
A escola de Tien-t’ai é a única das escolas do Budismo Chinês que deriva seu nome de seu centro geográfico (Monte Tien-t’ai) e não de uma escritura central (como no caso da escola Hua-yen) ou do seu método de prática (como no caso da Ch’na ou Terra Pura). Isto lhe deu uma medida de estabilidade e continuidade, uma vez que aqueles que residiam no Monte Tien-t’ai sentiam a necessidade de manter vivas as visões e as práticas da escola. Isto lhe permitiu sobreviver mesmo à grande perseguição ao Budismo em 845 que destruiu todas as outras escolas, salvo aquelas altamente descentralizadas como Ch’na e Terra Pura. Chih-i foi sucedido por seu discípulo de vinte anos, Kuan-ting (561-632), que compôs comentários sobre o Sutra do Nirvana ao estilo Chih-i. O sexto patriarca, Chan-jan (711-782) foi fundamental na revitalização da (linhagem) Tien-t’ai após ela ter perdido algum terreno para as recém-surgidas escolas Hua-yen, Ch’na e as escolas esotéricas. Ele compôs comentários sobre as escrituras e trabalhos de Chih-i, e se lhe atribui também um interessante desenvolvimento doutrinário. Com base na doutrina de interpenetração da mente absoluta através de todos os fenômenos de Chih-i, e no seu termo ‘Natureza-de-Buda do Caminho-Médio’, Chan-jan asseverou que todas as coisas, tanto animadas como inanimadas, possuem a Natureza de Buda, e podem dessa forma atingir a iluminação. A escola floresceu grandemente sob a sua liderança. Duas gerações mais tarde, todavia, a perseguição de Hui-ch’ang de 845 eclodiu, e o complexo do templo no Monte Tien-t’ai foi destruído juntamente com sua biblioteca e manuscritos, e seu clero foi dispersado. A escola sofreu um abrupto declínio após isto, mas não morreu. Discípulos Coreanos atenderam aos clamores para trazer os textos e ensinamentos da escola de volta para a montanha, e a escola lentamente começou reerguer-se. Durante a Dinastia Sung, dois eminentes monges da Tien-t’ai, Ssu-ming Chih-li (960-1028) e Tsun-shih (964-1032) foram muito ativos não apenas na propagação dos ensinamentos da Tien-t’ai, mas no estabelecimento em larga escala de sociedades da Terra Pura entre os clérigos, e na educação de leigos.
Sssu-ming Chih-li também iniciou uma controvérsia que dividiu a escola Tien-t’ai em duas facções para os séculos vindouros. Iniciando-se no ano 1000, isso ficou conhecido como a controvérsia de Shan-chia (‘alto da montanha’, isto é, a escola ortodoxa) versus Shan-wai (‘sopé da montanha’, isto é, a escola heterodoxa), e que tocou em pelo menos quatro questões distintas quanto à autenticidade de uma determinada versão de um dos trabalhos de Chih-i, a colocação de uma doutrina específica do Surgimento Dependente (pratītya-samutpāda) dentro do ‘Ensinamento Distinto’ ou em outro lugar do arcabouço dos ensinos, a relação entre o mal inerente no princípio absoluto e o mal dentro dos seres em particular, e a natureza da Terra Pura. A controvérsia de Shan-chia x Shan-wai proveu a base para um fluxo constante de tratados e escrituras durante a dinastia Ming. Após aquele período, a escola acomodou-se numa existência tranquila, e ao fim da dinastia Ming, era menos uma escola autoestabelecida do que um conjunto de textos e doutrinas nos quais alguns estudantes buscavam especializar-se (embora certos clérigos ainda alegassem ser parte da escola T’ien-t’ai). Também, a partir do século 9, com a visita de Saichō à China em busca do Monte T’ien-t’ai, a escola veio para o Japão, onde tornou-se conhecida como escola Tendai, uma das maiores tradições do Budismo Japonês.
Fonte: DAMIEN KEOWN. “T’ien-t’ai.” A Dictionary of Buddhism. 2004.Extraído da Encyclopedia.com: http://www.encyclopedia.com/doc/1O108-Tientai.html
Tradução livre para português brasileiro por muccamargo.