Naquela ocasião, o Honrado pelo Mundo, através do Bodhisattva Rei da Medicina, falou aos oitenta mil grandes senhores, dizendo: “Rei da Medicina, você vê dentro desta assembléia os ilimitados Seres Celestiais, Reis Dragões, Yakshas, Gandharvas, Asuras, Garudas, Kinnaras, Mahoragas, seres humanos e não-humanos; bem como Monges, Monjas, Leigos, Leigas, aqueles que estão procurando tornarem-se Ouvintes, aqueles que estão procurando tornarem-se Pratyekabudas, e aqueles que estão buscando a Via do Buda? Com respeito a esses vários tipos de seres, todos que na presença do Buda ouvirem não mais que um verso ou uma sentença do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa, ou que tenham mesmo que um único pensamento de alegria sobre ele, eu concedo profecias da sua futura consecução do Anuttara-Samyak-Sambodhi”.
O Buda disse ao Rei da Medicina: “Além disso, após a extinção do Tathagata, se houver alguém que ouça mesmo que um simples verso ou uma simples sentença do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa, ou que tenha mesmo que um único pensamento de alegria sobre ele, eu concedo-lhe igualmente uma profecia de consecução do Anuttara-Samyak-Sambodhi”.
“E ainda mais, se houver alguém que receba e ostente, leia e recite, exponha e ensine, ou faça cópias do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa, mesmo que seja um único verso, olhando para o texto do sutra com reverência como se ele fosse o próprio Buda[1], fazendo vários tipos de oferecimentos como flores, incenso, contas, incenso em pó, incenso em pasta, incenso para queimar, pálios de seda, estandartes, vestimentas e música, ou que simplesmente una as palmas das suas mãos em reverência; oh! Rei da Medicina, saiba que tal pessoa já fez no passado oferecimentos a dezenas de miríades de milhões de Budas, e na presença daqueles Budas, cumpriu seus grandes votos. É apenas por piedade aos seres viventes que esta pessoa nasceu em meio aos seres humanos”.
[1] Eis o que podemos entender como o Verdadeiro Objeto de Adoração para a era após a extinção do Buda. Esse Objeto é o próprio Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa, “ainda que apenas um verso”. Na Nitiren Shoshu, esse Objeto na sua forma mais concisa é o título do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa, que em caracteres chineses é Myoho-Rengue-Kyo.
Extraído do CAP. 10: Os Mestres da Lei.

De acordo com o seguimento religioso budista japonês conhecido como Nitiren Shoshu (Doutrina Ortodoxa de Nitiren), entre outras seitas japonesas baseadas nos ensinos de Nitiren (1222~1282), nascido e criado no Japão, prega-se que a recitação do título deste sutra em sua versão japonesa (conforme acima mencionado na nota de referência como: Myoho-rengue-kyo), é o veículo único para se alcançar a iluminação do Estado de Buddha, conforme amplamente explanado em sua doutrina que esclarece os termos desta recitação.
A doutrina pregada por Nitiren, fundamenta-se também em conceitos ecoados de outros eminentes sacerdotes que o antecederam séculos antes, e que enalteceram a invencível superioridade deste sutra. Entre estes, figuram o chinês Chi-i (538~597), popularmente conhecido como Grande Mestre T’ien-t’ai (cujo nome é derivado por ter residido no monte T’ien-t’ai), e aceito como o patriarca da escola chinesa T’ient-t’ai. Assim como o japonês Saityo (767~822), também conhecido como Grande Mestre Dengyo, e que é tido como o patriarca da seita chinesa T’ien-t’ai estabelecida no Japão como o nome Tendai.
O referido título (sânscrito: Saddharma-pundarika-sutra / pali: Saddhamma-pundarika-sutta), neste caso, trata-se da transliteração japonesa dos caracteres da versão chinesa de Kumarajiva, ou seja: Miao Fa Lien Hua Ching – a única versão composta de 28 capítulos dentre as 3 versões ainda existentes a partir do original pali. O mantra foi estabelecido por Nitiren no dia 28 do 4º mês do ano 1253 e, sendo um mantra, foi acrescido, como de costume, o termo chinês Namu (que significa “devotar” / “crer”), resultando no mantra proferido tal como segue: Nam-Myoho-rengue-kyo (literalmente: “Eu me Devoto a Doutrina da Lei Mística do Lótus). Por essa razão, não se diz “objeto de adoração”, mas sim: Objeto de Devoção. O termo devoção, aqui empregado, tem um profundo significado em termos da doutrina de Nitiren e seria necessário um aprofundamento muito maior no assunto que não se faz necessário por ora. A recitação deste mantra é chamado de Daimoku (Grande Visão), pois é meio de “abrir” os Olhos de Buddha [visão iluminada] em nossa vida.
Prezado Edrich Schmidt,
Nesta data comemorativa de 28/04/2008, aos 755 anos de tão importante acontecimento, quero agradecer esta nota muito esclarecedora de sua parte, e que vem em benefício de todos os que buscam aprofundar nos estudos.
Um grande abraço.