O Cabo das Tormentas

ORROZ

ORROZ voltou a atormentar-se com a ideia da equanimidade, a qual aniquila poderes, dissolve circunstâncias, exproba as vicissitudes dessa vida mundana. Pensou em não ir mais ao tribunal, chegando a declarar ‘chegada a hora de sair’. Mas, se o fizesse com o sentido da missão cumprida, pecaria pela omissão e iniquidade. Se o fizesse pela dificuldade de seguir adiante, pecaria pela indolência. Se nada fizesse, seria devorado pelos leões[1] da dura realidade, que rugem famintos por carne fresca.

“Não posso acabar assim!”, dizia-se ao despertar daquele pesadelo, pois o cavalo fez uma curva de 180 graus, a tempestade com seus oito ventos amainou, mas ainda incomodava-lhe o odor de cadáveres pelo chão.

“Oito ventos”? Indagou ORROZ ao léu.

Uma voz lhe surpreendeu com exatidão absoluta.

“Sim, ORROZ, são oito: prosperidade, declínio, honra, desgraça, elogio, calúnia, felicidade e sofrimento. Para cada um, seu oposto a impor o Caminho Médio”.

“E quando voltarão a soprar”? Voltou-se ansioso para leste.

“Quando varrerem, e para sempre, o que resta da montanha dos pequenos poderes atrás de ti, neste cabo das tormentas, e que descortinarão a dura realidade daquele imenso país a oeste daqui, e que se chama ‘Ingratidão’”, respondeu a voz.

 

 


 

[1] Diz-se que leões, antes de desferirem seus ataques, dão um passo para trás e, ao desferi-los, nunca perdem as suas presas.

Por muccamargo

Físico, Mestre em Tecnologia Nuclear USP/SP-Brasil, Consultor de Geoprocessamento, Estudioso do Budismo desde 1987.

1 comentário

  1. O Nada é ação também.

    Há um livro, chamado “Cabo das Tormentas”, escrito por um escritor modernista de Belo Horizonte, chamado Eduardo Frieiro.
    É de leitura deliciosa e trata da andropausa masculina que acaba diante de um doido amor.
    Você pode encontrá-lo na menor rua de BH, curta, porém estreitíssima-rua São GERALDO, paralela à Av.Assis Chateaubriand – onde funciona, como espaço vontade natural, a editora Itatiaia.
    Uma viagem no tempo, entre diversos outros autores perdidos nas estantes, mas resistentes nas memórias.
    Abração do Morici

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