deles, “fomos os primeiros a chegar no local do encontro.”
“Você supõe que aquele que estamos aguardando realmente virá?”, disse um outro.
“Eremitas”, disse o rei, “não zombem dele. Vocês sabem como ele enviou um dos seus discípulos para curar o meu irmão, a quem eu havia punido injustamente. Ele virá. Ele pode até mesmo já estar aqui, em nosso meio, sem que o saibamos.”
Conforme o rei acabou de falar, uma nuvem luminosa preencheu o salão. Tornou-se mais e mais brilhante; fundiu-se com a luz do dia, e o Buda apareceu, envolto em esplendor dourado. Atrás dele estavam Ananda e Kala. Ananda segurava uma flor vermelha em sua mão, Kala uma flor amarela, e nunca, em todos os jardins de Cravasti, jamais foram vistas duas flores como aquelas.
Prasenajit demonstrou profunda admiração. Os eremitas maldosos cessaram o seu sorriso.
O Bem-Aventurado falou:
“O vaga-lume brilha para todos verem, enquanto o sol permanece oculto, mas quando a refulgente estrela aparece, extingue-se a fraca luz do pobre verme. Os impostores falaram em alta voz enquanto o Buda permanecia em silêncio, mas agora que o Buda fala, eles choram de medo e calam-se.”
Os eremitas ficaram alarmados. Viram o rei olhando-lhes com um olhar desdenhoso, e baixaram as suas cabeças de vergonha.
Subitamente, o teto do salão desapareceu, e no firmamento, estendendo-se do leste para o oeste, o Mestre traçou um curso sobre o qual ele iria viajar. Em vista desse prodígio, seu mais insolente rival fugiu aterrorizado. O eremita imaginou que estava sendo perseguido por uma matilha de cães uivantes, e não parou de correr até que chegou à beira de um lago. Lá, ele amarrou uma pedra ao seu pescoço e atirou-se na água. Um pescador encontrou o seu corpo no dia seguinte.
Neste ínterim, o Mestre havia criado um ser à sua semelhança e, com ele, estava agora caminhando no caminho celestial (que ele traçara). E sua grande voz era ouvida dizendo:
“Oh meus discípulos, estou prestes a ascender à morada dos Deuses e Deusas. Maya, minha mãe, convocou-me; devo instruí-la na lei. Permanecerei com ela três meses. Mas, todos os dias, descerei à terra, e somente Shariputra saberá onde encontrar-me; ele conduzirá a comunidade de acordo com as minhas instruções. E enquanto eu estiver ausente do céu, deixarei com minha mãe, para instruí-la, este ser a quem criei à minha semelhança.”
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm