Gopa havia despertado nas profundezas da noite. Uma inquietação estranha a possuía. Ela chamou seu amado, Príncipe Siddhartha, mas não houve resposta. Ela se levantou. Correu pelos corredores do palácio; ele não se encontrava em lugar algum. Ela ficou assustada. Suas acompanhantes estavam dormindo. Um grito escapou dos seus lábios:
“Oh, malvado, malvado! Você me traiu! Você deixou meu amado fugir!”
As acompanhantes acordaram. Vasculharam todos os quartos. Não havia mais qualquer dúvida: o príncipe deixara o palácio. Gopa rolava no chão; arrancava os cabelos, e seu rosto mostrava as marcas de profundo desespero.
“Certa vez, ele me disse que iria embora, para longe, ele, o rei dos humanos! Mas nunca pensei que essa cruel separação viria tão cedo. Oh, onde está você, meu bem-amado? Onde está você? Não posso esquecê-lo, eu que estou desamparada, tão desamparada! Onde está você? Onde está você? Você é tão belo! Sua beleza é incomparável entre os humanos. Seus olhos brilham. Você é bom, é querido, meu bem-amado! Você não é feliz? Oh, meu querido, meu amado, para onde você foi?”
Suas acompanhantes tentaram em vão consolá-la.
“Daqui por diante, vou beber apenas para saciar a minha sede, vou comer apenas para matar a minha fome. Dormirei sobre o chão bruto, como coroa usarei uma trança de eremita, não tomarei mais banhos de essências florais, mortificarei meu corpo. Os jardins estão desnudos de flores e frutos; as guirlandas desbotadas estão pesadas com a poeira. O palácio está deserto. Não mais vibrará com as felizes canções de outrora.”
Mahaprajapati soube de uma de suas acompanhantes sobre a fuga de Siddhartha. Ela foi a Gopa. As duas mulheres choraram uma nos braços da outra.
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm