Meses passaram. Então, certo dia, a rainha sabia que a hora se aproximava para o nascimento do seu filho. Ela foi ao Rei Suddhodana, e disse-lhe:
“Meu senhor! Gostaria de caminhar feliz pelos jardins. Pássaros estão a cantar nas árvores, e o ar cintila com polens de flores. Gostaria de caminhar feliz pelos jardins.“
“Mas isto a cansará, oh rainha“, respondeu Suddhodana. “Você não tem medo?“
“O ser inocente que carrego em meu útero deve nascer em meio à inocência do desabrochar das flores. Não, eu irei, oh mestre, irei para os jardins em flores.”
O rei atendeu ao desejo de Maya. Ele disse aos seus criados:
“Vá para os jardins e embeleze-os em prata e ouro. Decore as árvores com pingentes preciosos. Tornem tudo magneficente por onde a rainha passará.“
Então, ele dirigiu-se a Maya:
“Arrume-se, hoje, em grande esplendor, oh Maya. Passeie num deslumbrante palanquin; deixe-se carregar pelas suas mais belas acompanhantes. Ordene aos seus serventes para que usem perfumes raros; que adornem-se com colares de pérolas e braceletes de pedras preciosas; que carreguem alaúdes, tambores e flautas; e cantem suaves canções que deleitem os próprios Deuses.“

Rainha Maya rumo à Lumbini, onde deu à luz o príncipe Siddharta. Fonte Wikipedia: Click na imagem para ir ao site de origem.
Painel do Lalitavistara, Borobudur, Indonésia
Suddhodana foi obedecido, e quando a rainha chegou aos portões do palácio, os guardas saudaram-na com alegre clamor. Sinos repicaram alegremente, pavões abriram suas esplendorosas caudas, e o canto dos cisnes ecoou no ar.
Eles chegaram a um bosque onde as árvores estavam em floração, em Lumbini, e Maya ordenou-lhes descansar o palanquin. Ela saiu e começou a perambular sem rumo. Estava feliz. E eis! Ela encontrou uma árvore rara, cujos ramos pendiam sob a carga de flores. Ela foi à árvore. Graciosamente estendendo a sua mão, ela tirou um ramo. De repente, ela ficou muito quieta. Sorriu, e as acompanhantes que estavam próximas a ela receberam uma linda criança em seus braços.
Naquele exato momento, tudo o que era vivo no mundo vibrou com alegria. A terra tremeu. Canções e passadas de pés dançantes ecoaram no céu. Árvores de todas as estações explodiram em flores, e frutas maduras pendiam dos galhos. Uma luz pura e serena apareceu no céu. Os doentes libertaram-se do seu sofrimento. Os famintos foram satisfeitos. Aqueles a quem o vinho embriagara tornaram-se sóbrios. Loucos recuperaram a razão, os fracos a sua força, os pobres a sua riqueza. Prisões abriram seus portões. Os ímpios purificaram-se de todos os males.
Uma das acompanhantes de Maya apressou-se ao Rei Suddhodana e exclamou alegremente:
“Meu senhor, meu senhor! Seu filho nasceu, um filho que trará grande glória para sua casa!“
Ele ficou sem palavras. Mas sua face estava radiante de alegria, e sentia grande felicidade.
Imediatamente ele conclamou todos os Shakyas, e ordenou-lhes acompanhá-lo ao jardim onde a criança havia nascido. Eles obedeceram-lhe e, com uma multidão de brâmanes em acompanhamento, formaram uma nobre comitiva que solenemente seguiu o rei.
Quando se aproximou da criança, o rei fez profunda reverância, e disse:
“Curvem-se como eu me curvo diante do Príncipe, a quem darei o nome de Siddhartha.“
Todos se curvaram, e os brâmanes, inspirados pelos Deuses, então cantaram:
“Todas as criaturas estão felizes,
e os caminhos percorridos pelos homens não serão mais acidentados,
pois é nascido,
aquele que concede a felicidade:
ele trará a felicidade para o mundo.
Na escuridão, uma grande luz resplandeceu,
o sol e a lua são como brasas,
pois é nascido,
aquele que concede a luz:
ele trará luz para o mundo.
O cego vê, o surdo ouve,
os tolos recuperam a sua razão,
pois é nascido,
aquele que restaura a visão, que restaura a audição, e restaura a mente:
ele trará visão, ele trará audição, ele trará razão para o mundo.
Zéfiros (brisa – ventos do ocidente) perfumados
aliviam o sofrimento da humanidade,
pois é nascido,
aquele que cura:
ele trará saúde para o mundo.
As chamas não são mais impiedosas,
as correntezas dos rios acalmaram,
a terra tremeu suavemente:
ele será o único a ver a verdade.“
A vida do Buda, tr. para o francês por A. Ferdinand Herold [1922], tr. para o inglês por Paul C. Blum [1927], rev. por Bruno Hare [2007], tr. para português brasileiro por Marcos U. C. Camargo [2011].
Fonte: Sacred-Texts em http://www.sacred-texts.com/bud/lob/index.htm
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