O Mestre ficou feliz por contar com esses parentes em meio aos seus discípulos, e os levou para o Bosque dos Bambús. Lá, o pobre Nanda estava sofrendo. Ele não parava de pensar em Sundarika; ela frequentemente aparecia para ele em seus sonhos, e ele arrependia-se de tê-la deixado. O Buda sabia da sua infelicidade, e decidiu curá-lo.
Certo dia, pegou-lhe pelas mãos e o levou à uma árvore onde uma macaca hedionda estava sentada.
“Veja aquela macaca”, disse o Buda, “ela não é bonita?”
“Raramente vi alguém tão feio”, respondeu Nanda.
“Realmente!”, disse o Mestre. “E no entanto ela se assemelha a Sundarika, sua ex-noiva”.
“O que você está dizendo!”, exclamou Nanda. “Você quer dizer que essa macaca se parece com Sundarika, que é graciosa, e que é a beleza em si?”
“De que maneira Sundarika é diferente? Não são ambas fêmeas, ambas não despertam o desejo do macho? Acredito que você estaria disposto a deixar o caminho da santidade e correr para os braços de Sundarika, assim como em algum lugar dessa floresta há um macaco que pode ser levado a um frenesi de amor pelo ardor violento dessa fêmea. Ambas se tornarão velhas e decrépitas, e então você, bem como o macaco, ficarão a imaginar o que poderia ter causado a sua loucura. Ambas morrerão, e talvez você e o macaco então compreenderão a fatuidade da paixão. Sundarika não é diferente dessa macaca.”
Mas Nanda não estava ouvindo. Estava suspirando. Estava sonhando que via a esbelta e graciosa Sundarika vagando num jardim resplandecente em flores.
“Pegue a barra do meu manto!”, disse o Bem-Aventurado em tom imperioso.

Nanda obedeceu. Ele sentiu a terra de repente ceder sob ele, e um vento feroz o arrastou para o céu. Quando ele firmou os pés, ele encontrava-se num parque maravilhoso. Estava andando num caminho de ouro, e as flores eram jóias vivas, feitas de rubis e safiras perfumadas.
“Você está no céu de Indra”, disse o Bem-Aventurado. “Abra seus olhos cegos!”.
Nanda viu uma casa de prata brilhante circundada por um campo de esmeraldas. Uma Apsara, muito mais bonita que Sundarika, estava de pé na porta. Ela estava sorrindo. Enlouquecido pelo desejo, Nanda correu para ela, mas ela o deteve com um gesto abrupto.
“Seja puro na terra”, ela disse-lhe; “mantenha seus votos, Nanda. Após sua morte, você renascerá aqui; então poderá correr para meus braços.”
A Apsara desapareceu. Nanda e o Mestre retornaram para a terra.
Nanda esqueceu Sundarika. Estava assombrado com a linda visão que ele tivera nos jardins celestiais e, por amor à Apsara, decidiu levar uma vida pura.
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm