Eu devo levá-los todos a entrar no Nirvana não-residual e conduzi-los à extinção. O Eu aqui é o falso “Eu” do Bodhisattva, usado expedientemente para comunicar-se com os seres viventes que ainda possuem uma visão do eu.
Todas as dez classes de seres viventes nos três reinos (da existência) são levados a entrar no Nirvana não-residual. Nirvana é uma palavra do Sânscrito que se traduz como “quietude perfeita”. Atravessar para a extinção significa por um fim aos dois obstáculos – o obstáculo das aflições e o obstáculo do que é conhecido. Também significa que os seres transcenderam as Duas Mortes: compartilhar do nascimento e morte, e mudar o nascimento e morte.
Há quatro tipos de Nirvana:
- Nirvana da natureza-própria pura e limpa. A natureza-própria é inerente a todos. Não está sujeita ao nascimento e morte, e não é maior nos sábios ou menor nas pessoas comuns.
- Nirvana residual. Ao usar a chama da sabedoria sobre o combustível das aflições, os laços secundários da ilusão são cortados; mas o laço fundamental do corpo permanece. O corpo que permanece está sujeito a compartilhar no nascimento e morte; isto se diz ser Nirvana “com resíduos”.
- Nirvana não-residual. Quando as aflições e o resíduo do compartilhamento no nascimento e morte são extintos, a multidão de sofrimentos é eternamente aquietada. Não há mais resíduo.
- Nirvana da não permanência. Aqui sabedoria e compaixão são mutuamente interativas. Aqueles que atingiram o Nirvana da não permanência continuam a atravessar os seres viventes, mas eles mesmos não estão sujeitos ao nascimento e morte.
O Nirvana sem resíduo mencionado no texto abrange os últimos dois dos quatro tipos de Nirvana.
Embora os Bodhisattvas conduzam inumeráveis seres à extinção, na realidade não há seres viventes a atravessar. Esta é a manifestação da substância perfeita e a grande função do prajna. A substância do prajna da marca real é sem a menor desigualdade. Conforme é dito posteriormente no sutra: “Esse Dharma é liso e plano, sem altos ou baixos”. A função do prajna contemplativo é originalmente sem uma marca; conforme o texto seguinte diz: “Aqueles que renunciaram a todas as marcas são Budas”.
Se um Bodhisattva atravessa seres viventes e ainda se apega a um eu que lhes atravessa, as quatro marcas ainda não estão vazias, e o falso coração ainda não foi subjugado. Tal pessoa vira as costas para o prajna e torna-se envolvida pelas quatro marcas que se unem para formar um eu. A marca do eu é a raiz de todas as marcas. Se alguém pode transformar a ilusão em torno de si, então ele pode conduzir (atravessar) os seres viventes ao Nirvana. Ele pode apartar-se das quatro marcas, subjugar seu coração, e assim tornar-se um verdadeiro Bodhisattva.