“Subhuti, o que você pensa? Pode um Arhat ter o pensamento: ‘Eu obtive o Arhatship.’?”
Subhuti disse: “Não, Honrado pelo Mundo. E por quê? Na verdade, não há um dharma denominado Arhat. Honrado pelo Mundo, se um Arhat tem o pensamento: ‘Eu Atingi o Arhatship’, aquilo seria apego ao eu (a si mesmo), aos outros, aos seres viventes e à uma vida. Honrado pelo Mundo, o Buda diz que na minha consecução do Samadhi de Nenhuma Contenda, eu sou o primeiro em meio aos humanos, que eu sou o primeiro Arhat liberto do desejo. Honrado pelo Mundo, eu não tenho o pensamento: ‘Eu sou um Arhat livre do desejo’. Se eu tivesse o pensamento: ‘Eu atingi o Arhatship’, então o Honrado pelo Mundo não poderia dizer: ‘Subhuti é o primeiro dentre aqueles que se comprazem em praticar Arana’. Uma vez que Subhuti de fato não tem nenhuma prática, ele é chamado ‘Subhuti, aquele que se compraz em praticar Arana’.”
Comentário:
Arhat, uma palavra do Sânscrito, possui três significados:
- Merecedor de ofertas,
- Exterminador de ladrões,
- Sem nascimento.
Ser um monge é a causa para tornar-se um Arhat, tornar-se um Arhat é o resultado de ter sido um monge. Na causa, ele é um mendicante. No efeito, ele é merecedor dos oferecimentos de deuses e humanos. Na causa, ele é alguém que atemoriza Mara. No efeito, ele é alguém que extermina os ladrões, os ladrões das aflições. Na causa, ele é alguém que destrói a maldade. No efeito, ele é alguém que é sem nascimento.
O Arhat do Pequeno Veículo extermina os ladrões das aflições. O Bodhisattva não deve apenas exterminar os ladrões, mas deve também exterminar aquilo que não é um ladrão, quer dizer, a ignorância. Na realização do Arhatship, a ignorância não é considerada um ladrão, mas na culminação do Estado do Bodhisattva é, devido à percepção de que todas as aflições provêm da ignorância.
Embora o Arhat tenha alcançado ‘A Posição de Nenhum Estudo’, ele ainda tem ignorância. Mesmo na iluminação dos Bodhisattvas ainda resta uma última partícula de ignorância que age como um ladrão e que os Bodhisattvas reconhecem ser o maior dos ladrões. Por isso se diz que eles devem exterminar aquilo que para o Arhat não é um ladrão.
Subhuti foi indagado se um Arhat pode ter o pensamento de que ele obteve o Arhatship, e respondeu: “Não, porque embora ele tenha se certificado para a fruição do Arhatship, isto é apenas um nome e nada mais”. Não apenas na certificação para o fruto do Arhatship não há percepção, como também na consecução do Estado de Buda não há (nenhuma percepção). Não há um dharma tangível que possa ser chamado Arhat. Isto é um nome vazio. Se alguém pensa que ele existe, esse alguém tem apego aos dharmas e não alcançou a vacuidade dos dharmas.
Se um Arhat tivesse o pensamento de que ele obteve o Arhatship, ele estaria apegado a si mesmo, aos outros, aos seres viventes e à uma vida. Ele não teria alcançado a vacuidade do ‘eu’ ou dos dharmas, nem teria obtido o Arhatship. O pensamento da obtenção do Arhatship traz consigo a marca do ‘eu’, que por sua vez produz sua semelhante (marca) dos outros. Estabelecidos os dharmas do ‘eu’ e dos outros, cria-se a marca dos seres viventes, a qual por sua vez leva à marca de uma vida. Ele estaria, portanto, apegado às quatro marcas.