A Trilha à Esquerda

ORROZ

Quando ORROZ tomou a trilha à sua esquerda, aquela mais escarpada, sentiu uma estranha sensação de leveza. Mas, não era em seu pesar. Era como se milhares, milhões de pequenos seres passassem a impeli-lo e a suportá-lo em seu pisar. De fato, sentia uma espécie de formigamento em todo seu corpo, uma imagem daqueles pequenos seres que num esforço coletivo carregam pesadas cargas.

Mas ainda relutava em aceitar algumas coisas que lhe foram imputadas naquele Tribunal da Equanimidade. Pensava: ‘Eu não dei rolezinho[1] nenhum. Não posso concordar com isso’.

Quando assim pensou pela terceira vez, vozes ecoaram estrondosamente ao seu redor: ‘Deu sim, deu sim, deu sim…’. E de um eco inicialmente ensurdecedor, as vozes foram se fundindo até o uníssono, quando ouviu:

“ORROZ, somos muitos, mas não algo que se possa contar; somos muitos, mas não algo que se possa distinguir uns dos outros; porque somos um”.

Então, ORROZ se lembrou dessa passagem registrada em seu diário no dia em que perguntou: ‘quem são vocês afinal?’ Condescendeu em ouvir a explicação que se seguiu:

“ORROZ, uma pessoa da sua importância reflete a vida de muitos milhares, milhões de outras pessoas. Semelhantes ou não, essas pessoas têm as suas vidas quase sem significância refletidas em você, como se fossem minúsculas pastilhas de espelho coladas em você, a conferir-lhe a textura de um ser humano de grau superior.

Eles são essas formiguinhas que estão a levitá-lo em sua árdua caminhada, mas que nada podiam fazer quando na montaria de ‘El Diablo’ você as pisoteava. Compreende agora o que significa derivar à esquerda, ORROZ? Compreende agora que aqueles muitos dos ‘rolezinhos’ que assombraram aquele país eram você? E que você é a esperança de suas vidas sem significância perante a instituição à qual você pertence?

ORROZ, para sair definitivamente daquele atoleiro, daquela areia movediça que representa o apego, dê o primeiro passo. Quer saber qual o primeiro passo a ser dado? Abandone-se, esqueça as próprias ofensas, aceite-as com a humildade daqueles pequenos, e coloque as ofensas que lhes afligem há séculos como algo de interesse maior em sua vida. Esqueça o ‘eu’ e tudo que pertença ao ‘eu’, tornando-se mais leve; e assim, aquelas formiguinhas o carregarão para um lugar seguro”.

Ao que ORROZ respondeu:

“Certo!”

 


 

[1] O Rolê de ORROZ.

 

Por muccamargo

Físico, Mestre em Tecnologia Nuclear USP/SP-Brasil, Consultor de Geoprocessamento, Estudioso do Budismo desde 1987.

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