Devadatta logo chegou ao topo da vaidade. Ele não podia mais tolerar a grandeza do Buda e, certo dia, ele ousou dizer-lhe:
“Mestre, você agora está bastante avançado nos anos; é um grande sacrifício para você conduzir os monges; você deve aposentar-se. Medite em paz sobre a lei sublime que você descobriu, e deixe que eu me encarrego da comunidade.”
O Mestre sorriu ironicamente.
“Não se preocupe comigo, Devadatta; você é tão gentil. Saberei quando for o tempo para me aposentar. Por enquanto, a comunidade ficará a meu cargo. Além disso, quando chegar o tempo, não a entregarei nem mesmo a Shariputra ou Maudgalyayana, aquelas duas grandes mentes que são como tochas fulgurantes. E você a quer, Devadatta, você que possui uma inteligência tão medíocre, você que emite muito menos luz que uma lamparina!”
Devadatta curvou-se respeitosamente diante do Mestre, mas não pode esconder o fogo da ira em seus olhos.
O Mestre então dirigiu-se ao erudito Shariputra.
“Shariputra”, disse ele, “vá pela cidade de Rajagriha afora, e clame em alta voz: ‘Cuidado com Devadatta! Ele se desviou do caminho da retidão. O Buda não é responsável por suas palavras ou por suas ações; a lei não lhe inspira mais, a comunidade não lhe interessa mais. Doravante, Devadatta fala somente por si’.”
Foi triste para Shariputra ter uma missão tão dolorosa para cumprir; todavia, ele compreendeu as razões do Mestre, e foi cidade afora proclamando a vergonha de Devadatta. Os habitantes pararam para ouvir, e alguns pensaram: “Os monges invejam Devadatta por sua amizade com o Príncipe Ajatasatru”. Mas os outros disseram: “Devadatta deve ter cometido uma ofensa grave, para o Bem-Aventurado denunciá-lo assim publicamente.”
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm