O Bem-Aventurado lembrou que o Rei Bimbisara certa vez expressou um desejo de conhecer a lei, e resolveu ir a Rajagriha. Ele partiu com o mais velho dos Kashyapas e alguns dos seus novos discípulos.
Bimbisara logo soube da chegada dos monges. Ele decidiu prestar-lhes uma visita. Acompanhado por um séquito de súditos, ele foi ao Bosque. Ele reconheceu o Mestre, e exclamou:
“Você não esqueceu meu desejo, oh Bem-Aventurado; imensa é a minha gratidão e minha reverência.”
Ele prostrou-se, e quando o Mestre ordenou-lhe levantar-se, ele manteve-se à distância, para demonstrar respeito.
Mas na multidão havia alguns que conheciam Kashyapa, e que o consideravam um homem muito santo. Eles nunca haviam visto o Buda antes, e ficaram admirados de que o rei não lhe prestasse tal honra.
“Ele certamente se enganou”, disse um brâmane; “ele deveria ter se prostrado diante de Kashyapa”.
“Sim”, disse um outro, “Kashyapa é um grande mestre”.
“O rei cometeu um erro estranho”, um terceiro completou; “ele confundiu o pupilo com o mestre.”
Eles ficaram sussurrando, no entanto o Bem-Aventurado ouviu-lhes, pois o que poderia escapar à sua percepção? Ele disse a Kashyapa:
“Quem o persuadiu a abandonar seu eremitério, oh homem de Uruvilva? Quem o fez admitir a sua fraqueza? Responda, Kashyapa; como você veio a deixar o seu retiro familiar?”
Kashyapa compreendeu o que o Mestre tinha em mente. E respondeu:
“Agora sei para onde as minhas austeridades anteriores estavam me levando; agora sei a presunção (fatuidade) de tudo o que outrora ensinei. Meu discurso era maléfico, e comecei a odiar a vida que estava levando.”
Conforme ele disse essas palavras, ele caiu aos pés do Mestre, e acrescentou:
“Sou seu devotado pupilo. Permita-me colocar minha cabeça sobre seus pés! Você é o Mestre; é você que comanda. Sou seu pupilo, seu servo. A você seguirei e a você obedecerei.”
Por sete vezes ele prostrou-se, e a multidão exclamou em admiração:
“Poderoso é aquele que convenceu Kashyapa da sua ignorância! Kashyapa pensou que fosse o maior dos mestres, e agora o vemos curvar-se diante de outro! Oh, poderoso é aquele que é mestre de Kashyapa!”
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm