Assim eu ouvi.
Certo dia, o Buda estava hospedado no Parque de Jeta, no Jardim do Benfeitor dos Órfãos e Solitários, juntamente com uma congregação de grandes monges, mil duzentos e cinquenta ao todo.
Naquela ocasião, na hora do desjejum, o Honrado pelo Mundo vestiu o seu robe, pegou sua tigela de donativos, e adentrou a grande cidade de Sravasti para esmolar por comida. Após encerrar a sua mendicância rotineira dentro da cidade, ele retornou, alimentou-se, retirou o seu robe e a sua tigela, lavou seus pés, arrumou seu assento, e sentou-se.
Comentário:
Assim eu ouvi. Essas palavras constituem o primeiro dos Seis Requisitos. É essencial que todos que prelecionam ou lêm sutras estejam familiarizados com os Seis Requisitos, os quais são: fé, a audição, o tempo, o hospedeiro (o anfitrião), o lugar e a audiência.
- Assim é o requisito da fé,
- Eu ouvi é o requisito da audição,
- Naquela ocasião é o requisito do tempo,
- O Buda é o requisito do hospedeiro,
- Em Sravasti, no Parque de Jeta no Jardim do Benfeitor dos Órfãos e Solitários é o requisito do lugar,
- Juntamente com uma congregação de grandes monges, mil duzentos e cinquenta ao todo é o requisito da audiência.
Os seis requisitos provam que um sutra foi pregado pelo Buda. Uma vez que esses requisitos iniciam cada sutra, eles são chamados “Prefácio Comum”. O texto que imediatamente segue-lhes varia de acordo com o sutra, e assim é chamado “Prefácio Específico”. Neste sutra, o Prefácio Específico é:
“Naquela ocasião, na hora do desjejum, o Honrado pelo Mundo vestiu o seu robe, pegou sua tigela de donativos, e adentrou a grande cidade de Sravasti para esmolar por comida. Após encerrar a sua mendicância rotineira dentro da cidade, ele retornou, alimentou-se, retirou o seu robe e a sua tigela, lavou seus pés, arrumou seu assento, e sentou-se.”
O Prefácio Comum também é chamado tanto de “Prólogo” como de “Pós-Escrito”. Ao se prelecionar sutras, pode-se discutir essa seção tanto como uma introdução ao sutra, mas também como um pós-escrito apendido numa data posterior.
“Pode um prefácio realmente ser chamado de um Prólogo ou um Pós-Escrito?”, você poderia indagar.
Não há nada fixo sobre isso. O que quer que seja fixo (imutável) não é Budadharma. O Sutra Diamante torna claro o princípío dos dharmas não imutáveis. Quando algo é fixado, o apego resultante causa uma obstrução que, por sua vez, conduz à aflição. Quando não há apego, o vazio é sem aflição. Quando tudo é vazio, a quê se poderia estar apegado? O que, então, não pode ser descartado? Quando se está completamente vazio de si, que aflição poderia haver? A aflição surge quando o ponto de vista de alguém não está vazio de si. As coisas não são assumidas como completamente destroçadas e descartadas. Por conseguinte…
Onde quer que você vá, você está preso por espinhos.
Onde quer que você vá, você colide com paredes.
Em todo o lugar que você vá, você caminha entre paredes ou está armadilhado num espinheiro, e é doloroso. Você sente dor porque você não descartou o seu corpo. Se você absolutamente não possui um eu, nem outros, nem seres viventes, nem vida – nada afinal – que dor pode haver? Quem tem dor? Quando não há sequer uma pessoa que sinta dor, que aflição pode haver? De onde a aflição viria? Isto é fácil de falar, mas difícil de fazer.
Os seis requisitos são chamados de Pós-Escrito porque eles não eram parte do sutra original. O Buda não disse “Assim eu ouvi…”. Aquele texto foi adicionado posteriormente pelo Venerável Ananda quando a divisão dos sutras foi compilada. O Pós-Escrito também é chamado Prólogo. Portanto, os seis requisitos podem ser chamados de Prefácio, Prólogo e Pós-Escrito.
O Buda instruiu que todos os sutras que ele pregou deveriam começar com as quatro palavras “Assim eu ouvi…”. Aqueles que estudam os sutras Budistas devem saber a história dessas quatro palavras.