“O que é fé? O Bodhisattva-Mahasattva acredita que existe recompensa nos Três Tesouros e na doação. As duas realidades [isto é, a relativa e a ultimada] e a Via do Veículo Único [‘ekayana’] não são diferentes. Ele acredita que todos os Budas e Bodhisattvas desdobram as coisas em três, de tal maneira que todos os seres alcancem rapidamente a Emancipação. Ele acredita na ‘Paramartha-satya’ [‘a verdade da Realidade Última’] e nos bons meios hábeis. Isto é fé.
Uma pessoa que assim acredita não pode ser derrotada por quaisquer Shramanas, Brâmanes, Marapapiyas, Brahma, ou quem quer que seja. Quando uma pessoa baseia-se nessa fé, ela ganha a natureza de um sábio sagrado. Ela pratica a doação – quer seja grande ou pequena – e tudo isto leva ao Mahaparinirvana, e dessa forma essa pessoa não cai no (ciclo do) nascimento e morte. O mesmo se passa com a observância dos preceitos morais, com a audição da Via, e com a Sabedoria, também. Isto é fé.”
Sutra do Nirvana, Capítulo 32, sobre o Bodhisattva Rei Altamente-Virtuoso 6.

“A fé conduzida pela idolatria ou pelo fanatismo
exclui o raciocínio e faz com que o homem tema ao seu Deus ao invés de amá-lo em espírito e em verdade, isto é, com o pensamento e a razão e não através da estatuária mais ou menos grosseiro do barro, da madeira ou do ouro que podem deslumbrar a vista dos simples e dos desavisados, mas que ferem paradoxalmente a harmonia dos seres, quebrando a linha reta e o ritmo de arte, de perfeição, equilíbrio e de beleza, mesmo que para sugestionar-se admitam adolescentes com asas e corações fora do peito. Chega-se a Deus ou se distancia dele pelo pensamento ou pela ação. A prece não carece de intermediário. Ela atinge ao infinito antes mesmo que os lábios articulem uma só palavra…
A prece é o banho do espírito, higieniza-o, estimula-o, vence fadigas. O hábito da prece produz corações limpos. A melhor prece é aquela que, na comoção do momento, os próprios lábios emudecem. O pensamento é como o ouro no estado nativo: a palavra é liga de metal que conquanto indispensável o torna menos precioso.
Deus compreende na eloqüência dos silenciosos o que de mais sutil paira em nosso pensamento, contribuindo um ideal ou acalentando a uma esperança.
Dá às Tuas criaturas no amor, a felicidade plena da confiança e da amizade aos que não crêem em Ti e por isso tem o coração aflito, ampara-os e renova-os com a sedução da Tua divina luz. O reino do amor é o Teu reino.
Só crê o que ama; só ama o que em verdade se inflama ao onipresente calor da Tua realeza.
Dá que sejamos em Ti livres de pensar, limpos de coração, simples, leais e honestos. Que a tua generosidade nos alcance e ampare em todos os caminhos da nossa vida, desde o sorriso casto dos que nascem até o ultimo alento da vida do que se extingue. Que a Tua luz espante as trevas do desespero e da descrença e que a tempestade de ódio e de vingança que envolve o mundo para dividi-lo e ensangüentá-lo, se transforme num dia claro de sol, na imensa majestade do Teu império de bondade, amor, de justiça e, sobretudo de tolerância e de caridade.
(Theóphilo Fortunato de Camargo)