Era um domingo, resolvi ir ao hospital. Peguei um ônibus para o centro da cidade de Belo Horizonte, e lá peguei um taxi. A motorista era uma mulher idosa, aparentando mais de 70 anos, vestia uma roupa branca, olhos claros, cabelo arrumado, brincos e uma sandália elegante. “Bom dia!”, disse ela. “Bom dia!”, respondi. “A senhora pode me levar ao Hospital Felício Roxo? Lá está uma amiga que preciso visitar”. E permanecemos em silêncio durante o trajeto. Ao chegar ao hospital, paguei a corrida e disse: “Obrigado!”. Nisto, ela me surpreendeu ao dizer: “Obrigado ao senhor que, num domingo ensolarado como esse, ao invés de procurar a diversão, vem a este lugar”. E foi embora.
Entrei no hospital e, ao anunciar o nome da paciente, o acesso estava liberado. Ao entrar no quarto, o que vi não era mais vida. Eram os últimos momentos da luta de um ser contra o demônio da morte. Ainda balbuciei NAMU-MYOHO-RENGUE-KYO durante cerca de 10 minutos. Estava desconcertado, desabei pelos corredores do hospital. Entrei no elevador, havia duas pessoas que me olharam com piedade. Silvia morreria na segunda-feira, dia seguinte, em julho/2004.
O que resultara, então? Minha amiga falecida, e o Sutra de Lótus com as muitas anotações que fizera à busca de uma resposta para o mistério da vida e da morte. Senti que a morte estava lá no necrotério, e a vida estava aqui em minhas mãos. Então transformei essas anotações em notas de rodapé nos originais da tradução de João Rodrigues, e continuei a estudar. É importante dizer que essas anotações vieram desse período difícil, conforme acima descrevi.
Continua no próximo episódio semanal de:
A História da Tradução do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa
por Marcos Ubirajara de Carvalho e Camargo.
Episódios Anteriores:
O Fato Motivador da Tradução do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa
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