Antes de atacar o herói, Mara tentou assustá-lo. Ele evocou contra o herói a fúria dos ventos. Ferozes vendavais sopraram do horizonte em sua direção, arrancando árvores, devastando aldeias, estremecendo montanhas, mas o herói jamais se moveu; nem uma simples prega do seu robe foi perturbada.
O Demônio evocou as chuvas. Elas caíram com grande violência, submergindo cidades e cavando a superfície da terra, mas o herói jamais se moveu; nem um simples pedaço do seu robe ficou molhado.
O Demônio fez rochas incandecentes e atirou-as no herói. Elas cruzaram rápido o ar mas se transformaram quando chegaram próximas à árvore, e caíram, não como rochas, mas como flores.
Mara então ordenou seu exército a atirar suas flechas em seu inimigo, mas as flechas, também, transformaram-se em flores. O exército correu para o herói, mas a luz que ele emanava agiu como uma blindagem para protegê-lo; as espadas tilintavam, machados de guerra foram amassados pela blindagem, e onde quer que uma arma caísse ao chão, esta também transformava-se em flor.
E, subitamente, cheios de terror em vista desses prodígios, os soldados do Demônio bateram em retirada.
E Mara contorceu suas mãos em agústia, e gritou:
“O que fiz para que esse homem me derrotasse? Pois eles não são poucos, aqueles cujos desejos tenho concedido! Tenho sido frequentemente gentil e generoso! Aqueles covardes que estão fugindo poderiam testemunhar isto.”
As tropas que ainda estavam na audiência responderam:
“Sim, você tem sido gentil e generoso. Daremos testemunho disto.”
“E ele, que prova tem dado da sua generosidade?” continuou Mara. “Que sacrifícios ele tem feito? Quem dará testemunho da sua bondade?”
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm