As vestimentas do herói tornaram-se esfarrapadas nos seis anos que ele lhas havia vestido, e ele pensou: “seria bom se eu obtivesse algumas roupas novas; caso contrário, terei que seguir nu, o que seria indecente.”
Naquela ocasião, Sujata, a mais devota das dez jovens meninas que haviam trazido-lhe comida, tinha um escravo o qual acabara de morrer. Ela havia envolvido o corpo em uma mortalha feita de um material avermelhado e o tinha carregado para o cemitério. O escravo morto estava deitado no pó. O herói viu o corpo conforme passou; foi a ele e removeu a mortalha.
Estava muito empoeirada, e o herói não tinha água na qual pudesse lavá-la. Shakra (Devanan), do céu, viu sua perplexidade. Descendo à terra ele atingiu o chão, e um poço apareceu diante dos olhos do Santo.
“Deus”, disse ele, “aqui está a água, mas ainda necessito de sabão.”
Shakra fez uma pedra (de sabão) e a colocou na beira do poço.
“Homem da virtude”, disse o Deus, “dê-me a mortalha; eu a lavarei para você.”
“Não, não”, respondeu o Santo. “Conheço os deveres de um Monge; eu mesmo a lavarei.”
Quando ela estava limpa, ele se banhou. Ora, Mara, a Maldade, o tinha observado por algum tempo. Ele (Mara) elevou as margens do poço, fazendo-lhes muito íngremes (escarpadas). O Santo ficou impossibilitado de sair da água. Afortunadamente, havia uma árvore alta crescendo à beira do poço, e o Santo dirigiu uma oração à Deusa que vivia nela.
“Oh Deusa, pode um ramo dessa árvore curvar-se sobre mim?”
Um ramo imediatamente curvou-se sobre o poço. O Santo agarrou-lhe e içou-se para fora da água. Então ele foi e sentou-se sob a árvore, e começou a coser a mortalha e a fazer uma roupa nova para si.
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm