Esta velha e decrépita casa pertencia a um homem que tinha saído,
mas não muito longe,
quando, subitamente,
os quartos de trás da casa incendiaram-se.
Simultaneamente, todos os quatro lados viram-se envolvidos pelas chamas furiosas.
As vigas, travessas, beirais e pilares estremeceram e racharam com o som da explosão,
partiram-se em pedaços e caíram,
assim como as paredes e divisórias ruíram e caíram.
Todos os demônios e espíritos guinchavam estrondosamente,
enquanto falcões, abutres e outros pássaros,
os Kumbhandas, e assim por diante,
corriam em pânico,
incapazes de salvarem-se.
Bestas malévolas e insetos peçonhentos escondiam-se em buracos e fendas,
enquanto demônios Pishacha,
que também ali residiam,
em razão de suas poucas bênçãos e virtudes,
eram duramente castigados pelo fogo
Eles agrediam-se uns aos outros,
bebendo sangue e comendo carne.
Como os bandos de chacais já estavam mortos,
monstruosas bestas malévolas disputavam entre si para devorá-los,
enquanto vagalhões de fumaça malcheirosa permeavam todos os quatro cantos.
Centopéias e vários tipos de serpentes venenosas,
queimadas pelo fogo,
brigavam para escapar de seus buracos.
Demônios Kumbhanda agarravam-nas e comiam-nas.
Além disso, todos os espíritos famintos,
com os topos de suas cabeças chamejantes,
atormentados pela fome, sede e calor,
corriam aterrorizados e aflitos.
Assim estava aquela casa:
aterrorizante ao extremo,
com inumeráveis perigos e conflagrações,
uma infinidade de problemas, não apenas um.
Naquela ocasião,
o proprietário da casa estava do lado de fora da porta quando ouviu alguém dizer:
‘Todas as suas crianças, há instantes atrás,
entraram naquela casa para brincar.
Sendo jovens e incautos,
eles se deleitam na brincadeira e apegam-se à diversão’.
Tendo ouvido isto,
o velho homem entrou apavorado na casa em chamas.
Com a intenção de salvá-las,
evitando que fossem queimadas,
ele advertiu suas crianças daquela infinidade de perigos e calamidades:
‘Os espíritos malévolos, os insetos venenosos,
a iminente conflagração,
uma infinidade de sofrimentos, em sucessão,
contínuos e sem interrupção[1].
[1] Eis uma boa descrição do “Inferno dos Incessantes Sofrimentos”. Seu lugar é o Mundo Tríplice; seu caminho é a ampla estrada de seis pistas, quais sejam os seis caminhos da existência, desde os estados da alegria e da tranqüilidade, onde se encontravam as crianças, até os mais baixos estados passando pela ira, animalidade, fome e inferno, todos descritos em detalhes; seus meandros são os três maus caminhos da existência, quais sejam a avareza, a ira e a estupidez; sua metáfora é uma casa decrépita em chamas; e sua saída é a estreita porta, a estrada de uma única pista, qual seja Grande Veículo que o Buda, utilizando-se de um meio hábil, prega como sendo três: Ouvinte (erudição), Pratyekabuda (absorção) e Bodhisattva.
Extraído do CAP. 03: A PARÁBOLA

