Liberdade

Romiseta
A Romiseta. Click na imagem para site de origem.

Aos sete anos de idade, estava na primeira série do ensino fundamental no Grupo Escolar do Quilômetro 18, em Osasco. Minha professora era Dona Giselda, que vinha de São Paulo numa Romiseta, em meio àquele barreiro, para lecionar. Era um aluno considerado brilhante, de sair no jornalzinho da escola e tudo. Certo dia, tive uma convulsão na sala de aula, cai ao chão e abriu-se aquela roda: cuidado com a baba dele! Dona Giselda se aproximou, me amparou e mandou chamar meus pais imediatamente. “Seu filho teve uma crise de epilepsia. É grave. A senhora, Dona Yolanda, deve levá-lo numa clínica especializada em São Paulo. Fica no bairro da Liberdade, ao lado do colégio Santo Agostinho.”

Meu pai Theóphilo conhecia bem São Paulo, e instruiu minha mãe, coitada, que tinha oito filhos para cuidar: “Você desça na estação Julio Prestes, pegue o ônibus Paraíso Circular, e peça ao motorista para descer no Colégio Santo Agostinho.” Guardei todas as instruções, e lá fomos.

Fui examinado, algumas recomendações à minha mãe, e um pedido de exame: eletroencefalograma. Aquilo parecia grego e, naquela ocasião, o único equipamento em funcionamento na América do Sul estava no Hospital Cruz Azul da Força Pública do Estado de São Paulo. Meu irmão mais velho, José Maria, era sargento da Força Pública, o que facilitou as coisas. Entrei em tratamento, sempre acompanhado por minha mãe nas consultas naquela mesma clínica, até completar 18 anos, quando deixei de tomar os medicamentos porque tinha sarado. Sim, sou um caso raro de epiléptico que sarou. Nunca mais tomei medicamentos. Foi ali, na Liberdade.

Aos dez anos, por vontade de meu pai, em Sessão Magna ocorrida a 19 de janeiro de 1962, fui adotado na Loja Maçônica Virgílio Nascimento da Grande Loja do Estado de São Paulo, recebendo o título de Lowton (Lótus). A Loja Virgílio Nascimento, à qual meu pai frequentava às terças-feiras, ficava ali na Rua São Joaquim, na Liberdade.

Aos dezesseis anos, estudando na Escola Técnica Federal de São Paulo, herdei do meu irmão Guarani um emprego de Office-Boy num escritório de advocacia no Largo do Café. Meu irmão tivera sido chamado para prestação de serviço militar obrigatório, e eu fiquei com emprego dele. Diariamente, eu ia fazer o acompanhamento de processos para o Dr. Garcia ali no Fórum da Praça João Mendes, na Liberdade.

Quando no último ano da Escola Técnica, então com dezoito anos, conquistei uma vaga de estagiário na General Motors do Brasil S.A., após exaustivos testes aplicados nos formandos daquele ano de 1970. Selecionaram quatro alunos, eu era um deles. Vinha de Osasco até o largo de Pinheiros. Ali pegava o ônibus da Companhia, cuja linha entrecortava os bairros da Liberdade, Vila Mariana e Ipiranga, em direção a São Caetano do Sul no ABC paulista. Mesmo depois de adquirir meu primeiro carro, fiz esse trajeto diariamente durante os cinco anos em que trabalhei na GM. Tornei-me familiarizado com tudo por ali, na Liberdade.

Prestei vestibular para Física na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, passei no vestibular e fui estudar no Centro de Física e Matemática da PUC, que ficava ali na Rua do Carmo, entre a Tabatinguera e a Praça Clóvis Bevilácqua, região limítrofe da Liberdade. Ali cursei os meus cinco anos do Bacharelado em Física.

No início de 1976, então com 24 anos e recém formado, conquistei uma vaga de estágio no Centro de Controle de Operações do Metrô de São Paulo, o qual ficava junto à Estação Paraíso da linha norte-sul. Lá estava eu de volta à Liberdade. Caminhava solitário por ali nos intervalos para almoço, sem dinheiro para uma refeição, comia alguma coisinha e caminhava muito para gastar o tempo. Isto foi até meados de 1976, quando ganhei uma bolsa de estudos para o Mestrado no IPEN – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares que, na ocasião, pertencia à USP – Universidade de São Paulo.

Casei-me com uma Budista da Nitiren Shoshu em 1980. O templo e o centro cultural dessa religião ficavam no bairro da Liberdade. Por que tantas coisas importantes da minha vida aconteceram ali?

Nesse ano de 1980, fui pata São José dos Campos, onde trabalhei no IEAv – Instituto de Estudos Avançados do CTA – Centro Técnico Aeroespacial. Por ali permaneci três anos. Fui para o CTI – Centro Tecnológico para Informática em Campinas, órgão da SEI – Secretaria Especial de Informática do Governo Federal. Morei quatorze anos em Campinas. Voltei para Osasco por três anos e segui para Belo Horizonte no ano 2000. Neste 2012, voltei para conquistar a minha Liberdade.

Liberdade
Liberdade

Continua no próximo episódio semanal de:

A História da Tradução do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa

por Marcos Ubirajara de Carvalho e Camargo.

Episódios Anteriores:

O Fato Motivador da Tradução do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa

O Último Dia

O Avatar

Um Novo Original do Sutra de Lótus

O Lótus Azul

A correspondência com a BTTS

A Criação dos Blogs e os Primeiros Volumes do Sutra de Lótus

A Decisão por uma Autopublicação do Sutra de Lótus

A Nitiren Shoshu

Missiva a Mattuzalem Lopes Cançado

Missiva a William Garcia

Um Novo Trabalho

Uma Nova Edição do Sutra de Lótus

A Tempestade

O Apoio Institucional do Budismo Primordial

O Encontro com o Budismo Primordial

Por muccamargo

Físico, Mestre em Tecnologia Nuclear USP/SP-Brasil, Consultor de Geoprocessamento, Estudioso do Budismo desde 1987.

1 comentário

  1. Sou suspeito para falar sobre meu irmão numero 3 do segundo casamento do nosso pai.
    Suspeito para falar sobre o que considero o gênio dentre os meus irmãos.
    Existem outros muitos inteligentes, mas o Marcos, na minha avaliação, superou tudo é todos.
    Eu, acrescentaria algo mais em sua biografia. Para mim, ele é a prova maior de que LIBERDADE, não é dádiva, é conquista.
    O Marcos, dedica a mim, uma amizade e um respeito que me emociona, me lisonjea e me orgulha demais. Talvez, por isso, a maior suspeição para falar sobre esse meu irmao.
    Na verdade, ele fala por si mesmo. Não há nada que eu pudesse acrescentar para engradece-lo.

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